Tiago Iorc se perde completamente em novo álbum

 

 

 

 

Tiago Iorc – Daramô
28′, 10 faixas
(Som Livre)

2 out of 5 stars (2 / 5)

 

 

 

 

Tiago Iorc está sempre voltando. Em 2019 ele voltou de um ano em silêncio nas redes e lançou dois álbuns, um deles, com a chancela do Acústico MTV. Fez isso e sumiu. Agora, três anos depois, ele novamente está voltando, dessa vez para lançar “Daramô”, seu sétimo disco da carreira. O que ele oferece de novo? Nada. Tiago achou uma fórmula muito confortável de música pop nacional em 2015, quando soltou seu melhor trabalho até agora, “Troco Likes”, no qual equilibrava o passado como artista independente e criativo com uma almejada subida de patamar em termos de visibilidade e fama, o que logo se confirmaria em seguida. A partir do sucesso deste álbum, Tiago se tornou um artista de nível nacional, conhecido e com um público muito fiel, que aprecia este tal formato, a saber, um pop com influências de Djavan, umas boas doses de violão acústico à la Jack Johnson e uma poesia urbana de alta aderência a vários temas, especialmente o amor. Sendo assim, já no título, “Daramô” se anuncia como um trabalho voltado para o sentimento.

 

 

Como está grafado, “dar amor”, é uma alusão à temporada que o músico paranaense passou na Bahia, segundo ele, para se conectar com culturas diferentes e novos afetos. O impacto nas dez faixas do disco é nulo, não fosse o título, Iorc poderia ter passado um bom tempo em Vladivostok que o efeito seria semelhante e ninguém notaria nada. A produção investe neste formato acústico que norteia seu trabalho desde 2015, ou seja, muitas camadas de violão, arranjos de cordas, pianos e melodias que marcam o talento do sujeito. Porém, é bom que se diga: há um certo esgotamento estético neste formato, uma vez que Tiago não varia e não ousa em absolutamente, exceto por dois momentos específicos: “Papinho”, que é um sambinha asséptico e tocado por gente que nunca esteve numa roda de samba e que tem uma letra próxima do lamentável. E em “Que Cansaço é não amar”, que tem a participação do coral Ganhadeiras de Itapuã, subaproveitadas no arranjo final.

 

 

As outras oito faixas de “Daramô” pegam o bonde dessa abordagem superficial do amor de ficante, de pouco tempo e pouco compromisso, sugerindo apenas leveza e coisas boas. Quando há algo mais próprio da vida real, como, por exemplo, o ciúme, ele se transforma em canção na forma de “Ciumeira”, que narra a amargura do amante que quer ser “titular”. A temática se encaixaria totalmente num agrossertanejo banal, se fosse devidamente trabalhada e adaptada. Outro momento assim é “Saudade Boa”, no qual a ausência da pessoa amada é banalizada e romanceada em uma letra que quase elogia a falta que sentimos de quem está longe.

 

 

Mas é nas canções que celebram o amor que o caldo desanda de forma irreversível. “Daramô”, a canção, na qual o cantor exercita a sua já conhecida visão autossensual, tem o imperdoável verso “to na brisa da tua brasa” entre outras “declarações de desejo” pela pessoa amada. Em “Laiá laiá” o arranjo quase insinua uma pegada oscilante entre Gipsy Kings de sarau escolar com vocais que só repetem o título, num evidente desperdício de tempo e esforço no estúdio. Em momentos como “Tudo O Que A Fé Pode Tocar” e “Quero Você Pra Mim”, há apenas a sombra do compositor talentoso de, lamento, Tiago parece estar deixando de ser.

 

 

“Daramô” é um produto pop feito apenas para quem admira o trabalho do cantor e para quem vê relevância em artistas como Melim ou Anavitória. É uma música aguada, sem sal, sem alma, apenas um exercício estético fraco e equivocado. Há um sem-número de coisas mais interessantes para ouvir no Brasil de hoje.

 

 

Ouça primeiro: nada.

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

10 thoughts on “Tiago Iorc se perde completamente em novo álbum

  • 29 de agosto de 2023 em 13:00
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    Tiago Iorc é um ser maravilhoso, um músico único, com características próprias de quem sabe o que produz, suas letras são profundas e tocam o coração de pessoas muito sensíveis. Parabéns Tiago!! Amo a música “Tudo o que a fé pode tocar”.

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  • 9 de maio de 2023 em 05:41
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    Olha, senti falta de sentimentos bons nessa crítica pesada.

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    • 22 de julho de 2023 em 13:18
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      Que pena, um crítico ter esse posicionamento diante de uma produção artística! Poucos são aqueles que tem tanta intimidade com música e letra! Só o fato do Tiago Iorc , artista jovem já estar buscando essa intimidade com outras culturas que não apenas do sul, já demonstra um caráter que merece respeito! Sua imersão na cultura nordestina é algo simplesmente maravilhoso!

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    • 22 de julho de 2023 em 13:24
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      Difícil entender a crítica dessa forma! Tiago Iorc, jovem artista do sul do país, carinhosamente soube reconhecer a importância da cultura brasileira, ao inserir suas notas musicais e letra, com a cultura nordestina! Que bom! Parabéns Tiago!! A regra realmente é o Amor!

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  • 4 de maio de 2023 em 17:05
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    Vim atrás de críticas justamente pra saber se alguém teve a mesma sensação frustrante que a minha, ao ouvir o álbum… O cara tem talento, não se discute isso. Conquistou vários fãs fora e dentro do país, incontestável. Porém, ainda não consegui entender o motivo de ter lançado um trabalho de 10 músicas com apenas 27 minutos… Diferente de outras músicas dele que admiro, achei a maioria com versos fracos e muito previsíveis. Sei lá, é apenas a minha opinião, mas realmente esperava mais. Isso em nada diminui a relevância que ele já teve, nem arruinaria o que já criou, mas terminei o álbum tal qual o tão conhecido meme do John Travolta.

    Caso alguém se interesse, indico um trabalho recente de um artista que está lançando carreira solo após anos dedicados à várias bandas e projetos musicais:

    Álbum: Azul
    Artista: Danilo Cutrim

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  • 6 de janeiro de 2023 em 21:03
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    Eu achei um pouco preocupante que um critico de música se dispôs a fazer uma crítica desse álbum e a dizer que ciumeira poderia ser um agrossertanejo banal se fosse bem adaptado, sem saber que na verdade é um dos maiores sucessos da Marília Mendonça – e a versão do Tiago Iorc é a adaptada.

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    • 7 de janeiro de 2023 em 07:43
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      Olá, de fato, não sabia, mas, sinceramente, você gostou do disco? Me diga se ele foi bem cotado nas listas de melhores de 2022, se algum outro crítico enalteceu suas qualidades.

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  • 7 de dezembro de 2022 em 11:50
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    tdo bem sr. Carlos Eduardo Lima, fiquei bem impressionado com sua crítica pesada ao lançamento do Tiago Iorg, mas o que me deixou mais curioso foi a frase final “Há um sem-número de coisas mais interessantes para ouvir no Brasil de hoje.” por gentileza, poderia citar essas opções mais interessantes? gostaria de ouvi-las.

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    • 7 de dezembro de 2022 em 19:35
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      Opa, com o maior prazer. Em breve publicaremos nossas listas de MELHORES DISCOS NACIONAIS e MELHORES MÚSICAS NACIONAIS de 2022 e você terá várias opções. Obrigado pelo comentário.

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  • 6 de novembro de 2022 em 15:46
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    Do início ao fim comentário muito azedo.

    Tá tudo bem aí?

    O amor é assim mesmo “se repete” mas não se esgota.

    Gostei muuitoo do novo álbum. Tiago Iorc, Parabéns!❤️

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