Por quê comunismo, hein, gente?

 

 

Todo dia, pleno 2021, surge alguém vestido de verde e amarelo bradando contra o comunismo. Eu sinceramente adoraria que houvesse um “perigo comunista” no mundo atual, pelo menos do jeito que havia quando a Revolução Russa provou ser possível derrubar uma monarquia sanguinária e redistribuir riqueza para uma população faminta e massacrada por séculos. Mas, não. Tal perigo não existe há décadas no mundo porque a experiência socialista – uma etapa prévia do comunismo – não foi bem sucedida por várias razões. Os tais “ventos da revolução” foram contidos habilmente na década de 1980 e, desde o seu final, o socialismo e outras variantes de sistema econômico que contemple a desigualdade como algo a ser combatido, têm sofrido vários revezes.

 

São esses sistemas que os verdemarelistas de hoje chamam de “comunismo”.

 

E eles não fazem isso por conta de termos como “economia planificada”, “comitês populares de gestão” ou hegemonia de um só partido. Eles falam por conta das políticas que são empreendidas para, justamente, redistribuir a riqueza entre as pessoas da população. Não precisa fazer o que Lênin e Stalin fizeram na Rússia czarista, basta, por exemplo, adotar a social-democracia keynesiana do pós-guerra, na qual o estado tem papel regulador na economia, mas não impede a propriedade privada e não monopoliza as ações financeiras. Ele atua como um instrumento de defesa dos mais pobres, proporcionando formas de inserção destas pessoas na sociedade. Isso acontece de inúmeras maneiras. Subsídios, política tarifária que cobre mais de quem tem mais, juros baixos para pequenos empreendedores, cotas de ingresso em universidades, saúde pública, ensino público, programas de habitação a baixo custo, ajuda financeira com condições de suspensão após atingimento de metas…a lista é imensa e sempre benéfica para o desenvolvimento de uma sociedade.

 

A Escandinávia, região do mundo usada como exemplo por estas mesmas pessoas, conseguiu manter-se estável por conta de uma sólida política de bem estar social, cheia de programas de assistência e subsídios para a população. Países como a França, Espanha e a Inglaterra têm sólidas instâncias de presença estatal no bem estar da população, ainda que careçam de mais políticas e tenham sofrido ataques recentes a elas. O próprio Brasil tem instâncias de defesa dos mais pobres, caso do seguro-desemprego, das universidades públicas, do SUS…Agora, pare e pense: quem você vê defendendo essas instâncias na grande mídia?

 

Ninguém.

 

A elite brasileira é contrária a elas. Não quer onerar seu lucro por conta de um compromisso social que irá, em médio prazo, obrigá-la a ser mais racional e humana em suas atitudes empresariais. Para quê investir em programas de educação se o povo irá adquirir senso crítico, cultura e entenderá a exploração desmedida que lhe é imposta? Para quê investir num sistema único de saúde, gratuita e universal, se você é, por exemplo, dono de uma empresa de plano de saúde? Para quê lutar por melhores condições de habitação se a especulação imobiliária, que rende lucro para poucos, será mortalmente atingida?

 

E por fim: se tal melhoria na distribuição de renda e oportunidades dará a pessoas historicamente escanteadas das benesses da elite, por quê defender isso? Vamos colocar alguém que impeça tais conquistas. Que barre o acesso desta gente. Que a mantenha longe, na base da pirâmide. Que ela consiga por seus próprios meios o acesso.

 

E então, o capitalismo de bem estar social, torna-se comunismo no vernáculo pobre e triste dessas pessoas. Por fim, fica evidente o desejo pessoal delas de acumular riqueza às custas do esforço infinito de outros, impedindo qualquer movimentação social. E se, por acaso, tal fato acontece, a pessoa que emerge das camadas mais pobres, via de regra, é lobotomizada e passa a agir como se fora sempre de uma elite social. Há exceções, mas são raras.

 

Sendo assim, se você vir alguém bradando contra o comunismo no Brasil, saiba duas coisas:

 

– nunca estivemos minimamente próximos de qualquer governo socialista.

– sempre que avançamos em alguma política de inclusão social, tal governo foi apeado do poder.

 

É só olhar a história. Sem emoção, apenas com a ciência.

 

Ah, esqueci que a ciência também é comunista…

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Por quê comunismo, hein, gente?

  • 14 de maio de 2021 em 12:35
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    Você está querendo dizer que o PT é essa política social?? Que ilusão!! Os problemas que assistimos hoje vem do socialismo desde FHC, que se mancomunou e depois passou o bastão pra maior quadrilha do crime organizado do mundo, o PT, deixando as maiores dívidas da Via Láctea para as futuras gerações. Acho que você, como todo comunista, vive de ilusão. Os Países europeus que cita como exemplo, são mais capitalistas que socialistas, e a comparação, ainda por cima, é injusta, visto que são países pequenos de maturidade milenar de população e cultura homogêneas, com pouca diversidade, muito mais fácil de administrar. O Brasil é mil vezes mais complexo e gigante, além de muito jovem, e ainda não existe fórmula certa pra um País assim. Tentar influenciar de forma disfarçada pra volta de um bando de criminosos que só arruinaram o País e deixaram dívidas na casa dos trilhões, além de só mudar a realidade deles e não do Brasil, é um grande desserviço que presta.

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