MOMO – I Was Told To Be Quiet

Gênero: Folk alternativo
Duração: 38 min
Faixas: 10
Produção: Tom Biller
Gravadora: Lab 344

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

MOMO é Marcelo Frota e este belo “I Was Told To Be Quiet” é seu sexto disco de inéditas. Em inglês o título entrega: me disseram para ficar quieto. Ou em silêncio. É ironia, mas é declaração de intenções que encontra paralelo naquilo que a Bossa Nova teve de melhor: a sutileza, o movimento silencioso de montanhas através do tempo. Este disco tem parentesco com aquele momento, aquele espírito. MOMO, residente em Lisboa já há algum tempo, gravou este feixe de dez canções em Los Angeles e se saiu com uma mescla bem feita de sonoridades tradicionais com certa aura indie. Há algumas incongruências, mas, em linhas gerais, tudo funciona por aqui.

 

Com composições em inglês, francês e português, o álbum vai fluindo gentilmente. Os arranjos enfatizam o aspecto acústico dos violões e guitarras, mas abrem espaço para pianos, cordas, bateria, tudo como o título sugere: sem barulho, sem esporro, apenas o essencial. Mas a tal sutileza que exaltamos no conjunto não serve de restrição para as influências que circulam por aqui. “Vida”, por exemplo, talvez a mais bela canção por aqui, tem débito com as levadas de violão dos tempos do Clube da Esquina, enquanto mistura elementos eletrônicos e percussivos, além de efeitos fragmentados, que dão a noção exata de que o tempo é utilizado a favor da criatividade e do resultado final.

 

“Higher Ground” tem a mesma lógica: cordas lindamente posicionadas, adornando violões, são invadidas por ondas de percussão como se fosse inevitável. A letra tem um verso definitivo e singular: “smiles have no country”, algo que serve como uma luva para quem vê o Brasil de longe e às vezes topa com o gelo do além-mar. Apesar de outras passagens mais inocentes da letra, o saldo final é altamente positivo. “Diz A Verdade” é outro bom exemplo do “passado encontra o presente que já é futuro” em termos de arranjos e equilíbrio de influências. Com efeitos que lembram a bela “Balada do Amor Inabalável”, do Skank, MOMO imprime um ritmo bossanovista sem ser saudosista, algo raro.

 

“Lillies For Eyes” amplia este cabo de guerra temporal/estético, com efeitos bem postados em meio a uma levada mais clássica, talvez mais próxima do folk britânico dos anos 1960, evocando Nick Drake e Fairport Convention, com verniz atualíssimo. “Sereno Canto”, que fecha o álbum, vem com um discretíssimo tamborim batucado tenazmente sob as camadas de cordas, teclados e outros detalhes que vão surgindo no meio do caminho. Este movimento percussivo dá à faixa uma melancolia de fim de carnaval, de fim de tudo, meditação profunda que fazemos por um segundo sob a chuva ocasional. “Parece que agora estamos velhos e sem posses, mas sem medo”, como se tudo/nada fosse inevitável.

 

“I Was Told To Be Quiet” é um disco poderoso sob uma aura de fragilidade. Como as mudanças mais significativas, ele opera de dentro para fora, resultando em algo mais profundo do que parece. Uma beleza.

 

Ouça primeiro: “Sereno Canto”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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