Erasmo Carlos volta à Jovem Guarda em novo álbum

 

 

 

Erasmo Carlos – O Futuro Pertence À Jovem Guarda

Gênero: Pop, rock

Duração: 28:14 min.
Faixas: 8
Produção: Pupillo
Gravadora: Som Livre

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

Em termos quantitativos, Erasmo Carlos ficou bem menos tempo vinculado à Jovem Guarda do que o resto de sua carreira como cantor e compositor. E, dito isso, tornou-se um artista bem mais interessante e questionador a bordo de álbuns como “Sonhos e Memórias, 1941/1972” (1972), “1990 – Projeto Salvaterra” (1974) ou “Banda dos Contentes” (1975). Nada, porém, apaga ou diminui a força da presença dos tempos em que era O Tremendão, parceiro do Rei Roberto Carlos na direção dos carangos e na vida cheia de alegria, romance e brotos. Tudo bem que a Jovem Guarda ainda precisa de mais ações midiáticas para se livrar da injustíssima pecha de ser alienada, “só” romântica ou algo assim e discos como este cumprem esta função, mas não é só isso. Por trás do evidente abraço aos tempos idos, Erasmo brinda seus atentos fãs – e são muitos – com interpretações inéditas. Ele jamais cantou qualquer canção presente nesta seleção e isso é bem bacana.

 

Não devemos ouvir um disco como “O Futuro Pertence À Jovem Guarda” esperando grandes revoluções técnicas ou estéticas, a busca aqui é outra. Erasmo está com 81 anos, bem poderia estar em casa desfrutando de uma justíssima aposentadoria, mas o homem não para e vive de cantar, se envolver com música e shows. E ele faz o seu melhor nas oito interpretações do álbum. Com uma banda tinindo, com participações de Pedro Baby (guitarras) e Pupillo (percussões), Erasmo consegue oferecer o que lhe é possível em termos de voz e não trapaceia em termos de efeitos ou algo assim. Então, o que temos é o senhor Tremendão cantando com o máximo que tem, algo que é sempre admirável em termos de um artista desse porte. Se os arranjos não são originais, cumprem a função de envolver com moldura pop rock clássica os originais sacrossantos da Jovem Guarda. A produção de Pupillo é precisa e generosa, conferindo técnica e veracidade às canções e tudo funciona muito bem.

 

Das oito canções, sete são bem românticas, enquanto a última, “O Bom”, de Eduardo Araújo, responde pela faceta rock’n’roll de Erasmo. O arranjo é bem feito, na medida e atualiza sem adulterar as bases do original, de 1967. Tudo bem que a letra boba e meio sem lugar hoje em dia é concessão poética necessária quando se grava canção que já tem mais de 50 anos, mas isso faz parte do tipo de produto que é oferecido. Nas outras canções, Erasmo se sai melhor e chega a atingir a excelência interpretativa que o caracteriza. Em “Devolva-me”, comporta e gravada por Leno e Lílian, uma das mais belas canções românticas brasileiras de todos os tempos, Erasmo entrega sentimento e convence ao entoar a letra. O arranjo é na medida para a interpretação, tudo funciona muito bem. Outro ótimo momento, “A Volta”, é a única canção que ele compôs em parceria com Roberto Carlos presente no álbum. Originalmente gravada pelos Vips e ressuscitada nos anos 1990, ela é um clássico absoluto do estilo e já recebeu também gravação de Roberto.

 

Talvez o melhor momento do álbum seja a leitura acústica para “Alguém Na Multidão”, gravada pelos Golden Boys. Aqui fica evidente o talento de Erasmo para conferir fragilidade a uma interpretação, jogando com o otimismo da letra e a perspectiva de cura das feridas de amor. “Tijolinho”, de Bobby de Carlo, soa bonitinha como sempre, enquanto “Ritmo da Chuva” (versão de Demétrio para “Rhythm Of The Rain”, dos Cascades, de 1963) segue como uma das melodias mais belas daquela aurora do rock mais romântico do início dos anos 1960. Completando o roteiro estão a bela e tenaz “Esqueça” e “Nasci Para Chorar”, dois ótimos exemplos dessa Jovem Guarda existente além dos trabalhos de Roberto e Erasmo na época.

 

“O Futuro Pertence À Jovem Guarda”, com título tirado de uma frase de Lenin sobre a Revolução Russa, é um disco polido, elegante e simpático. Se não vai mudar o seu mundo ou quebrar barreiras, tem tudo para colocar um sorriso em seu rosto e despertar curiosidade pelos originais. E, além de tudo isso, Erasmo é Erasmo e isso é quase tudo.

 

Ouça primeiro: “A Volta”, “Esqueça”, “Ritmo da Chuva”, “Alguém na Multidão”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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