Facção Caipira – Do Lugar Onde Estou Já Fui Embora

Gênero: Rock alternativo
Duração: 52 min
Faixas: 13
Produção: Felipe Rodarte e Facção Caipira
Gravadora: Toca Discos

4 out of 5 stars (4 / 5)

É uma pena haver a necessidade de dizer isso, mas…Rock não precisa ser conservador, careta e parado no tempo para ser levado a sério. Se há algo que incomoda é a impressão de que a maioria das bandas de rock – e dos jornalistas musicais, autodenominados especialistas no estilo – acham que o legal é seguir copiando Deep Purple, Aerosmith e demais formações setentistas ou ainda mais antigas, como se nada mais tivesse acontecido de valioso no rock. Por isso é bom saber da existência de um álbum como este bom “Do Lugar Onde Estou Já Fui Embora”, do – agora – trio niteroiense Facção Caipira. Se você está procurando esta sonoridade datada e preguiçosa, é bom saber que não vai encontrá-la ao longo das 13 faixas do disco.

A produção de Felipe Rodarte e do próprio trio, a gravação no simpático e histórico estúdio Toca do Bandido e o clima de recomeço que permeia o resultado final, são elementos que conferem profundidade e relevância ao disco. As canções ecoam as influências mais recentes do grupo, que deixou de lado o blues rock que fazia, em favor de uma abordagem mais plural e múltipla. Cabem desde bandas novíssimas como O Terno, Carne Doce e artistas como Jack White, passando por bons segredos como os cariocas do Biltre e mesmo alguns ecos de formações noventistas como Helmet e momentos mais pesadinhos do Pearl Jam e alguma estética de samba/carnaval popularizadas por Los Hermanos. As letras mostram uma preocupação muito maior com a mensagem do grupo, mostrando o quanto a união pode ser o melhor remédio para as agruras da vida.

Exemplos de bons versos não faltam: “O quanto se cresce é quanto se erra e olha pro respeito com mais compaixão”, surge na letra de “Vaidade”, enquanto “eu não aguento ficar só mais um tempo sem estar/desejar tanto um beijo” abre “Carne Viva” e “Deixo os ombros soltos pros encontros dessa vida”, em “Contra Luz”. Apesar da boa carga lírica, “Do Lugar Onde Estou Já Fui Embora” não é um disco em que as palavras se destaquem em relação às melodias e canções. Pelo contrário, é justamente a simbiose entre elas e a belezura que vem disso que faz o álbum ser um acerto.

Melhores exemplos estão em “É Preciso Um Tanto Mais de Amor”, “Ciúme” e “Fuga”, que são pesadas, bem humoradas, conectadas com o nosso tempo e dignas de figurar em qualquer programação de rádio rock no território nacional, isto é, se estas soubessem que o rock está sempre em movimento, reflete o momento em que estamos e etc e tal.

Facção Caipira gravou um disco de rock, latu sensu, moderno, escrito com letras maiúsculas e cheio, repleto de bons momentos. Não nos cabe ignorar, muito pelo contrário. Pra lavar a alma de quem pensa que o rock é um cadáver reacionário.

Ouça primeiro: “Ciúme”

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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