Foxygen – Seeing Other People

Gênero: Rock alternativo
Duração: 37 min
Faixas: 9
Produção: Sam France e Jonathan Rado
Gravadora: Jagjaguwar
4 out of 5 stars (4 / 5)

Há um eufemismo rondando os discos de bandas/artistas de rock psicodélico, surgidos nos anos 2000/10: suas novas mutações sonoras são, nada mais, nada menos, que retornos vigorosos ou acenos discretos ao pop oitentista. O que era pra dar continuidade a abordagens pouco tributárias de formas e parâmetros, calcadas em influências sessentistas, materializou-se em novos – e bons – discos de música tradicional. O Tame Impala vem fazendo isso enquanto não lança seu novo trabalho e o Foxygen também aderiu. Este novo disco da dupla californiana é sua versão de um álbum AOR, Adult Oriented Rock. E Sam France e Joathan Rado, seus integrantes, ainda nem bateram na casa dos 30 anos. De qualquer forma, “Seeing Other People”, é legal por si só.

Não dê bola para o papo do crítico musical. Ele só está aqui para observar esses detalhes estéticos e nada mais. E você, bem, você é o público-alvo do Foxygen, pelo menos em potencial. E tem tudo para se divertir com as nove faixas do álbum, todas bem feitas, bem intencionadas e legais. Há uma preocupação simpática ao longo das canções, a de não aderir abertamente ao AOR, mantendo alguma integridade estética que seja capaz de se relacionar com o que a dupla fez até agora. Temos então o Foxygen procurando evitar o abraço total a recursos típicos daqueles tempos idos, como palmas sintetizadas, timbres datados de guitarra, linhas de baixo gorduchas e teclados bonachões. Brincadeiras à parte, o esforço é válido e tudo acaba soando como uma verdadeira homenagem da dupla a um estilo.

O que fica como elemento que confere unidade ao álbum é a ótima capacidade de France e Rado de fazerem ótimas canções. Os caras são talentosos compositores e mostram um senso de humor acima da média. Há um tributo ao Bruce Springsteen oitentista, aquele que se esgoelava em “Born In The USA” e encantava a mulherada em “Dancing In The Dark”, mas “The Thing Is”, a faixa do Foxygen, é um híbrido de “Glory Days” e “Hungry Heart”, meio sem jeito, meio torta, mas adorável como homenagem. Também há o single “Mona”, que tem bateria/baixo aveludados e uma ótima linha melódica, com classe e pedigree próximos de hits como “Don’t Stop The Dance”, de Bryan Ferry, safra 1985. “Work”, a faixa de abertura, tem programações de palmas, baixo sintetizado, batidas que poderiam estar em canções como “Let’s Hear It For The Boy”, de Deniece Williams ou similar, mas, à medida que a canção avança, entra a preocupação em não amar demais os 80’s e o Foxygen injeta sua dose de personalidade esquisitona, compondo um cenário mais adequado. “Face The Facts”, por sua vez, parece uma gravação de Hall And Oates.

“Livin’ A Lie” tem alma de balada clássica das paradas de sucesso mas a produção e o revestimento dados pela dupla servem como boa maquiagem, que mantém as virtudes da canção intactas. Lembra algo de Elton John em álbuns como “Ice On Fire”. “The News” tem introdução de teclados que vai fazer o adolescente oitentista que vive em você – claro, se você tiver um – acordar. É uma apoteose de teclados que deriva para uma melodia que assalta com vigor o cânon de bandas como Chicago, Foreigner e Toto, com uma simpática dedicação e esforço de criar algo novo. A caminho do fim, mais uma baladaça: “Flag At Half-Mast”, próxima do que faziam bandas de rock quando queriam soar mais sensíveis, de Poison a Bon Jovi, e a funkeada e tortinha “The Conclusion”, que é, de longe, a mais parecida com o que a dupla faria se estivesse num outro disco de sua carreira. Coincidentemente, é a canção que soa menos interessante por aqui.

A julgar pelo resultado das faixas de “Seeing Other People”, Foxygen terá um problema em suas mãos: retornar às suas criações originais, normais, deixando para trás esse adorável disco embebido nas águas tépidas de uma Califórnia de 1986, na qual há a Super-Máquina deslizando pelas ruas e o Trovão Azul guardando os céus. Disco divertidíssimo.

Ouça primeiro: “Work”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *