Norah Jones – Pick Me Up Off The Floor
Gênero: Pop alternativo
Duração: 45 min.
Faixas: 11
Produção: Thomas Bartlett, Jeff Tweedy
Gravadora: Blue Note/Capitol
Norah Jones surgiu lá no início dos anos 2000 como uma cantora de jazz. A bordo de seu piano e seu canto quente e melífluo, ela conquistou uma legião de fãs já na estreia, com “Come Away With Me”. Só que a moça nunca se contentou com os limites impostos por rótulos e se aventurou por folk, pop, country e outros terrenos, criando uma obra bastante diversa, mas sempre marcada por seu talento. Já colaborou com Foo Fighters, Herbie Hancock, Jeff Tweedy e um monte de gente boa. De 2016 para cá, Norah vinha gravando de forma esparsa, até que decidiu lançar singles pelos serviços de streaming, especialmente ao longo de 2018. Um ano depois, tais gravações foram parar no EP “Begin Again” mas, enquanto escolhia quais faixas revelar ao público, Norah continuou gravando. O resultado foi um monte de canções que pediam por um lançamento e tal fato se materializa com este bom “Pick Me Up Off The Floor”.
Ao contrário do que pode parecer, o disco não tem qualquer problema com alguma eventual falta de coesão. As onze faixas são produzidas por Thomas Bartlett e Jeff Tweedy, que trabalharam separadamente, com contextos distintos. Tal fato não é perceptível ao ouvinte, uma vez que Norah brilha em vários momentos, conferindo belas interpretações, especialmente participando com seu piano em momentos até surpreendentes. De 2002 para cá é impressionante o amadurecimento que ela exibe, especialmente por ter a rara capacidade de se apropriar de vários elementos e manter-se reconhecível durante todo o tempo. Seja pela voz, pela desenvoltura pianística ou mesmo pelo bom gosto dos arranjos, a mulher não está para brincadeira.
Os melhores momentos do álbum estão, justamente, nas faixas em que Norah escapa do que o senso comum entende por “jazz”. Seu brilho está, hoje em dia, nos híbridos de country e folk, com alguma pegada mais próxima do soul levíssimo. Em certas horas, ela brinca com um pop à moda antiga, setentista, que a coloca próxima de gente como Emmylou Harris ou Linda Ronstadt, com uma voz que tem até mais recursos e nuances que estas. Quando brinca com a “modernidade”, Norah também se sai bem, como na exuberante – porém discretíssima – “Hurts To Be Alone”, em que evoca algo das baladas soul pop das FMs setentistas, com destaque para um piano etéreo e alguma percussão eletrônica ultraleve. Um pequeno milagre.
Em “I’m Alive”, pequeno libelo pela resistência feminina, criação com Jeff Tweedy, Norah brinca com a estutura de canção típica do Wilco – banda de Tweedy – e se sai bem. A canção vai crecendo e pega emprestada alguma levada pianística jazzística e se transforma num híbrido total flex de belezura. “This Life” também é lindona, lembrando algo que você poderia ouvir num bar de aeroporto em algum filme setentista de amor partido. A voz de Norah – e os backing vocals – atingem momentos de beleza extrema e doída. “Flame Twin” tem certa proximidade com o funk estilizado, enquanto “Were You Watching” inclui violinos em meio a uma levada marcial pianística. “Stumble On My Way” é outro momento de sutileza vocal em meio um clima aveludado e misterioso.
“Pick Me Up Off The Floor” é um dos melhores discos que Norah Jones lança em muito tempo. Seu forte é a versatilidade e a capacidade de manter suas principais características como intérprete, instrumentista e compositora. Uma pequena notável.
Ouça primeiro: “Hurts To Be Alone”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.