Lake Street Dive – O novo velho pop
Lake Street Dive – Obviously
Gênero: Pop, soul
Duração: 42 min
Faixas: 12
Produção: Mike Elizondo
Gravadora: Nonesuch
Se você costuma passear pelos streamings da vida já deve ter topado com o Lake Street Dive nas playlists de “Adult Conteporary” ou algo assim. O grupo de Boston tem um trabalho bem legal, que foi encorpando com o tempo, partindo de um início mais alternativo e próximo do jazz vocal estilizado para chegar ao que é hoje: uma ótima mistura de pop e soul vintage, com uma pegada sob medida para figurar em programações de emissoras de rádio FM, caso elas ainda existissem aqui no Brasil ou se os programadores das remanescentes fossem minimamente antenados com o que acontece de legal no mundo da música. O fato é que este sétimo álbum dos caras é uma belezura palatável e especialmente indicada para o pessoal que se sente órfão do pop oitentista de gente como Phil Collins, Eurythmics (pós-1985), Stevie Wonder (fase “The Lady In Red”) e outros artistas que faziam o que a gente costumava chamar de “pop radiofônico”. Absolutamente tudo funciona por aqui.
O charme do LSD está na ótima vocalista Rachael Price, que tem um registro versátil, que vai do doce ao áspero na mesma faixa e na presença do tecladista/vocalista Akie Bermiss, que tem as manhas do ofício, lembrando bastante Michael McDonald. Ou seja, o grupo tem um foco no melhor das paradas oitentistas, com uma visão atual, que elimina a sensação de nostalgia, mas preserva aquelas características queridas – boa produção, bons músicos, inserção de timbres de teclados e sintetizadores – tudo bem dosado e bem produzido. Nada disso adiantaria, porém, se o grupo não fosse capaz de escrever boas canções e isso é um de seus trunfos. As 12 canções presentes neste álbum parecem uma experiência de laboratório, na qual foi pedido aos cientistas um feixe de composições que poderiam estar nas paradas de sucesso lá por 1986. E eles conseguiram, com o detalhe que emprestaram muito desta pegada “vintage” de hoje, que, justo por revisitar aqueles timbres de antanho, acabaram por dar-lhes uma leve ressignificada, resultando num jogo de gato e rato entre as duas épocas. No fim das contas, o que fica evidente mesmo é a habilidade dos caras.
Rachael tem ótimas sacadas de letrista. Em “Being A Woman”, cheia de pegada dançante em midtempo, ela se sai com o verso “being is a full time job”. E há vários outros ao longo de todo o álbum, mas o barato aqui é se admirar com a habilidade não-pentelha dos músicos (além de Rachael e Akie, temos a baixista Bridget Kearney, o guitarrista Mike “McDuck” Olson, e o baterista Mike Calabrese. E fica evidente a capacidade de enfileirar boas canções que essa gente tem. De cara já ficamos com “Hypotheticals”, que tem potencial pop-soul de primeira categoria, entre o dançante e o introspectivo, numa belezura que já coloca o ouvinte em alerta. “Hush Money” já envereda pelo terreno do rock light de um Eagles ou algo no gênero, envolvendo a melodia que tem pitadas comedidas de soul. “Same Old News” já é um explendor jazz pop que poderia ser de uma Chaka Khan em seu período oitentista, com DNA notável da cena de Los Angeles do início dos anos 1980, no sentido Quincy Jones na produção.
Há uma canção absolutamente perfeita, na qual Rachael é secundada por um ótimo coro de apoio, “Making Do”, que tem DNA soul setentista e arrebenta num belo refrão no qual a voz de Rachael plana absoluta sobre a paisagem. “Nobody’s Stopping You Now” mata a saudade da gente de uma bela balada de FM, levada por pianos e letra sentimental, ela avança pela segunda metade do álbum, para ser sucedida pelo funkinho pop “Know What I Know”, que menciona até a E-Street Band, do Boss Bruce, em sua letra. “Lackluster Lover” segue neste terreno de leves teores funk-soul, com outro belo trabalho de arranjo, enquanto “Anymore” é a balada que Phil Collins jamais compôs e jamais gravou, uma verdadeira lindeza sentimental. “Feels Like The Last Time” e “Sarah” encerram o álbum com outras alternativas para este modelo pop perfeito oitentista que a banda incorporou tão bem.
Ainda que o Lake Street Dive esteja em atividade desde 2010 e já conte com outros seis álbuns no currículo, nunca é tarde para descobrir. Ouça esta delícia sonora e vá pela carreira dos caras. A garantia de descoberta de novas velhas canções é total. Palavra de Célula Pop.
Ouça primeiro: “Nobody’s STopping You Now”, “Lackluster Lover”, “Making Do”, “Anymore”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.
Eles são muito bons.
Excelente!!!, descobri a banda no ano passado no programa do Jools Holland, fiquei apaixonado pela presença da vocalista e o swing da banda, além disso no mesmo programa eles se apresentaram junto ao grande Paul Simon.