MGMT volta com sua melancolia psicodélica

 

 

 

 

MGMT – Loss Of Life
45′, 10 faixas
(Mom+Pop)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

 

Já se vão incríveis dezessete anos desde que o duo MGMT surgiu no mundo com o hit “Time To Pretend”. Quando ouvi a canção, parecia que era uma faixa perdida de algum álbum do grupo Flaming Lips, veterano combatente da psicodelia em meio ao rock americano alternativo dos anos 1990, que chegara ao sucesso com uma trinca de belos discos, “Soft Bulletin” (1999), “Yoshimi Battle The Pink Robots” (2002) e “At War With The Mystics” (2005). O clima de “Time To Pretend” expunha a afeição pelo formato de canção psicodélica alternativa obtido pelo Flaming Lips, que não abria mão de um inegável elemento indiepop para conduzir as maluquices tecladeiras e seus efeitos especiais borbulhantes. Além dessa faixa, o MGMT também emplacou outros hits naquele 2007, como “Electric Feel” e “Kids” e fez de sua estreia, “Oracular Spetacular”, um dos grandes álbuns daquele ano. E, claro, deixou uma espectativa imensa no público. Afinal de contas, o que viria no próximo disco? O que seria capaz de igualar ou ultrapassar aquela estreia? Pois bem, aqui estamos nós, já no sexto trabalho de Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser, os cérebros pensantes do MGMT, e eles parecem apreciar a jornada e não a chegada. Explicamos.

 

“Loss Of Life”, seu novo disco, é uma lindeza. Bem produzido, cheio de boas canções e com uma irresistível faixa, “Mother Nature”, que mistura o já mencionado clima do Flaming Lips do início dos anos 2000 e um toque que, para meus ouvidos cansados e combalidos, lembra George Harrison. Ou melhor, o que desejamos que George continuasse sendo: um pós-elemental acima do bem e do mal. Não há dúvidas de que Goldwasser e VanWyngarden têm a manha para compor e pensar em grandes canções, mas o que fica evidente – talvez depois de tempo demais – é que o MGMT não está preocupado em ter um formato específico ou oferecer canções bem resolvidas. O que os sujeitos querem é mesmo dar sua versão do rock alternativo atual, algo que fica com menos e menos sentido dadas as condições da produção musical de hoje. Isso não importa. O que permeia as dez faixas do novo álbum é um painel de dúvidas diante da passagem do tempo e a constatação de que, sim, ele não volta mais.

 

A gente sempre defende: perceber a passagem do tempo é avançar algumas casas no tabuleiro da vida, sem exagero. Se pararmos um pouco para compreender os motivos disso e como acontece, as chances de termos mais paz em nossas vidas aumenta exponencialmente. O problema é que, uma vez percebida a finitude inescapável das coisas, a gente também admite perder um monte de coisas…para sempre. E toda essa filosofia barata que estou usando aqui – mas que é verdadeira – parece ter sido a grande inspiração do MGMT por agora. Sendo assim, no meio do balanço entre a doçura pop do início – e que se mantém em algum ponto escondido – e a maturidade musical, o grupo oferece faixas com arranjos belos, trabalhados, contemplativos, que abordam informações do pop anglo-americano de várias décadas para cá, com belezura e propriedade.

 

“People On The Streets”, por exemplo, é uma canção pop folk, com elementos bem resolvidos de pop oitentista, que fala sobre o vai-e-vem constante do mundo, talvez visto de uma janela de transporte público ou mesmo antes de dormir, quando passamos a limpo o que vimos recentemente. A perplexidade sobre o tempo está lá, assim como também está em “Nothing To Declare”, que mais parece uma canção folk dos Beatles circa 1968. E em “Nothing Changes”, esta muito mais próxima do popão pós-rock alternativo dos anos 2000, cheia de belezuras no arranjo. “Bubblegum Dog” lembra muito o David Bowie dos tempos de “Hunky Dory”, apostando numa revisita psicodélica daquele período – 1972 – e avançando rumo a lugares obscuros. E tem o pop perfeitinho de “Dancing In Babylon”, com participação do grupo Christine And The Queens, que lembra uma canção perdida do Fleetwood Mac do início dos anos 1980. Tudo funciona, tudo faz sentido.

 

“Loss Of Life” é a prova de que o MGMT não foi feito para grandes e unânimes gostos. Sua obra é multifacetada, peculiar e com maneirismos mil. Não é fácil como parecia ser e isso é bom. Ouça com atenção.

 

 

Ouça primeiro: “Mother Nature”, “Dancing In Babylon”, “Nothing To Declare”, “Bubblegum Dog”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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