Rock In Rio – Resumão 08 de setembro

 

 

E retornou o Rock In Rio para a sua segunda semana. Um dia morno, com duas atrações que geram expectativa entre novos e velhos fãs de rock: os italianos do Maneskin, banda italiana que chega ao festival com banca de novíssima sensação e o velhusco e ultrapassado Guns’n’Roses, insistência pura de Roberto Medina e de uma horda de fãs que pensam que o rock acabou em 1993. Entre estes dois extremos, algumas atrações interessantes, especialmente outra formação já veterana, mas que soube envelhecer com muito mais graça e vivacidade: The Offspring, além de duas jovens cantoras brasileiras no Palco Sunset, Duda Beat e Glória Groove. Pois bem, vamos aos shows.

 

 

Duda Beat abriu os trabalhos no Palco Sunset e levou – assim como todas as novas cantoras e cantores nacionais – um espetáculo turbinado com mil figurinos, coreografias, balés e tudo mais. Confesso que prefiro menos distração e mais música, mas a cantora pernambucana soube dosar bem os apelos visuais e fez um bom show, especialmente quando confirmou a admiração da plateia por ela ao cantar seu grande hit, “Bichinho”. Os fãs deliraram.

 

 

Em seguida veio a talentosa Glória Groove, ou, como é conhecida pelos admiradores, “Lady Leste”, em alusão às suas origens na Zona Leste paulistana. Outra com um palco tumultuado, com naipes de cordas, balés, figurinos e elementos cênicos, Glória conseguiu dominar bem a quantidade de informação e mandou ver em seu repertório, atingindo ótimos resultados com “Bonekinha”, “Vermelho” e “Leilão”, cantadas a plenos pulmões pelos presentes. Teve espaço até para uma cover de “Exagerado”, de Cazuza, interpretada com respeito. Bom show.

 

 

A esta altura, o Palco Mundo já iniciava suas atividades com o lamentável CPM22, fazendo aquele hardcore melódico à la Henrique Fogaça, com “atitude” e “relevância”. Fato misterioso é que o grupo paulista é muito conhecido e querido por seu público, o que gera vergonha alheia em grau elevado. Como o mundo é injusto, arrancaram um sorriso amarelo deste que vos escreve quando levaram a querida “Regina Let’s Go”, canção que eu gosto, fazer o que. Foi um dos muitos shows esquecíveis do Rock In Rio, ocupando o maior palco do evento com algo totalmente desnecessário.

 

Foi o tempo do CPM22 encerrar a apresentação e a elegante cantora inglesa Corinne Bailey Rae subir no Palco Sunset e mandar sua mistura levíssimos teores de jazz, pop e funk setentista em tonalidades pastel. Corinne tem boa voz, é simpática e gente boa, mas sua música é pouco mais que genérica e, quando é boa, lembra um monte de outras cantoras mais talentosas e com mais presença. Mas tudo bem, ela convenceu pela sinceridade e pela boa banda que a acompanhou. Teve espaço para uma cover simpática de “Is This Love”, de Bob Marley e a aclamação de seu maior sucesso, a brejeira “Put Your Records On”. Legal, mas esquecível.

 

 

O Palco Mundo recarregou as baterias e abriu espaço para o Offspring, uma das bandas mais simpáticas dos anos 1990, dona de sucessos que chegaram a rivalizar com o Green Day naqueles tempos. Dexter Holland, Noodles e companhia mandaram logo “Come Out And Play” como segunda canção do show, mas a equalização do som parecia muito ruim. A voz de Holland – cansada já – falhava o tempo todo e a bateria não era ouvida, soterrada e abafada na mixagem ruim. O público pogou e cantou em momentos ótimos como “Pretty Fly (For A White Guy)”, “Gotta Get Away”, “The Kid Aren’t Alright” e na engraçada “Why Don’t You Get A Job?”.

 

 

A esta altura do campeonato, já era tempo da cantora britânica Jessie J adentrar o Palco Sunset com seu pop motivacional. O que é isso? Jessie canta uma música e fala por uns cinco minutos com a plateia, dando mensagens motivacionais. Há quem goste. Durante a primeira parte do show, a moça, que substituiu Joss Stone, investiu nas baladas coach, com recepção razoável do público. Quando decidiu colocar um pouco mais de energia e puxar canções mais animadas, como o sucesso “Bang Bang” e “Price Tag”, sem falar na hora em que emulou um trecho de “Sex Machine”, de James Brown. Há quem goste, mas Joss Stone faria um show mais consistente e interessante.

 

 

Com o encerramento das atividades no Palco Sunset, foi a vez do Maneskin ganhar o Palco Mundo. Com uma numerosa parte da plateia indo lá para ver o quarteto italiano, foi fácil para Damiano David, Victoria De Angelis, Thomas Raggi e Ethan Torchio jogarem com a partida ganha. E também é fácil entender o fascínio que o grupo exerce nessa galera. Com uma energia adolescente inesgotável, os quatro não pararam um só instante sobre o palco, usando de todos os clichês possíveis em uma apresentação de “rock” para as massas. Desceram e subiram na plateia várias vezes, se atiraram na multidão, emularam ato sexual, tiraram roupa, falaram palavrão e meteram covers no repertório – de Britney Spears a Queen, passando por The Who e The Stooges e The Four Seasons, cuja “Beggin'” é o grande sucesso mundial dos sujeitos. A galera delirava a cada movimento e o grupo levou um contingente de fãs coletado ao longo da apresentação para subir no palco ao fim do show. Fazer o que? O Maneskin é simpático, descolado e dá o sangue, ainda que isso seja milimetricamente planejado e bem ensaiado. É um grupo que só quer diversão e oferece esse teatro rocker para dummies como recompensa. É animado, divertido como comer um Big Mac. Mas está longe de alimentar e não deve – não deveria – ser levado a sério.

 

 

E o Guns’n’Roses fechou o Palco Mundo com a confirmação inescapável de que é uma banda que já deveria ter encerrado suas atividades há muito, muito tempo atrás. Com um Axl Rose irreconhecível e com voz lembrando a falecida comediante paulista Nair Bello nos melhores momentos da noite, o grupo ofereceu uma necroparódia de si mesmo, com artifícios manjadíssimos para distrair a atenção do público em relação à escassez vocal de seu cantor, em vão. Slash e Duff McKagan até tentaram alguma coisa, mas não há tédio que seja vencido por esta picaretagem máxima que é uma apresentação do Guns hoje em dia. Não adianta colocar megasucessos como “Welcome To The Julnge” ou “Live And Let Die” no setlist, tampouco mandar uma canção do Velvet Revolver – “Slither” – ou mesmo insistir em “Chinese Democracy” no setlist, o Guns é um zumbi de Walking Dead na última temporada da série – bem decomposto e sem sentido. No dia 9 a coisa parece ser mais divertida, especialmente pelas presenças de Billy Idol e Green Day no grande palco. A conferir.

 

Fotos: G1

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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