Pearl Jam resgata show australiano de 1998

 

 

 

 

Pearl Jam – Give Way
74′, 17 faixas
(Legacy Records)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

O Pearl Jam é um grupo que trata bem seus fãs. São vários lançamentos de registros ao vivo, singles, promoções exclusivas para membros do fã-clube oficial…Eddie Vedder, Stone Gossard e sua turma entendem do assunto e parecem curtir essa relação afetuosa. Por conta do Record Store Day, a banda resolveu resgatar um álbum ao vivo que sairia em 1998, como contraponto ao vídeo “Single Video Theory”, lançado pelo grupo naquele ano. Por desentendimentos com a gravadora Sony, 50 mil cópias deste “Give Way” foram destruídas na véspera do lançamento, fazendo com que o conteúdo do álbum se tornasse uma espécie de Santo Graal entre os caçadores de raridades da banda. Agora, 25 anos depois, o show dado no Melbourne Park em 5 de março de 1998 tem sua quase integridade lançada. Das 25 canções tocadas pelo Pearl Jam, 17 vêm integrar o disco duplo ao vivo. E se há algo em que o grupo de Seattle é bom é dando show para uma multidão ávida.

 

 

Para contextualizar, é bom voltar um pouco no tempo. O Pearl Jam lançou “Yield”, seu quinto disco (e o terceiro no nosso ranking da banda, que você vê aqui), em fevereiro de 1998 e logo iniciou a turnê para divulgação. O grupo fizera dois shows no Havaí e se encaminhou para a Nova Zelândia, começando a turnê no dia 26 de fevereiro, em Wellington, capital do país da Oceania. Em 2 de março, o grupo já estava na Austrália, começando uma série de três shows no Melbourne Park, nos dias 2, 3 e 5. A turnê passaria por Adelaide, Sydney, Brisbane e Perth ao longo do mês, antes de voltar para os Estados Unidos, onde a divulgação pesada do álbum começaria já com um show no Late Show With David Letterman em 1 de maio. Ou seja, a banda teve tempo de fazer as primeiras experiências com as novas canções de “Yield”, o que era crucial, uma vez que “Do The Evolution” já estava em alta rotação na MTV mundial e nas rádios.

 

 

Em termos de competência, o conteúdo de “Give Way” – a apresentação de 5 de julho – mostra a banda com sua pegada habitual. O setlist já mostrava o carinho do Pearl Jam com algumas de suas canções mais clássicas, caso de “Even Flow”, “Black”, “Alive” e a ótima “State Of Love And Trust”, todas inseridas no roteiro e interpretadas com força. Aliás, um detalhe importante desta apresentação é a presença do baterista Jack Irons, que entrara quatro anos antes e com quem o grupo gravou os álbuns “Vitalogy”, “Merkin Ball”, “No Code” e “Yield”. Um detalhe curioso sobre Irons: ele participou da formação que tocou em “Uplift Mofo Party Plan”, o terceiro trabalho dos Red Hot Chili Peppers, lançado em 1987. Irons deixaria o Pearl Jam quinze dias depois, com Matt Cameron assumindo seu lugar. Os integrantes do Pearl Jam já deram entrevistas exaltando a presença de Jack na banda, especialmente sobre como ele conseguira atender as expectativas depositadas sobre o grupo, a partir da morte de Kurt Cobain e a consequente ascensão do Pearl Jam ao topo da pirâmide grunge.

 

 

É bacana ver como as novas e velhas canções do Pearl Jam já se harmonizavam bem no setlist dos shows. A transição de “State Of Love And Trust” (1991) para “Do The Evolution” (1998) é praticamente perfeita, especialmente na arremetida da banda para o final da apresentação, enfileirando na sequência “Alive”, “Black” e a baladona “Immortality”. O set também apresenta boas versões ao vivo de duas ótimas canções do então recém-lançado “Yield”: “Faithfull” e “Given To Fly”, a última, um dos singles do álbum.

 

 

“Give Way” é um documento importante para uma banda tão famosa quando o Pearl Jam. E também serve como a chance para os fãs ouvirem Irons numa apresentação ao vivo, mandando bala. Hoje, 25 anos depois desses shows, é possível notar que o grupo forjou sua competência no palco através da dedicação e eficiência de músicos, setlist e público. Se você admira o Pearl Jam, isso aqui é o paraíso. Caia dentro.

 

 

Ouça primeiro: “State Of Love And Trust”, “Black”, “Alive”, “Do The Evolution”, “Faithful”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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