Raridades de Neil Young pipocando por aí

 

 

A gente sabe que a carreira de Neil Young é eterna e importantíssima. Do mesmo jeito que é cheia de lançamentos truncados, álbuns abortados, EPs confusos, ou seja, uma bagunça danada. Mesmo assim, desafiando os que têm TOC com relação à arrumação e cronologia, o velho canadense vai corrigindo essas incongruências aos poucos e promete dois lançamentos de alto impacto para fãs nos próximos dias. Dois itens disputados e desejados estão prestes a ganhar relançamento: o álbum ao vivo “Time Fades Away”, de 1973 e o EP “Eldorado”, de 1989. Além deles Young lançou um álbum intitulado “Toast”, no qual traz algumas canções que ficaram de fora das sessões do bom disco “Are You Passionate”, de 2002. Sim, é uma festa para youngmaníacos por todos os cantos.

 

 

“Time Fades Away” foi gravado ao vivo, durante a turnê de 1973, que divulgava o álbum “Harvest”, lançado no ano anterior. A banda que acompanhava Neil nos palcos era The Stray Gators. Na época, as faixas do álbum eram inéditas e trazia participações de Graham Nash e David Crosby em uma faixa. Ainda que apostasse no ineditismo, mesmo ao vivo, o álbum não foi um sucesso comercial, muito por conta das performances de Neil à época, muito comprometidas pelo uso extenso de drogas e pelos vários problemas pessoais que ele vivia então. “Time Fades Away” ficou perdido no catálogo do canadense por mais de quatro décadas, só chegando a ganhar uma edição em CD em 2017, quando foi inserido numa das caixas quádruplas de relançamentos de Neil, as Official Release Series, saindo de catálogo em seguida. Sendo assim, cinco anos depois deste relançamento, o álbum finalmente sai em CD avulso, certamente um marco para os fãs.

 

 

“Eldorado” é outro item bem conhecido dos admiradores de Young, tendo sido lançado apenas no Japão e na Austrália em 1989. Eram cinco faixas inéditas, sendo que três delas apareceriam – com mixes diferentes – no álbum “Freedom”, lançado naquele ano: ‘Don’t Cry’, ‘On Broadway’ e ‘Eldorado’. Completam o álbum outras duas canções que permaneceram inéditas até agora – ‘Cocaine Eyes’ e ‘Heavy Love’. O EP foi incluído em abril deste ano numa dessas edições quádruplas de relançamentos e, assim como “Time Fades Away”, ganha sua primeira versão em CD avulso. A data para ambos os discos chegaram às lojas é 12 de agosto.

 

 

 

Até lá, os fãs podem matar a saudade de ouvir raridades do Véio com “Toast”, um álbum que já foi lançado e que traz canções que ficaram de fora de “Are You Passionate”, de 2002, um trabalho que Young gravou com a participação do seminal tecladista e organista Booker T Jones e sua banda, The MG’s. São sete canções presentes e que têm uma justificativa forte para serem relançadas: elas foram gravadas com a banda habitual de Young, o Crazy Horse, antes dos MGs entrarem em estúdio para as gravações, o que deu ao álbum um tom conceitual tristonho e baladeiro, intencionalmente pensado pelo canadense. Com o grupo de roqueiros barra-pesada, as canções mudam de figura, algo que transparece na melhor gravação do álbum – “Mr Disappointment” – que ressurge aqui com outro nome, “How Ya Doin’ e um arranjo mais encorpado que o original, mais elegante. Outros destaques são a versão Crazy Horse de “Quit” e “Going Home”, mais pesadas, além de “Standing in the Light” e da maravilhosa “Gateway of Love”, inédita. E, para fechar a conta, um épico de 13 minutos, chamado “Boom Boom Boom”, que tem semelhanças com a versão que entrou no álbum original, “She’s a Healer”, mas, onde a original tem certo clima de improvisação jazzy, esta nova-velha leitura mostra um típico momento Crazy Horse em faixas enormes e viajantes.

 

Estes relançamentos mostram como Neil Young é um artista inquieto, criativo e mesmo caótico em seu trabalho. Ele muda de pele, de forma e de constância, mas sua carreira é cheia de acertos impressionantes. Por isso seu crédito é enorme e sempre estaremos ansiosos para ouvir suas velhas novidades inéditas.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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