Green Book – Salve, Simpatia!

Um aviso: não há como não simpatizar com Green Book. É um filme extremamente legal, bem feito e com desempenhos individuais que valem a experiência na telona. Além das boas atuações, de Viggo Mortensen e Mahershala Ali, a história – baseada em fatos reais – a ambientação de época, trilha sonora, tudo conspira para o espectador se afeiçoar ao que está vendo. É um longa feito sob medida para um público relativamente exigente se esbaldar.

De fato, Green Book se vale de Mortensen e Ali, que vivem, respectivamente, Tony Vallelonga e Dr. Don Shirley. O primeiro, um guarda-costas, pau pra toda obra ítalo- americano, está desempregado e precisando de serviço. O outro é um prodígio do piano clássico que enveredou pela música popular por motivos contratuais. A missão que o músico negro propõe ao brutamontes: escoltá-lo numa turnê de apresentações pelo “deep south” dos USA, aquela região conhecida pela segregação racial em níveis vergonhosos. Mais que isso: Vallelonga será motorista, valete, assistente e cuidará da integridade física de Shirley durante o período de dois meses antes do Natal de 1962.

Este é o ponto de partida para uma jornada de autoconhecimento para ambos e de revelações interessantes que irão surgir. Vallelonga, uma espécie de racista funcional, que segue sem questionar os costumes dos italianos do Bronx novaiorquino, se vê confrontado com a vulnerabilidade de Shirley, que, por sua vez, se vê diante de vários questionamentos identitários prévios e futuros. A direção de Peter Farrelly, responsável por comédias brilhantes dos anos 1990, como “Quem Vai Ficar Com Mary” e outras nem tanto, como “Débi & Loide” e “O Amor É Cego”, mostra-se com talento surpreendente para amarrar essas questões espinhosas, extraindo do seu roteiro uma leveza incomum em filmes assim.

Mesmo que Mortensen lembre um pouco do mafioso com pânico de “Máfia No Divã”, não dá pra apontar uma falha sequer em “Green Book”. Mesmo leve, o filme não hesita em mostrar o quão lamentáveis são as questões segregacionistas – vigentes até hoje por aí – e as trata como disparates, mostrando reações que vão da indignação ao escárnio por parte dos personagens de Mortensen e Ali.

Detalhe simpático: Linda Cardellini, baita atriz com papeis ótimos em filmes tão díspares como “Scooby-Doo”, “Legalmente Loura” e “O Segredo de Brokeback Mountain”, aparece como a esposa de Tony, Dolores.

“Green Book” é divertimento seguro. Veja.

Green Book está indicado para 5 Oscars: Melhor Filme, Melhor Ator (Viggo Mortensen),
Melhor Ator Coadjuvante (Mahershala Ali), Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem.

 

Duração: 130 min.

Elenco: Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini

Direção: Peter Farrelly

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *