Fogo e Paixão: 10 anos de breguice e alegria!

 

 

O que é brega pra você, caro leitor da Coluna Coringa?

 

Brega é alegria. Brega é diversidade, canto, dança e diversão. Brega é amor, e tudo que fala de amor é brega.

 

Essas são somente algumas definições para o maior insumo do Fogo e Paixão, segundo eles próprios. O bloco comemora 10 carnavais em seu próximo desfile, dia 16 de fevereiro, no Largo São Francisco de Paula, no Rio de Janeiro. O enredo deste ano não poderia ser melhor: Brega é 10!

 

Ao longo de sua trajetória foram muitas emoções, com todos os trocadilhos e possibilidades que isso engloba. Hoje, dividem palcos com artistas renomados e agitam plateias por onde tocam, com uma apresentação vibrante, colorida, e um repertório que não deixa nada de fora do que pode ser considerado brega. E brega pode ser muita coisa!

 

“O Fogo e Paixão é alegria. O bloco é movido por isso e para isso”, aponta Alexandre Morand, presidente e fundador. “Se eu tivesse que resumir estes 10 anos em uma frase, seria: você é fogo, eu sou paixão. Você, eu e todo mundo misturado. Uns são fogo, outros paixão!”, brinca Guilherme Skinner, um dos vocalistas do Fogo, ao lado de Matheus VK, Mariana Guedes e Lila. “Êxtase. É isso que eu vejo todos os anos no desfile e nos shows. As pessoas dançando, se divertindo. Todos se jogam e cantam com as mais diversas emoções, do fundo do peito, e a cada ano isso aumenta”, diz Mariana.

 

A trajetória do Fogo e Paixão – também conhecido como bloco brega – corre em paralelo a uma percepção deste colunista: de uns tempos pra cá, estilos que até então estavam de certa forma obscurecidos ou subjugados no correr da história da música ganharam mais legitimidade, como o pagode dos anos 1990, e a própria música brega. Pode ser um movimento cíclico, como vemos na moda, nos costumes? Sim, mas é fato que tal fenômeno é percebido junto às novas gerações, que lotam shows e redescobrem grupos como, por exemplo, Raça Negra. Existem também blocos e bandas dedicados a nichos deste tipo, com boa adesão no Rio de Janeiro.

 

Para além dos debates teóricos e da bibliografia disponível sobre o tema (como o estupendo livro Eu não sou cachorro, não, de Paulo Cesar de Araújo), o repertório do Fogo e Paixão abrange muitos artistas sob o “chapéu” do brega.

 

“A definição do que é brega já passa na nossa mente há muito tempo. Temos cuidado ao tratar disso, quem somos nós pra dizer o que é brega ou não! Mas, em certo momento, começamos a aplicar um conceito que criamos de que brega é alegria, descontração, liberdade, como disse nosso presidente. E música brega são canções que falam de amor, de forma exagerada, direta, popular. Fora isso, vamos agregando coisas que gostamos, que fazem a gente feliz. Então, se tem alegria, liberdade e descontração, pra gente é brega!”, analisa Guilherme Skinner.

 

Apesar do cuidado da análise, é inegável o elemento propagador da música dita brega no trabalho do Fogo e Paixão. Para Alexandre Morand, o conceito brega é relativo. “Consideramos brega tudo que é popular e romântico. Pode ser música antiga ou atual, não importa. Sempre falamos: o que é brega hoje amanhã é moda e vice versa”, afirma o presidente do bloco.

 

“Arrisco dizer que tivemos alguma influência no repertório de alguns blocos de rua, e até de algumas rodas de samba. De vez em quando vou a uma roda de samba e ela está tocando Fogo e Paixão, do Wando. Essa música é um exemplo marcante disso. Há 10 anos, 15 anos, quando a gente não existia, não se ouvia a música Fogo e Paixão numa roda de samba, ou qualquer coisa parecida com as que a gente toca. Pelo menos não como agora. Então, acho que uma coisa chama outra. E quando a gente chegou com essa pegada brega, alguns blocos grandes também entraram nessa brincadeira, de buscar essa referência”, complementa Skinner. “Não somos exclusivamente os responsáveis por dar um gás no brega, mas no mínimo ajudamos as pessoas a perderem a vergonha de cantar aquilo que só era cantado nos karaokês”, diz Mariana Guedes.

 

E já foram tantos enredos, convidados e parcerias que o bloco teve: de Carlos Evaney, cover do Roberto Carlos, até Simoninha e Max de Casto, filhos de Wilson Simonal, passando por Fafá de Belém, Elimar Santos, Reginaldo Rossi, Sidney Magal, Rosana, Preta Gil e Compadre Washington. Este ano tentaram uma participação de José Augusto, que não rolou porque o artista está fora do Brasil. “De toda forma fomos surpreendidos com a resposta de que ele conhece e gosta do bloco. Magal também disse que várias pessoas comentam com ele sobre a conexão de sua música com o Fogo e Paixão. Outra história legal é a do encontro do Elimar Santos com o Wando, no aeroporto de Manaus. Wando, muito animado, comentou: ‘viu que fizeram um bloco pra mim lá no Rio’? Foi muito gratificante saber que ele estava orgulhoso disso!”, comemora Skinner. Wando, aliás, com sua generosidade e talento que deixaram saudade, foi apoiador de primeira hora do bloco, tornando-se padrinho da galera e ajudando, inclusive, em uma campanha de financiamento coletivo do Fogo: algumas das recompensas eram calcinhas assinadas pelo grande artista!

 

Sobre o carnaval popular, a turma é otimista, apesar de tudo. “O carnaval de rua do Rio cresceu muito. Acho que hoje falta o apoio, patrocínio. As marcas ainda não viram esse mercado como um grande consumidor. Por outro lado, temos blocos de todos os tipos, para todos os gostos, de vários tamanhos, o que, a meu ver, é maravilhoso, porque carnaval é essa democracia mesmo. Quem curte o bloco cheio, tem. Quem curte o vazio, tem. Tem pra criança, idoso, família, solteiros etc. Essa variedade só faz a festa ficar ainda mais bonita”, afirma Mariana Guedes. Para Alexandre Morand, o carnaval de rua no Rio sobrevive por conta própria. “Os órgãos públicos priorizam o carnaval da avenida, sendo que hoje em dia o carnaval de rua é muito maior do que o da Sapucaí. Os blocos não tem incentivo nenhum e a cada ano são mais exigências para cumprirmos e mais gastos, respectivamente. A maioria dos blocos não têm lucro e sim dificuldades para desfilar”, diz. O Fogo e Paixão segue firme no Largo São Francisco de Paula, com todas as autorizações necessárias.

 

Pra fechar, não poderia deixar de falar do coração do bloco: sua bateria, chamada de Sem Limites. “Existe também um carinho especial com a bateria. Essa sempre foi uma preocupação de toda a diretoria. Sem ela não tem bloco, o carnaval não acontece”, diz Mariana. “Esse sempre foi o espírito da coisa. Sem dúvida nossa bateria é a grande joia a ser cuidada”, complementa Skinner.

Planos para o futuro? Seguir em frente, com alegria, diversidade, canto, dança e diversão… E muito amor. Se isso tudo é brega, não somos todos? Até a próxima!

 

Celso Chagas

Celso Chagas é jornalista, compositor, fundador e vocalista do bloco carioca Desliga da Justiça, onde encarna, ha dez anos, o Coringa. Cria de Madureira, subúrbio carioca, influenciado pelo rock e pela black music, foi desaguar na folia de rua. Fã de poesia concreta e literatura marginal, é autor do EP Coração Vermelho, disponível nas plataformas digitais.

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