O disco multicolor do Foo Fighters

 

 

 

Foo Fighters – Medicine At Midnight

Gênero: Rock alternativo

Duração: 36 min
Faixas: 9
Produção: Greg Kurstin
Gravadora: Roswell/RCA

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

Está disponível nos serviços de streaming a nova criação de Dave Grohl e seus amigos: “Medicine At Midnight”. Os mais antenados já havia capturado o álbum nos blogs especializados, visto que ele já circulava nos becos da Internet duas semanas antes do lançamento oficial. O fato é que, finalmente, Grohl e sua turma usaram seu prestígio e visibilidade para ousar um pouco na direção certa. Ainda que o Foo já tenha feito alguns movimentos com o propósito de demonstrar algum sangue nas veias em relação a não criar limo em sua música, todos eles eram meio tímidos. Fazer um disco/programa de TV com produtores diferentes e cidades diferentes? Parecia bom, mas o resultado, “Sonic Highways” (2014), foi decepcionante. Fazer discos ao vivo? “Skin And Bones” (2006) é bem chatinho e monótono. Até agora, o feito mais interessante deste pessoal no sentido de variar sua fórmula de rockão alternativo anabolizado tinha sido uma faixa acústica em dueto com Norah Jones, “Virgina Moon”, perdida no álbum duplo – e chato – “In Your Honor” (2005).

 

Ainda que a associação com o produtor Greg Kurstin, que pilota os álbuns do Foo desde “Concrete And Gold”, de 2017, tenha acenado com uma simpatia de Dave e cia. em relação a timbres mais pop, nada que a banda tenha feito até agora se comprar com este “Medicine At Midnight”. Ele é, de fato, um disco mais colorido e alegre, sem qualquer responsabilidade de manter o mesmo padrão “roqueiro” de sempre. Aliás, tal padrão é totalmente questionável, uma vez que o Foo Fighters se tornou sinônimo de rock viável comercialmente. Este álbum afrouxa essas fronteiras, insere um monte de clichês oitentistas de gente como INXS, por exemplo, dando às canções uma pegada que alia riffs mais farofentos de guitarra, algumas tentativas de inserir fraseados dançantes de funk branquelo e uma postura bem mais desencanada.

 

Claro, há momentos em que as tentativas não são totalmente bem-sucedidas. O single “Shame Shame”, primeiro a sair nas redes, é uma tentativa de evocar algo híbrido, cheio de percussão eletrônica, melodia angular e arranjo mais dançante e colocar nas padronagens sonoras habituais do grupo. Deu errado. Depois veio “No Son Of Mine”, que preserva a equação pós-grunge melódico/rock alternativo que o Foo segue desde sua origem, mas com um pouco mais de peso, especialmente na bateria. E também veio a semi-balada pacifista “Waiting On A War”, canção bastante legal sobre a perspectiva de uma guerra estourar sobre nossas cabeças. Três canções totalmente diferentes, que apontam um evidente desejo de diversificar e acrescentar novas informações.

 

O álbum mostra, pelo menos, quatro momentos em que tal desejo foi atingido em cheio. A terceira faixa, “Cloudspotter”, é uma sensacional mistureba de timbres roqueiros com levadas dançantes e malandragem guitarreira. Há riffs e propulsões pesadinhas, mas uma atenção especial com chacunduns e licks mais rodopiantes. Os vocais meio sussurrados de Grohl são totalmente influenciados por Michael Hutchence. “Holding Poison” é outro momento em que as guitarras são colocadas a favor de uma melodia sacolejante, que poderia ser até do Duran Duran, se tivesse menos atenção ao peso dos riffs, definição que também serve para faixa-título. E também tem uma balada à la McCartney, “Chasing Birds”, que tem uma total pegada oitentista de canção de FM. A melodia é bela, o arranjo é crescente, com belo trabalho de guitarras e violões e surpreende até o mais cético dos seres.

 

“Medicine At Midnight” é legal, traduz, finalmente, alguma inquietude artística em Dave Grohl, um cara que parece ser gente boa e detém fluência no rock, mas que, até agora, parecia ter medo de sair de sua concha. Saiu e mandou bem. Ouça enquanto faxina sua casa no sábado de manhã.

 

Ouça primeiro: “Chasing Birds”, “Holding Poison”, “Medicine At Midnight”, “Cloudspotter”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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