Porta dos Fundos e Plebe Rude
O especial de Natal do Porta dos Fundos, exibido na Netflix, que mostra Jesus Cristo como um LGBTQ+, foi alvo da justiça do Rio. O desembargador Benedicto Abicair foi quem proferiu a decisão. Interessante lembrar que este mesmo cidadão inocentou jair bolsonaro de acusação por homofobia, alegando ser … contra a censura. Antes disso, é bom lembrar, a sede da produtora, no Rio de Janeiro, foi alvo de um ataque terrorista, assumido por integralistas. A polícia carioca disse que não era terrorismo.
Este imbróglio me fez lembrar de “Censura”, canção da Plebe Rude, que integra seu disco “Nunca Fomos Tão Brasileiros”, que mostra a censura como uma ferramenta recorrente na vida sócio-política do país. Sobre a decisão, ela é tristemente emblemática dos nossos tempos. Uma coisa é a sociedade divergir sobre o conteúdo do especial, se ele é pertinente ou não, pois é disso que nasce e cresce o espírito democrático. Outra coisa, totalmente diferente, é uma decisão que representa o ESTADO BRASILEIRO, ser tomada com vistas a PROIBIR a exibição e, por conseguinte, a discussão acerca de sua validade/impacto. São tristes os nossos tempos.
No fim das contas, a posição do ESTADO BRASILEIRO é a mesma de pessoas que fazem um ataque terrorista contra a liberdade de expressão. Pensando bem, isso não é novidade na nossa história.
Censura
Unidade repressora oficial
A censura, a censura
unica entidade que ninguém censura
Hora pra dormir
hora pra pensar
Porra meu papai
deixa me falar
Unidade repressora oficial
A censura, a censura
unica entidade que ninguém censura
Contra a nossa arte está a censura
abaixo a cultura, viva a ditadura
Jardel com travesti, censor com bisturi
corta toda música que você não vai ouvir
Unidade repressora oficial
A censura, a censura
unica entidade que ninguém censura
Nada para ouvir, nada para ler
nada para mim, nada pra você
nada no cinema, nada na TV
nada para mim, nada pra você
Unidade repressora oficial
Unidade repressora oficial
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.