Os tediosos Chili Peppers

 

 

 

Red Hot Chili Peppers – Return Of The Dream Canteen
69′, 18 faixas
(Warner)

3 out of 5 stars (3 / 5)

 

 

 

 

 

Não bastasse o lançamento de “Unlimited Love” em abril, os Chili Peppers agora colocam “Return Of The Dream Canteen” pra jogo, meros seis meses depois. Se a gente pensar que o intervalo entre “The Getaway”, lançado em 2016, e “Unlimited” foi de seis anos, podemos concluir que o grupo californiano encontra-se numa onda de inspiração incontrolável, certo? Bem, não exatamente. O que aconteceu aqui foi uma vontade incontrolável da banda em lançar praticamente tudo o que compôs neste ano, não se impondo limites. Se o primeiro disco de 2022 já tinha 17 canções, correspondendo ao que é um álbum duplo hoje em dia, este novo trabalho vem na mesma medida, dessa vez com 18 faixas. É interessante porque todas as canções foram registradas nas mesmas sessões no estúdio, sob a produção de Rick Rubin, o mesmo sujeito que chancelou e produziu os maiores vendedores da história da banda, “Blood Sugar Sex Magik” e “Californication”, dois álbuns muito diferentes entre si. Sendo assim, a pergunta que os fãs odeiam responder permanece: que banda é essa? A explosiva, do início dos anos 1990 ou a conformada, calminha, do início dos anos 2000? Eu respondo: nem uma, nem outra. É a tediosa e irrelevante de 2022.

 

 

Isso não significa falar que os álbuns são ruins. Não são. É tudo bem produzido e os músicos a gente já conhece, todos excelentes, ainda que o guitarrista John Frusciante tenha fãs que o colocam no mesmo patamar de Jimi Hendrix, algo que ele não tem culpa. Só que Frusciante é apenas um bom instrumentista, sem nada que justifique o trelelê que se ergue à sua volta quando ele está na banda – esta é a sua terceira passagem, não custa nada lembrar. Se há algo que realmente permanece interessante é o entrosamento entre a bateria de Chad Smith e o baixo de Flea, o verdadeiro sentido e significado dos Chili Peppers. Fechando a raia, Anthony Kiedis, sempre melhor em estúdio que ao vivo, ainda dando conta do recado, especialmente porque as canções presentes aqui não exigem muito dele. Só que, em meio à profusão de faixas, poucas realmente soam interessantes.

 

 

Sempre que analiso um álbum, eu separo três categorias para as suas canções: boas, irrelevantes e ruins. O resultado sempre mostra o que é a totalidade do trabalho, seu perfil e sua importância. “Dream Canteen” é mais um disco tedioso, excessivo, em que a tal liberdade criativa alardeada – e que serviu de álibi para “Unlimited Love” – dá as caras novamente. Na maioria do tempo, temos uma banda acomodada, produzindo música que não será lembrada mais tarde. No placar do álbum, tivemos quatro canções boas, nove irrelevantes e cinco ruins, comprovando a minha impressão sobre a totalidade de “Dream Canteen”. Mas, ao contrário de “Unlimited Love”, as boas canções são, de fato, bem interessantes e apontam para uma banda que ainda tem, lá no seu íntimo, o desejo de produzir música que pareça nova. O grande inimigo dos Chili Peppers é, sem dúvida, a acomodação.

 

 

Ouvindo o single “Eddie”, em homenagem a Eddie Van Halen, a gente tem uma revisita a formatos interessantes abordados em discos como “By The Way”, de 2002. Temos um arranjo tangenciando o alternativo de guitarras americano, com uma letra sentimental e boa performance dos músicos. “The Drummer” também mostra formato diferente do normal, numa levada rapídíssima e ensandecida de Chad Smith, com Flea e Frusciante acompanhando de perto, em meio a uma melodia quase beatlemaníaca. Já “Peace And Love” lembra um pouco do que a banda pode fazer em seus próprios domínios quando está inspirada, um funkão lento e com um baixo gorducho irrepreensível. E “Fake As Fu@k, melhor que todas as canções de “Californication” somadas, lembra até um pouco o riff de “Homem Primata” em certo momento. No terreno das canções ruins, um desfile de horrores, como “My Cigarette”, “Afterlife”, Handful” e as imperdoáveis “La La La La La” e “In The Snow”. O resto – nove faixas – habita um limbo criativo de dar dó.

 

 

“Return Of The Dream Canteen” é um álbum que vai ser celebrado por fãs, alegando que a banda esteve “livre de pressões”, produzindo um trabalho relevante. Mas trata-se de mais um álbum burocrático, enorme, cheio de momentos esquecíveis. Se o grupo peneirasse seus dois discos duplos do ano, certamente o resultado seria muito melhor.

 

 

Ouça primeiro: “Eddie”, “Fake As Fu@k”, “The Drummer”, “Peace And Love”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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