Impossível não se apaixonar por Laufey

 

 

 

 

 

Laufey – Everything I Know About Love
45′, 13 faixas
(AWAL)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

 

Eu desafio você, que lê este texto, a não se apaixonar por Laufey. Seu primeiro álbum, “Everything I Know About Love” é uma das estreias mais bem sucedidas do verão do lado de cima do planeta, um verdadeiro diário de canções belíssimas, criadas por ela, que tem 23 anos, dentro da mais bela tradição jazz-bossa nova que se tem notícia. A cantora e compositora islandesa de ascendência chinesa, cresceu num ambiente musical, em que misturava as influências clássicas da mãe com os discos de jazz do pai. A menina aprendeu a tocar piano, cello e violão. Aprendeu a cantar com um timbre de voz impressionante e, mais que tudo, aprendeu a compor com suavidade e personalidade. Participou de programas na TV islandesa, ganhou uma bolsa de excelência para a Berklee School de Boston e vinha muito bem, começando a compor e aprimorar-se, até que veio a pandemia de covid-19 e as aulas de Laufey foram interrompidas.

 

 

Com o que já aprendera, Laufey começou a compor canções próprias, com muita naturalidade. Ativa nas redes sociais, ela postava vlogs e lives, até que soltou uma composição autoral, “Street By Street”, que logo se destacou e foi parar no primeiro lugar na Islândia. Em seguida veio um EP, “Typical Of Me”, com sete canções próprias, que chamaram a atenção de muita gente, inclusive de Billie Eilish e Willow Smith, que começaram a falar do trabalho da menina. Pronto. O caminho para Laufey tornar-se uma novidade global estava aberto e tudo isso aconteceu há cerca de um ano. Formada na Berklee e morando em Los Angeles, a menina iniciou os trabalhos para lançar este primeiro disco, que chega agora, muito aguardado lá fora. Com uma turnê pelos Estados Unidos já esgotada e com shows marcados para a Europa, certamente Laufey é uma das grandes novidades sonoras hoje.

 

 

Mas, e aí? Você nem sabia que ela existia até esses dois parágrafos acima, certo? Podemos entendê-la como uma espécie de Norah Jones, bem mais instigante porque tem um timbre de voz impressionante. O registro sonoro de Laufey é grave, mas doce. Ela parece uma mulher dos anos 1940, fazendo música hoje. Suas referências de jazz vocal clássico e Bossa Nova dão um tom de profundidade ao seu canto, mas ela escapa gloriosamente de soar datada de nostálgica demais, porque é uma jovem que age e parece pensar como tal. Várias de suas letras são sobre sonhos e crescer, entendendo o trato com o amor como uma etapa essencial desse crescimento. Como ela mesma já disse em entrevistas, “fui criada com muita proteção, numa espécie de caixa transparente, muito segura. Minhas canções são sobre as primeiras batidas na parede dessa caixa e sobre minha vontade de sair dela e ver quem bateu”.

 

 

As canções de Laufey são muito bem pensadas e belas. Com arranjos que unem violão, píano e cordas, além de suave percussão, ela plana feliz sobre suas inspirações maiores. “Fragile” e “Falling Behind” são dois beijinhos de Bossa nova sob o sol do outono carioca idealizado e congelado no tempo. Não só pelo arranjo e pela melodia, a voz da menina é impressionante. Outras belezuras como “Beautiful Stranger”, “Dear Soulmate”, “I’ve Never Been In Love Before” soam frescas e sinceras no universo que Laufey propõe ao ouvinte, em que é possível dar um tempo das modernidades líquidas e invasivas e, sei lá, pensar na vida com calma, muita calma. Mas em canções como “Above The Chinese Restaurant”, está a Laufey que responde por esta certeza de que, apesar de tudo, estamos em 2022. Mas, bem, de uma forma mais gentil e adorável.

 

 

Misturando passado, futuro e presente, a gente repete o desafio: tente não se apaixonar por Laufey. Sua música, talento e doçura parecem ter vindo para ficar. Um beijo de verão no rosto de quem já estava indo para o inverno, conformado e se protegendo do frio cortante.

 

 

Ouça primeiro: “Above The Chinese Restarant”, “Falling Behind”, “Fragile”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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