Quem é que tem um monte de pintinhas?

*colaborou Diana Amâncio

Existe no universo audiovisual brasileiro uma produção que fala praticamente com todas as famílias – ou pelo menos as famílias com crianças pequenas. É uma família é muito unida e também muito ouriçada. Cada episódio é um retrato fiel da família brasileira.

 

E é uma família brasileira que não aguenta mais ver o mesmo episódio da Galinha Pintadinha.

 

E olha que as histórias são boas.

Quando minha filha nasceu, eu, mãe cult bacaninha, estava disposta a preservar a criança da histeria da Galinha Pintadinha: tudo muito colorido, músicas com voz super aguda, superestímulo visual e auditivo, vamos ouvir MPB para crianças e especiais da TV Cultura.

Mas ser mãe é um eterno cuspir pra cima e cair na testa. Quando vi, não apenas a criança estava apaixonada pela Popó: eu também.

Como não se identificar com a história do pintinho que toca o zaralho na hora de dormir, chora e capota bêbado de sono? Quem nunca passou por isso?

Como não se VER na galinha que precisa livrar peso da bolsa pro balão subir, e descobre uma BIGORNA na bolsa?

Como não shippar a galinha e o galo no episódio do dia dos namorados? Tudo dá errado, mas ela ama pipoca e ele fica super feliz com o poleiro torto mesmo, porque eles se amam?

Quem é que tem a pena azulzinha?

A gente até aceita as músicas. E nem é porque a criança está quieta enquanto você pode arrumar a cama, não. É porque são… ok.

Não é um lá um Bita, não tem produção do Hélio Ziskind, não tem o Paulo Tatit e a Sandra Peres, não tem o trabalho de percussão de um Tiquequê ou Barbatuques, Vera Fuzaro canta bem mas não é nenhuma Fortuna – mas vá lá, a criança AMA “Borboletinha”, “Tumbalacatumba”, “A dança do patinho”, e a introdução de “Samba lelê” dá vontade de sair dançando por aí.

E, afinal, se minha filha está feliz, quem sou eu para tolher sua felicidade?

Quem é que, quando canta, faz “Pó pó pó”?

Existe a Galinha Pintadinha e a Galinha Pintadinha Mini. E na versão Mini o traço é mais simples, as cenas têm menos detalhes (afinal, precisa ser perfeitamente vista numa tela pequena), as transições são um dedinho arrastando a tela.

Os caras tiveram a grande sacada de fazer uma versão MOBILE do produto. Porque eles simplesmente perceberam muito rápido que o público da Galinha Pintadinha consumia o conteúdo pelo celular. Uma boa sacada. Genial, eu diria.

Mas… e o episódio novo?

Chamei minha filha de dois anos recém-completos pra fazer a resenha comigo. Já na abertura, ela ficou muito feliz quando viu sua família preferida.

A história:

– IH!
– Olha, filha! Balões! Esse você não viu ainda!
– Pintinho! Balões! O galo!
– Olha, filha! O pintinho está no avião!
– Avião!
– Ih! A galinha vai voar também!
– IH! Caiu!

 

O Ovo Surpresa

– Meia!
– Ih, filha, acho que é um abacaxi.
– Acabxi?

As Naftalinas

 

Haha. Não tô crendo nisso. Acho que eu gostei mais do que ela, quando percebi o desfecho do esquete. “Com uma faca na mão… passando manteiga no pão!”. Isso é da minha época. Uma vez eu vi uma palestra do Jorge Peregrino, da UIP, no Fórum do Festival Internacional de Cinema Infantil. Ele falava uma coisa óbvia, mas que de tão óbvio passa batido: esquece conteúdo infantil. Você tem que pensar conteúdo para a família. Mas é claro. Nenhuma criança pequena vai ao cinema sozinha. Mesmo televisão, que já virou uma espécie de babá, o primeiro decisor do conteúdo é o cuidador (depois a criança acostuma, pede desenhos, mas quem decide o que vai mostrar é o adulto). O conteúdo tem que cativar a gente também. E a Galinha Pintadinha conseguiu.

 

Pintura Mágica com a Borboletinha

– Essa música a gente gosta, não é, filha?
– Copotó! Cavalinho! Trenzinho!

Veredito:

A criança não dispersou. Se envolveu com o conteúdo, estimulada pela mãe. Na real, eu sempre acho que a gente tem que assistir junto mesmo, interagir e estimular a conversa e a discussão desde cedo, pra não criar um espectador passivo – e também pra realizar atividades com ela. Eu e o pai dela lemos livros, brincamos com ela, desenhamos e fazemos várias atividades. A televisão não é “para nos dar um descanso”, é também uma atividade em família.

Dito isso, esta temporada nova da Galinha Pintadinha Mini começou bem. Vou mostrar pra pequena assim que saírem os novos episódios.
Porque Galinha Pintadinha é legal, mas ninguém aguenta mais ver o mesmo episódio pela 158ª vez…
***

Se você também não agüenta, assista aqui ao 27º episódio da Galinha Pintadinha Mini:

Lia Amancio

Lia Amancio trabalha com produção de conteúdo online desde que a internet era mato. Teve zine, teve banda, teve catapora quando era criança, só não teve ainda a sorte de ganhar na Mega-Sena. Mãe da doce Diana e ativista pela mobilidade urbana, Lia atende em www.liaamancio.com.br e em www.lounge42.com, e também pode ser vista por aí rodando bambolê e tocando ukulele - às vezes ao mesmo tempo. Pergunte-me como.

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