Supergrupo canadense retorna com ótimo álbum
The New Pornographers – Continue As a Guest
41′, 10 faixas
(Merge)
Sempre que ouço um disco dos canadenses do New Pornographers pela primeira vez, tenho a mesma sensação. “Nossa, que músicas estranhas, isso não é powerpop, é meio esquisito e tal.”. Quando termino a segunda passada pelas faixas, já consigo reconhecer totalmente o mérito dos caras e, na terceira, já parti para o abraço no meio da galera. Não foi diferente com este novíssimo “Continue As A Guest”, que o grupo de A.C Newman, Neko Case, Todd Fancey, John Collins, Katryn Calder e Joe Seiders lança agora. São dez faixas muito bem encadeadas e que se inserem neste rótulo “powerpop existencial”, porque não se trata apenas de melodias ensolaradas, harmonizações vocais e clima de verão eterno nas nossas mentes e corações. O que os NP entregam aqui – e em todos os seus ótimos álbuns anteriores – é uma sonoridade cheia de detalhes, com letras que podem – ou não – conter piadas e humor negro, mas que, na maioria das vezes, sinaliza um grupo muito bem azeitado de compositores.
Um dos verdadeiros triunfos do álbum é que ele consegue misturar os floreios pop bem polidos de sempre com uma bem-vinda vontade de revisitar algumas esquisitices que a banda costumava imprimir em sua sonoridade nos primeiros anos da carreira. Esse movimento dá, ao mesmo tempo em que confere essa esquisitice, uma sensação de familiaridade estranha. Ou seja, tudo está em seu lugar certo, vinte e poucos anos depois. Duas boas canções ilustram esta afirmação: “Bottle Episodes”, que tem uma estrutura melódica que nos dá a certeza de que estamos diante de uma canção obscura da adolescência, mas que tem a cor e cara inegáveis de 2023. E tem a ótima “Pontius Pilates Home Movies”, que mistura metais e um andamento que oscila entre o krautrock e a new wave, com solenidades e detalhes instrumentais que fazem a diferença.
É desse jeito que fazemos o percurso pelas dez faixas que compõem “Continue As A Guest”. Com a impressão de que nada é exatamente o que parece. O primeiro single, “Realy, Realy Light” é uma típica canção geracional dessa galera. Assim como bandas contemporâneas – The Shins, Grandaddy etc – há uma melodia sólida e acessível sob um arranjo que privilegia teclados, guitarras e abordagens que evitam qualquer tipo de mesmice. “Cat And Mouse With The Light”, a canção seguinte, deixa essa lógica de lado em favor de um clima quase lúdico que vai sendo envolvido por guitarras, vocais e efeitos, tudo numa melodia de sonho, num dos melhores momentos do disco. “Last And Beautiful” já investe numa sonoridade mais rock e conduzida por guitarras e efeitos, no momento mais, digamos, “pesado”, deste novo trabalho.
A faixa-título já vai por um caminho mais esparso, com um arranjo que vai se formando aos poucos, com intervenções de metais e teclados, desaguando numa levada em midtempo, com bons vocais e um belo riff de saxofone. “Marie And The Undersee” tem uma atmosfera de sonho conduzida pelos vocais femininos e por um arranjo que vai colocando guitarras e percussões no meio do caminho, oferecendo uma sensação que clímax inevitável logo à frente. “Angelcover”, outro single, é uma das melhores canções de 2023 desde já. Tem vocais multiplicados, uma levada pós-punk subvertida em meio a detalhes sonoros que vão se dobrando e criando um clima de tensão. Quase chegando no fim, uma pausa para outra bela e doce canção, “Firework In The Falling Snow”, que tem cara de faixa de trilha sonora de série do início dos anos 2000, tipo “House” ou “The O.C”. E o álbum fecha com a psicodélica e surpreendente “Wish Automatic Suite”, a mais powerpop das canções presentes aqui.
“Continue As A Guest” traz a certeza da excelência do trabalho dos New Pornographers, uma banda que não tem disco ruim lançado. Confira os outros oito álbuns que eles lançaram e comprove. E veja como este lançamento está no mesmo nível dos antecessores.
Ouça primeiro: “Angelcover”, “Wish Automatic Suite”, “Bottle Episodes”, “Firework In The Falling Snow”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.
Descobri essa banda no blog do saudoso Kid Vinil quando eles estavam lançando o terceiro disco, e de lá pra cá compro todos seus lançamentos, e esse cd já está encomendado hehe….só aguardando os correios me entregar……