Ride – This Is Not A Safe Place

 

 

Gênero: Rock alternativo
Duração: 50 min
Faixas: 12
Produção: Erol Alkan
Gravadora: Wichita

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

Cá está o Ride lançando disco novo. É um prazer que se tornou raro ao longo do tempo, visto que o quarteto de Oxford encerrou suas atividades em fins dos anos 1990 e só voltou há dois anos. Neste espaço de tempo, Andy Bell, guitarrista e vocalista, pegou o posto de baixista no Oasis e lá teve sua posição mais duradoura. Teve envolvimento em bandas secundárias, como o Hurricane #1, mas, ele sempre será conhecido como “o cara do Ride”. Este “This Is Not A Safe Place” chega para confirmar que o grupo está vivo e bem, mantendo sua musicalidade ativa e, por quê não, abrindo-se a novas influências.

 

Por “novas”, não vá entender algo cronologicamente recente. O Ride não está fazendo trap ou algo assim – graças a Deus – mas está abrindo suas tonalidades cinzentas e tributárias do shoegaze para que se deixem levar por cores leves e sutis aqui e ali. E isso é bem vindo. Há uma certa vontade de ser The Cure e/ou Echo And The Bunnymen ao longo das faixas do álbum o que, para o Ride, soa como um alívio temático e uma abertura a céus mais azuis. Também é detectável uma saudável despreocupação em agradar eventuais fãs ranhetas. Pense: nada mais chato do que shoegazers velhos e cobradores de uma retidão artísticas. Aliás, Andy e seus amigos já haviam sinalizado no álbum anterior, o ótimo “Weather Diaries”, que vinham para atualizar o Ride, ainda que mantivessem o cuidado de preservar o espírito da banda. Eles seguem fiéis a isso no novo trabalho.

 

Há algumas faixas muito bonitas por aqu. “Future Love”, por exemplo, é uma belezura à beira-mar, algo que poderia ser feito por gente moderninha como o Real Estate, por exemplo. Tem guitarras fluidas, céu cinzento e uma caminhada nas areias brancas da imaginação em busca de explicações para a crueldade da vida moderna. Tem – veja você – uma canção quase tecnopop, a interessante “Repetition”, que parece Ride fazendo cover de Yazoo ou outra formação oitentista, mas com produção de um Brian Eno em dia de bom humor e feliz da vida. Funciona e oxigena.

 

À medida em que as canções vão surgindo, novas e velhas lembranças dão conta de suas origens. A ótima “Jump Jet”, por exemplo, é algo que Robert Smith não teria qualquer vergonha em assumir como sua. Até o arranjo e a levada de violões/guitarras evocam o The Cure pré-fama, lá por 1981/82, quando sofria de melancolia dark. Tem instrumental eletrônico protocolar em discos que se supõem ousados, caso de “R.I.D.E”, que abre os trabalhos com um flerte que dança-mas-não-sai-do-salão em relação ao hip-hop. E tem melodias que escorrem pelas mãos trêmulas após um fim de relacionamento, caso explícito de “End Game”. E tem épico de mais de oito minutos de duração para encerrar o disco, “In This Room”, com belo arranjo trovejante e contemplativo.

 

“This Is Not A Safe Place” é um ótimo atestado de continuidade de uma banda disposta a manter-se viva e bem. Não é mais o Ride dos anos 1990, que tinha pérolas como “Twisterella”, nem poderia ser. Quem de nós faz a mesma coisa que fazia há quase trinta anos? O que temos são as mesmas pessoas, fazendo ótima música e isso já é bom demais.

 

Ouça primeiro: “Future Love”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *