Morreu Robbie Robertson
Eu conheci a música de Robbie Robertson antes de conhecer a obra do grupo que ele ajudou a fundar e que se tornou um dos mais importantes da história do rock, a The Band. Uma distorção temporal, por certo, mas aconteceu assim. Quando Robbie lançou seu primeiro álbum em 1987, a canção “Fallen Angel” se tornou uma das minhas mais queridas assim que a ouvi. Lembro de ler uma resenha na antiga revista Bizz e, a partir dela, comprar o álbum e colocar The Band como uma das prioridades para o meu plano de expansão sonora, que envolvia comprar um aparelho tocador de CDs. Era 1988/89.
Por mais que o álbum de 1987, homônimo, fosse sensacional, com participações de Bono e Peter Gabriel, além da produção de Daniel Lanois, a grande contribuição de Robbie foi, de fato, com a The Band. Assim como a maioria do grupo, ele era canadense, mas o tempo faria dA BANDA, o conjunto de músicos mais capazes de traduzir o espírito da música estadunidense por excelência, vinculada ao folk, calcada no blues, descobrindo e mesclando uma carga de significados no novo membro desta família de ritmos, o rock. Foram esses caras, além de Robbie, Garth Hudson, Levon Helm, Richard Manuel e Rick Danko, que acompanharam Bob Dylan quando este resolveu eletrificar seu som. Estavam com ele no palco quando algum idiota o chamou de “Judas” por conta disso. Começaram como The Hawks e, por conta da importância de quem acompanhavam, se tornaram A BANDA, THE BAND.
Mas não se restringiram a músicos coadjuvantes. Em 1968 lançavam um dos álbuns mais importantes da história da música pop: “Music From The Big Pink”, cuja primeira faixa é a antológica “The Weight”. No ano seguinte vieram com o que considero seu melhor álbum, “The Band”, com a capa trazendo uma foto da banda que poderia ser de 1869. Em seu interior, canções que sintetizavam esta visão da América como melting pot musical e, a partir disso, cultural. Encerraram sua carreira cedo, em 1976, com um show de despedida que trazia convidados com Van Morrison, Joni Mitchell, The Staple Singers e, claro, o próprio Bob Dylan, entre outros. O show virou disco que virou filme: “The Last Waltz”, servindo como porta de entrada de um jovem cineasta na linguagem dos filmes biográficos sobre música. Seu nome? Martin Scorsese.
Por conta de tantas contribuições e tantas participações, Robbie Robertson, meio que a “cara” da The Band, era seu integrante mais conhecido. Agora, dentre os cinco originais, apenas o organista Garth Hudson permanece por aqui. Na verdade, isso nem tanto importa, o legado desses sujeitos já está assegurado em todo lugar em que a música seja levada a sério. Robbie permaneceu ativo até seus últimos dias. Seu último trabalho é a trilha sonora de “Killers Of The Flower Moon”, o novo filme de Martin Scorsese. Que descanse em paz. E obrigado, Robbie.
Abaixo deixo o clipe belíssimo de “Fallen Angel”, a música que me apresentou Robbie, lá em 1988. E também deixo um vídeo belíssimo da ONG Playing For Change, no qual o clássico da The Band, “The Weight” é interpretado por músicos de cinco continentes, inclusive o próprio Robbie e Ringo Starr.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.