Onze artistas atuais do power pop

 

 

E acho que o power pop é uma das mais adoráveis possibilidades do rock. Ele foi inventado por acaso, talvez pelos Beatles, quando resolveram pesar um pouco mais as guitarras em meio às suas melodias perfeitas. Talvez “Drive My Car” seja uma espécie de marco zero, vá saber. O fato é que, dos anos 1960 para cá, muita gente embarcou nesta receita simples, porém difícil de ser executada com perfeição: melodia doce e ensolarada, devidamente turbinada por guitarras com peso suficiente para não tornar a gravação uma “balada” ou uma “lentinha” e que, mais ainda, mantivesse o original capaz de ser tocado de forma acústica sem grandes perdas. Como eu disse, parece fácil, mas não é.

 

 

O fato é que o power pop passou por um revival importante nos anos 1990, liderado por bandas como Teenage Fanclub, Velvet Crush, Sloan, Gigolo Aunts e artistas como Matthew Sweet, que retomaram a receita – que parecia meio esquecida nos anos 1980 – e, com as informações daquela nova década, criaram uma variação própria do estilo, que ainda está por aí, sendo revisitada e ressignificada por um monte de artistas atuais. O power pop hoje vive nos projetos pessoais de artistas que gravam todos os instrumentos num laptop, montam e mixam tudo e lançam com qualidade de som perfeita. Também há bandas, duplas, colaborações, ou seja, o mundo do power pop existe firme e forte e a gente resolveu escalar um time com onze desses paladinos da melodia e do pesinho para mostrar a você que há muita coisa bacana para ouvir. Talvez você conheça alguns, talvez todos sejam absoluta novidade, mas, o que garantimos aqui é que a incidência de canções adoráveis e discos sensacionais e muito, muito alta. Vem com a gente.

 

 

The Demos – direto de Rochester, Nova York, o The Demos é um quarteto que transitou do rock alternativo mais genérico em direção ao power pop. O último álbum, “24 Hours Hotline”, lançado há dois meses, parece uma coletânea de singles e, na verdade, é, uma vez que foi composto durante a quarentena da covid-19, via Skype. Uma joia.

 

 

 

 

Dust Star – duo formado por Justin Jurgens e Cameron Wisch, que iniciaram a banda chapados, numa noite de Halloween. Eles só têm um álbum até agora, o ótimo “Open Up That Heart”, que alterna momentos mais pesados com verdadeiras delícias crocantes e coloridas, lançado há menos de um mês.

 

 

 

 

Young Guv – este é o alterego artístico de Ben Cook, um canadense que tem os mesmos tiques e taques de um Teenage Fanclub jovem e indie. O cara lançou o ótimo “GUV III” no primeiro semestre desse ano e soltou o “GUV IV”, gravado nas mesmas sessões, no início de julho. A receita é a mesma, ainda que a música de Cook venha mostrando cada vez mais influência de timbres e detalhes dos anos 1980, o que vem dando nova dinâmica para o power pop mais clássico que praticava. Ainda assim, tudo o que o cara compõe é maravilhoso, corram atrás.

 

 

 

 

Linda Lindas – um quarteto de Los Angeles, o Linda Lindas é formado por meninas que têm entre 11 e 17 anos. A sonoridade delas é mais puxada para o punk pop, porém engana-se quem pensa que as meninas são apenas fofinhas e legais. O single “Growing Up”, faixa-título de seu álbum, é uma cacetada na lata sobre deixar de ser criança. Aliás, a faixa que encerra o disco é a explosiva “Racist, Sexist Boy”, um hit empoderador instantâneo.

 

 

 

 

Scott McCarl – Scott chegou a fazer parte do The Raspberries, grupo de Eric Carmen, um dos grandes baluartes do power pop original, do início dos anos 1970. O homem vagou ao longo dos anos em vários projetos musicais e pessoais, mas lançou um disco iluminado em abril de 2022, o ótimo “Play On”, no qual revive toda a excelência melódica do passado que se torna presente. Uma lindeza surpreendente.

 

 

 

 

The Berries – se você procura aquela variante do power pop em que ele se encontra com elementos do folk e do coutry, The Berries é a sua banda. Formada por Matt Berry como um projeto de bedroom pop em Seattle, o grupo registrou seu segundo álbum no início deste mês de agosto, o excelente “High Flying Man”. A diferença é que Berry chamou sua banda de turnê para tocar no estúdio e o resultado é muito mais orgânico e interessante. Um dos tesouros secretos de 2022.

 

 

 

 

Buzzard Buzzard Buzzard – este é um quarteto inglês, que mistura tonalidades glam ao seu power pop, mais ou menos do mesmo jeito que o sensacional grupo americano Redd Kross fazia no início de sua carreira, na virada dos anos 1980/90. O Buzzard é uma lindeza de melodias ensolaradas, guitarras crocantes e pianos à la Elton John, completando a receita com uma deliciosa tendência para a perfeição sônica. O disco “Backhand Deals”, de fevereiro deste ano, é a prova cabal disso.

 

 

 

 

Kelley Stolz – americano de Detroit, guitarrista que acompanha o Echo And The Bunnymen em turnês, Stolz é um mago musical. O cara domina a arte de escrever pop songs douradas, além de ter ótima mão para guitarras, ganchos e melodias. Seu último álbum, “The Stylist”, é um compêndio de influências maravilhosas, de Steely Dan a Fleetwood Mac, passando pela equação power pop com muita elegância. Ouça e se surpreenda.

 

 

 

 

Tony Molina – este é um dos artistas mais interessantes surgidos nos últimos tempos. Molina é californiano, iniciou-se como músico pela via do hardcore, mas logo encontrou seu caminho escrevendo pepitas power pop de … um minuto de duração. Canções completas, com melodia, refrão ou solo, tudo perfeito. A inspiração: Teenage Fanclub e Matthew Sweet. O cara é ótimo tanto em canções mais pesadas, como em baladas acústicas e seus discos não chegam a quinze minutos. Em breve teremos uma matéria só dele por aqui, mas, caso você queira sacar como ele opera esses milagres vá direto à sua estreia, “Dissed And Dismissed”, de 2014.

 

 

 

Supercrush – este é um trio formado pelo americano Mark Palm em Vancouver, Canadá, para onde se mudou há poucos anos. A ideia do Supercrush é reviver a excelência do power pop noventista, pegando emprestadas as sonoridades de gente como Weezer, Matthew Sweet e Teenage Fanclub. O resultado foi o álbum “Sodo Pop”, de 2020, mas o trio já lançou um EP em 2022, o ótimo “Melody Maker. Novo disco já está sendo gravado e tem lançamento para muito breve.

 

 

 

Fancey – Todd Fancey é um jovem veterano da cena power pop. Tocando com o New Pornographers desde o início dos anos 2000, Fancey também lança discos solo e, quando os faz, pensa que está na Califórnia ensolarada dos anos 1970. Seus álbuns são verdadeiras cápsulas do tempo e ele acaba de lançar mais um desses artefatos sonoro-temporais, o belíssimo “Star Dreams”, que tem a cantora canadense Micae em todas as faixas. É uma belezura perfeita.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Onze artistas atuais do power pop

  • 23 de agosto de 2022 em 23:15
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    A discografia completa do Tony Molina não chega a uma hora de duração, esse cara é bizarro!

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