Queens Of The Stone Age: violência contra violência

 

 

 

 

Queens Of The Stone Age – In Times New Roman…
47′, 10 faixas
(Matador)

 

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

Se fizermos um bolão para eleger a banda de rock mais relevante da atualidade, o Queens Of The Stone Age é uma aposta segura. Com uma discografia sólida, uma marca sonora bem desenvolvida, capaz de soar fresca a cada álbum e uma grande habilidade para manejar símbolos e referências musicais e visuais, a banda de Josh Homme é muito melhor do que similares aguados como o Foo Fighters, por exemplo. A cada disco é possível notar uma diferença marcante, ainda que ela exista dentro deste panorama que mencionamos, ou seja, é possível perceber que a banda aborda um ou outro assunto, vive um ou outro momento em sua trajetória a partir do que lança sem invencionice ou tédio. Não há mesmice por aqui, pelo contrário, sempre há a expectativa renovada sobre o que Homme e sua turma irão fazer no próximo feixe de canções que lançarem.

 

Além disso, a liga sonora clássica do QOTSA é muito engenhosa e ainda capaz de surpreender o ouvinte. Um pouco de blues, um pouco de hard setentista, uma simpatia incontida pelo aspecto dançante que o rock tinha e que parece esquecido há tempos, além das ótimas guitarras e timbres que Homme descola em estúdio, tudo isso, junto e misturado, se bem feito, pode soar irresistível. Este “In Times New Roman…”, oitavo disco dos Queens, é um exemplo de como tudo isso pode ser acrescido de tristeza profunda e, mesmo assim, soar democrático e acessível. Ah, esquecemos: o QOTSA também tem, em algum lugar de sua mistureba sonora-conceitual, a ideia de que não há nada errado em atingir multidões com seu som. Pelo contrário.

 

 

A barra esteve pesada para Josh Homme nos últimos quatro anos, a ponto dele se referir a este período como o pior de sua vida. Um divórcio se arrastou além do que devia, com acusações mútuas, lavação de roupa suja na mídia e ordens judiciais de restrição e proximidade. Além disso, a perda de um amigo querido, Mark Lanegan, sem falar na própria pandemia da covid-19. Homme, que já não era conhecido por ser uma figura alegre e expansiva em suas criações musicais, viu-se abatido e sem ânimo para escrever ou criar qualquer fiapo de canção que fosse. Entocou-se, esperou a poeira abaixar e, aos poucos, foi se reconectando com sua criatividade e encontrou na produção do novo álbum um jeito de expurgar todas essa energia ruim, tristeza e ressentimento. O resultado é este arrojado “In Times New Roman”, que vai se juntar aos melhores momentos da discografia do QOTSA, a saber, “Era Vulgaris” (2007) e “Songs For The Deaf” (2002). Este conjunto de três álbuns conseguiu os melhores resultados em termos de acessibilidade, fluência rock e relevância em toda a trajetória da banda. Não é pouco.

 

 

Com Homme – que também assina a produção – nas guitarras e vocais, estão Dean Fertita (teclados e guitarras), Michael Shuman (baixo), Jon Theodore (bateria) e Troy Van Leeuwen (guitarras), o que garante peso e barulho implícitos, mas não dá pra dizer que as dez faixas que emergem aqui são difíceis ou inacessíveis, pelo contrário. Em grande parte do álbum há elementos pop que facilitam a delícia da audição dessas canções, tornando esse cenário de tristeza e raiva em algo totalmente palatável e experimentável, digamos assim. Em meio ao todo, há alguns momentos de brilho intenso, como, por exemplo, o single “Carnavoyeur”, uma das maiores canções de David Bowie que ele nunca compôs, entre 1975 e 1978. Tem a crocância guitarreira de “Paper Machete”, equilibrando gritos e esporros sonoros em rédeas curtas. Tem a aerodinâmica “Time & Place”, que já disputa lugar na nossa lista pessoal de melhores canções de 2023, misturando Elvis, dinâmica guitarrística, drama e sedução, tudo ao mesmo tempo. Tem “What The Peephole Say”, que resgata o molejo cinturístico do rock mais primal e um dos singles mais legais da história do grupo, “Emotion Sickness”, que leva o ouvinte para os anos 1970 com seguro de viagem, mordomias mil e o traz de volta.

 

 

“In Times New Roman…” é um disco de rock com “R” maiúsculo, que honra o que de melhor o estilo tem para oferecer. Tem raiva, porradaria, engenhosidade em estúdio, bom gosto e ótimas composições. Um dos álbuns do ano, fácil.

 

 

Ouça primeiro: “Carnavoyeur”, “Time & Place”, “Emotion Sickness”

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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