Pretenders – Hate For Sale
Gênero: Rock alternativo
Duração: 30 min.
Faixas: 10
Produção: Stephen Street
Gravadora: BMG
Ei, o/a senhor/a – e demais gêneros – tem um tempinho para ouvir a palavra do rock’n’roll? Se sim, recomendamos que separe meia horinha para desfrutar da beleza de “Hate For Sale”, este novo álbum dos Pretenders, o décimo-primeiro de sua longeva carreira. Não importa se estamos em 2020 ou em 1981, a banda de Chrissie Hynde é garantia de bons sons, apenas variando aqui ou ali. No caso deste fulgurante feixe de dez canções, ela conta com o colega Martin Chambers, também fundador da banda. Daí pra frente, apenas gente nova, a saber, Carwyn Ellis (teclados), James Walbourne (guitarra) e Nick Wilkinson (baixo). É tudo bem direto, bem objetivo, não há um minuto de desperdício ao longo dessas faixas.
O disco tem a produção do experiente Stephen Street, que já pilotou álbuns do Blur, dos Cranberries e dos próprios Pretenders e sua função aqui é tornar os acessos rápidos, fornecendo possibilidades simples. Por isso a sensação de urgência nas canções, a impressão de que estamos diante de um trabalho “à moda antiga”, justo porque não consome o precioso tempo do século 2020 com invencionices. Aqui é tudo na base do “pá-pum” e não há outra maneira de ouvir e apreciar esse trabalho que não seja assim. Se você tentar descobrir prazeres ocultos ou timbres escondidos, será em vão. Chrissie e sua banda, perdoem o trocadilho, não estão fingindo em nenhum momento. E há um bom tempo que eles não soam tão bem.
O disco anterior, “Alone”, de 2016, trazia Dan Auerbach na produção e o efeito foi um trabalho atípico, mas soando com a marca dele do que da banda. Com Street acontece justo o contrário, os Pretenders voltam a ter a sonoridade que sempre teve, a saber, de uma banda de bar, capaz de alternar canções com muita guitarra e peso com blues, rock, r&b e baladas, tudo com naturalidade. Chrissie ainda é a rainha da coisa toda, com voz marcante e presença definitiva. E a variação que o grupo traz ao longo das canções garante a surpresa num nível desejável. Fora a linda e triste balada “Crying In Public” e o reggae “Lightining Man”, tudo em “Hate For Sale” é rock ou derivado próximo. Tudo funciona, não há fala aparente.
Tem uma regularidade imensa por aqui. A faixa-título abre os trabalhos com peso e direito até a um início errado. Em seguida, passa a bola para a ótima “The Buzz”, cheia de belezura melódica e da gaita de Chrissie, onipresente por todos esses anos. “Turf Accountant Daddy” poderia, veja você, ser uma faixa de alguma banda noventista de rock, mas tem cheiro de new wave roqueira dos anos 1970, a praia de nascimento do grupo. Outra balada, mais ao estilo soul, no sentido Spooner Oldham do termo, é “You Can’t Hurt A Fool”, que tem lindeza implícita e dor explícita, com o refrão dizendo que “não adianta tentar magoar os tolos, porque eles não respeitam as regras”. A dobradinha “I Didn’t Know When To Stop” e “Maybe Love Is In NYC” é o melhor momento do disco, lembrando timbres e passagens do melhor do trabalho de Patti Smith.
“Hate For Sale” é um OVNI neste 2020. É um discaço, urgente, necessário, direto e reto. Pretenders como a gente costumava ouvir em 1981, só que com cara de hoje. Uma maravilha crocante.
Ouça primeiro: “I Didn’t Know When To Stop”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.