Pet Shop Boys: 26 clássicos e 1 cover

 

 

É impossível ignorar a importância dos Pet Shop Boys para a música pop planetária. Surgida em 1986, a bordo do improvável rap tecnopop “West End Girls”, a dupla formada pelo ex-jornalista Neil Tennant e o tecladista Chris Lowe galgou parâmetros (como disse uma vez o técnico Sebastião Lazaroni) na acirrada disputa do cenário pop dos anos 1980 e tornou-se uma fonte segura de hits. Com uma sonoridade eletrônica baseada na melodia e na harmonia, preconizadas pelo lado mais brando e pop do Kraftwerk, a dupla lançou álbuns sólidos e sensacionais entre 1986 e 1990, com vários hits nas paradas de sucesso do planeta. A partir de 1993, com “Very”, Tennant e Lowe iniciaram um processo de lenta acomodação, mas que não os privou de seguir gravando ótimas canções. Esta tradição segue até hoje, com a dupla totalmente ativa, dando ótimos shows e lançando álbuns. Isso nos leva à apresentação dos Pet Shop Boys ontem, no Primvara Sound, em São Paulo. Nós não estávamos lá – uma tristeza, né? – mas amigos e fontes fidedignas cravam que foi o melhor show do dia e que os ingleses veteranos colocaram o restante das atrações no bolso.

 

É possível. É provável. É certo.

 

Por isso a gente resolveu fazer uma super playlist com o que achamos que a dupla gravou de melhor em sua carreira, num total de 26 canções e uma cover, porque adoramos quando artistas consagrados se arriscam fazendo versões. No caso, a escolha é polêmica, pois se trata de um hino dos estádios, composto pelo Coldplay quando ainda era uma banda e não uma empresa de coaching existencial. De qualquer maneira, seguem abaixo as canções com comentários e a própria playlist, lá embaixo. Já sabem: ouçam, concordem, discordem, opinem.

 

Em tempo: duas músicas desta lista não estão no Spotify, pelo menos, não na versão indicada, por isso, colocamos os originais e deixamos link para elas no YouTube.

 

 

 

 

26 – Love Is A Bourgeois Construct (Electric, 2013) – As pessoas acham que os PSB pararam de fazer boa música em 1996, quando lançaram seu álbum “Bilingual”. De fato, boa parte da melhor produção deles está na virada dos anos 1980/1990, mas há muita coisa boa feita depois. Aqui, Tennant e Lowe constroem um arranjo épico para esta frase – “o amor é uma construção burguesa”. Típico.

 

25 – Decide (B-Side, 2019) – canção altamente hipnótica, lançada como lado B no single “Burning The Heather”. Tem um arranjo mais sombrio do que a maioria das criações da dupla, um verdadeiro tesouro escondido.

 

24 – All Over The World (Christmas EP, 2009) – só os PSB poderiam colocar uma citação de Tchaikowski numa canção pop, no caso, da Marcha do Opus 71, número 2, do Quebra-Nozes. Uma lindeza, aqui, em versão mais lenta do que no álbum “Yes”.

 

23 – I Don’t Know What You Want But I Can’t Give More (Nightlife, 1999) – esta canção está no atual setlist do PSB e foi tocada em São Paulo. É um desses pequenos épicos de bolso que a dupla lança a cada disco.

 

22 – Paninaro 95 (Single, 1995) – o original de “Paninaro” saiu como single avulso, no tempo do disco de estreia da dupla, “Please”, em 1986. Esta versão dá uma atualizada na batida e amplia o espectro da canção.

 

21 – Can You Forgive Her? (Very, 1993) – segundo single de “Very”, com uma melodia marcante e um arranjo mais pop e divertido do que a dupla vinha fazendo na época.

 

20 – I Want To Wake Up (Actually, 1987) – cançoneta perdida no meio do segundo e ótimo álbum do PSB, “Actually”.

 

19 – Love Etc (Yes, 2009) – colossal faixa de abertura do álbum “Yes”, lembrando a todo mundo que a dupla tem talento de sobra pra fazer mágica com batidas e teclados bem pensados. Aqui eles se valem de um formato mais pop clássico para mandar bem.

 

18 – Go West (Very, 1993) – épica canção de resistência LGBTQIA+, diretamente vertida de um original do Village People. Esta gravação rompeu barreiras, resiste ao tempo e se transformou até em canto de torcida em estádios de futebol.

 

17 – Home And Dry (Ambient Mix) (Release, 2002) – uma lindeza etérea do álbum “Release”, mas que fica ainda mais bonita nesta versão “Ambient Mix”. Pra quem pensa que os PSB não fazem nada sem batidas, aqui está a revelação.

 

16 – Will-o-the-wisp (Hotspot, 2020) – faixa de abertura do ótimo álbum “Hotspot”, condensando tudo o que o PSB sabe fazer de melhor. Uma pancada com potencial de hino das pistas.

 

15 – Before (Bilingual, 1996) – todo disco do PSB tem música boa. Às vezes elas estão meio escondidas, noutras são hits menores, caso deste colosso pop funk que tem cara de Ibiza ao por do sol.

 

14 – It’s Alright (Introspective, 1988) – “Introspective”, o terceiro disco dos PSB, de 1988, com sua capa colorida, meio que marcava uma tomada de posição da dupla em relação à sua arte. É um trabalho cheio de ótimas canções, várias delas se tornaram singles, como este colosso de quase dez minutos.

 

13 – Heart (Actually, 1987) – lindeza que passou sob o radar de muita gente quando o segundo álbum dos PSB foi lançado. Este foi um hit menor, mas a dupla sempre o mantém nos setlists e está tocando “Heart” num arranjo muito próximo do original na atual turnê.

 

12 – Always On My Mind (Introspective, 1988) – muita gente diz que esta versão é mais bela que a mais conhecida leitura desta canção, com Elvis Presley. O fato é que tocou loucamente nas rádios do mundo perto da virada dos anos 1980/90 e é um milagre de arranjo e reinterpretação com a marca Tennant/Lowe.

 

11 – Burning The Heater (Hotspot, 2020) – uma canção … acústica … dos Pet Shop Boys? Sim, talvez. Esta é uma faixa belíssima do álbum “Hotspot” e certamente mostra uma faceta diferente da dupla.

 

10 – Leaving (Believe In PSB Remix) (Elysium, 2012) – belíssima canção do álbum “Elysium”, que ainda ganha mais charme neste remix luxuriante. Tem um dos refrãos mais bonitos da lavra da dupla.

 

09 – What Have I Done To Deserve This (Actually, 1987) – chamar a então decadente Dusty Springfield para um dueto em pleno 1987 era um ato e tanto de personalidade. O resultado deste encontro é esta lindeza de canção, sucesso global na época.

 

08 – Domino Dancing (Introspective, 1988) – o colosso latino dos PSB, que invadiu as rádios do sistema solar e nunca mais foi embora. Um clássico em todos os sentidos, graciosa e perfeitamente datado.

 

07 – Left To My Own Devices (Introspective, 1988) – uma obra prima de cordas e patins sob o globo de brilhos dançantes. É mais ou menos como diz a letra: Che Guevara e Debussy juntos, numa batida.

 

06 – West End Girls (Please, 1986) – o clássico single de estreia, um comentário sócio-antropológico da juventude londrina sob thatcher em pleno tempo de AIDS. Um colosso.

 

05 – It’s A Sin (Actually, 1987) – a épica confissão de culpa da dupla sobre sua postura e orientação, transformada em clássico eterno, com um dos riffs de teclado mais sensacionais de todos os tempos. Segue atual.

 

04 – Se A Vida É (Pink Noise Mix) (Bilingual, 1996) – o original traz ecos das batidas baianas dos anos 1990, mas esta versão muda tudo de lugar, levando a ação para a beira de uma piscina flutuante num futuro do pretérito que deu certo.

 

 

03 – Suburbia (The Full Horror) (Please, 1986) – o original já é sensacional, mas esta versão Full Horror traz uma sinfonia de batidas, ruídos e melodia para definir a vida nas regiões menos abastadas das grandes cidades. Sensacional é pouco.

 

02 – Being Boring (Behaviour, 1990) – seria esta canção um épico geracional? Pode e deve ser. O arranjo é assombroso, o clipe é perfeito, a melancolia disfarçada de cotidiano sobre crescer e mudar é no ponto certo. Uma criação magnífica.

 

01 – How Can You Expect To Be Taken Seriously? (Perfect Attitude Mix) (Behaviour, 1990) – pena que a versão do clipe não esteja disponível nos streamings. O original é qualquer nota, o arranjo “rock” não faz jus à bela melodia e a letra, sobre ficar famoso por nada, é perfeita.

 

 

 

Cover: “Viva La Vida/Domino Dancing” (Christmas EP, 2009) – sim, isso mesmo. Uma mistureba da solenidade fake do Coldplay de 2009 com o batidão latin funk de 1988 e, pasme – funciona. Bem, no contexto certo, claro.

 

 

Em tempo II – a quantidade de clássicos e ótimas canções é tamanha que esta lista poderia, facilmente, ter mais dez ou vinte canções. O leitor André Marx lembrou de “My October Symphony”, faixa do álbum “Behaviour”, como candidata a destaque e, sim, ela poderia. Fica aqui a menção honrosa a ela que, segundo palavras do André, “poderia ter sido composta por Cole Porter”.

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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