Korn ressurge renovado e relevante

 

 

Korn – Requiem

Gênero: Rock alternativo

Duração: 32:39 min.
Faixas: 9
Produção: Chris Collier e Korn
Gravadora: Loma Vista

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

O tempo provou que as bandas que realmente interessavam no tal nu metal são Deftones e Korn. Cada uma a seu jeito, elas não abriram mão da inventividade e da relevância de suas propostas, sendo que a primeira, desde o início, procurava misturar suas guitarras e peso com toques de rock alternativo anglo-americano aqui e ali. O Korn, não, aliás, pelo contrário. Mesmo que – como o estilo pressupunha – tivesse sempre a proximidade com ritmos e programações do hip hop, o Korn sempre foi mais esperto e criativo, prezando as boas composições e o ótimo ataque de guitarras que sempre esteve presente. Com o tempo, mais precisamente, em 2019, quando lançou “The Nothing”, o grupo do vocalista Jonathan Davis meio que resetou sua proposta e abriu espaço para uma olhada mais atenta para o tempo que estavam vivendo. Agora, dois anos depois, com “Requiem”, a banda está pronta para envergar essa proposta com clareza, inserindo elementos eletrônicos de forma sutil em sua sonoridade, sem abrir mão do peso guitarrístico e da violência habituais. E, sim, há sensibilidades pop no som pesado que saiu do fones de ouvido, fazendo de cada uma das nove canções do álbum um hit em potencial.

 

Interessante notar que há uma boa dose de otimismo nas letras, o que parece ser fruto de uma temporada sem pressões e prazos curtos, cortesia do isolamento social da covid. Com um senso de propósito renovado e uma ideia sonora bem clara, os integrantes do Korn tiveram espaço e tempo para desenvolver a sonoridade como queriam, privilegiando a fluidez e a acessibilidade necessárias para levar suas canções para um patamar diferente. Quando saiu o primeiro single “Start The Healing”, cujo título já indica a fase vivida pela banda, o público teve certeza que o Korn estava tramando outro álbum direto e reto. É bom lembrar que, quando a gente fala que as canções são mais otimistas, não estamos acenando com o Korn entrando um álbum de canções pop sobre a chegada do verão, mas, vemos, sem dúvida, um punhado de novas composições que enxergam possibilidades no futuro e no presente, basta haver consciência e união.

 

A primeira faixa, “Forgotten”, traz o vocal poderoso de Jonathan Davis fazendo uma autoanálise com mão pesada, mas lembrando de conquistas e feitos, sem sentir pena de si mesmo. “Don’t feel bad for me/Don’t feel sad for me”. Essa proposta não resvala para qualquer chance de banalidade, uma vez que os guitarristas James “Munky” Shaffer e Brian Welch mandam acordes pesados e ágeis. Este movimento permeia todo o disco, se estendendo a todas as faixas, sem exceção. O ataque sônico do Korn é poderoso e conhecido, porém, neste novo álbum, está mais eficiente e sem tempo a perder. As porradas são rápidas e precisas. Canções como “Hopeless and Beaten” e “Penance to Sorrow”, disparadas em sequência, lá pelo meio do álbum, confirmam que, em algum lugar dessa novidade e sensibilidade reinantes, há a velha superposição de vocais guturais e melodiosos, o ataque de bateria prestes a acontecer e o hibridismo metálico em diferentes níveis de mistura.

 

Talvez a canção que mais represente este tal “Korn mais arejado e pop” que estamos falando, seja “Let’s The Dark Do The Rest”, que tem tudo o que a banda pode oferecer. Os vocais entremeados, o ataque duplo de guitarras, preciso e duro; o vocal melódico planando sobre todo o panorama. O que quebra a regra e arremessa a canção para este álbum, neste ano, é o verso “I just want to see what the future holds”, marcando a fé que o grupo tem no tempo presente e no que virá. E se você, mesmo achando legal a banda ter uma pegada um pouco mais otimista, quer mesmo o Korn de sempre, pode se divertir com “My Confession”, que tem aquela batida rap-metal que tanto os fãs amam, cheia de efeitos e sobreposições de guitarras, baixo e bateria. Fechando o álbum e temperando qualquer perspectiva de excesso de otimismo, temos a pesada e sensacional “Worst Is On Its Way”, outro momento de ouro para os fãs de longa data.

 

Ouvindo “Requiem” sem muito compromisso, fica bem claro que o Korn está cheio de energia e disposição, algo sempre legal para uma banda que já tem quase 30 anos de carreira e quatorze discos, contando este. Uma boa surpresa para fãs de ontem e de hoje.

 

Ouça primeiro: “Worst Is On It’s Way”, “Start The Healing”, “Lost In The Grandeur”, “My Confession”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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