Marcelo Falcão – Viver (Mais Leve Que O Ar)

Gênero: Pop, Reggae
Duração: 66 min.
Faixas: 13
Produção: Falcão e Felipe Rodarte
Gravadora: Warner Music

2.5 out of 5 stars (2,5 / 5)

O quê Marcelo Falcão tem a dizer ao longo dos 66 minutos de sua estreia solo? Há as declarações e as falas subentendidas, você pode escolher. Também há aquelas situações que parecem “dar com a língua nos dentes”, involuntárias, mas que gritam em vários momentos do álbum. Basicamente ele quer falar de amor, de contemplação e da felicidade que é ter uma outra banda, pisar na areia de uma outra praia. Chega de letras com crítica social, com preocupações com a realidade, o negócio é dar um tempo, olhar em volta e ver o mundo maravilhoso que está à nossa volta.

Outras falas vão surgindo. Falcão montou uma banda com nomes legais como Bino Faria (baixo, Cidade Negra) e João Fera (teclados, Paralamas), além de metais, efeitos, a volta do DJ Negralha, todos numa missão: conferir uma sonoridade reggae que suporte as letras do cantor. O resultado ultrapassa a expectativa, nos fazendo desejar que “Viver (Mais Leve Que O Ar)” seja, muitas vezes, um álbum instrumental. A maçaroca sonora é de boa qualidade, melhor que letras e vocais. Também fica claro que o disco tem pinta de “grande investimento” por parte da gravadora, que proporcionou condições para arregimentar a tal banda, além da produção espertíssima e participações de Artur Verocai nos arranjos e de Lula Queiroga, no dueto “Viver”.

A questão maior é: quem tem interesse em ouvir Marcelo Falcão? A culpa nem é dele, sua banda pregressa, O Rappa, teve seu apogeu nos primeiros três discos, muito por conta da presença de Marcelo Yuka, principal letrista, baterista, recentemente falecido, cuja vida se confundia com as tais críticas sociais e visões reflexivas do mundo. Ver Falcão falando de religião e liberação das drogas, de amor e escapismo, tudo dentro de uma moldura sonora muito próxima do que fazia a antiga banda, é propor um exercício de malabarismo lírico para o ouvinte. Claro, sempre teremos os interessados de passagem, mas é difícil um fã de, vejamos, “Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro”, se interessar pelos mais de oito minutos de “Eu Quero Ver O Mar” ou por “I Don’t Wanna Be King”.

Não vão faltar aparições de Falcão na mídia, certamente em programas como Encontrou ou Altas Horas, que darão um aval maroto para esta “nova fase” do cantor, querendo fazer a audiência crer que “dar um tempo” foi uma boa saída, necessário e tal. Daí veremos Falcão exaltando o amor, a religião e a beleza de deixar tudo pra trás, para cair no noticiário da reforma da previdência, dos desmandos do governo Trump…

Não colou.

Ouça primeiro: qualquer faixa dos primeiros três discos do Rappa

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

2 thoughts on “Marcelo Falcão – Viver (Mais Leve Que O Ar)

  • 21 de fevereiro de 2019 em 11:40
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    Ah, você foi gentil…
    Nada de novo nesse front aí. Aliás,nem no outro, já tinha virado uma versão pobre e repetida dele mesmo. Olha que curti muito O Rappa, exatamente nos três primeiros. Mas desenvolvi uma má vontade com esse cara desde quando assisti o Caminho das Setas. Sacaneou o Yuka.
    Porra, tenho uma versão da oração de São Francisco? (Parei!)

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  • 21 de fevereiro de 2019 em 11:01
    Permalink

    Gostei do trecho sobre aparições na mídia. É o que se espera de um “grande investimento”. E da TV para as arenas da Barra da Tijuca.

    Resposta

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