Por Um Rock In Rio Mais Real (e melhor)

Quem nunca brincou de mudar as atrações do Rock In Rio? Quem nunca desejou que a organização do maior festival de música do Brasil fosse mais, digamos, conectada com a realidade da música contemporânea? Quem nunca pensou que tal dia poderia ser melhor, que tal atração não fez por merecer sua escalação e que, mais ainda, o festival se repetiu inúmeras vezes?

Neste ano, com o lineup praticamente fechado, teremos talvez a pior escalação de todos os tempos. A ausência de um grande nome, a exemplo de Stevie Wonder, The Who, Bruce Springsteen – todos num passado recente – que concedia um diferencial ao Rock In Rio, talvez seja o que mais chama a atenção. Também é espantosa a absoluta desconexão com a realidade, traduzida na escalação de atrações como Tenacious D, banda – de brincadeira – do ator Jack Black, que não teve um único hit em qualquer época, em qualquer parada brasileira, sequer um clipe em alta rotação na MTV do passado. Também é de espantar a presença de Panic At The Disco, que, por mais fãs que possa ter – nem é o caso – não tem qualquer relevância desde muito tempo. E o quê dizer de Nickelback? Gostar dessa gente deveria ser teste de caráter. Por essas e outras, decidimos colocar em prática o espírito empreendedor que tanto exaltam por aí e fizemos o nosso próprio lineup do Palco Mundo.

Respeitamos a postura conservadora do Rock In Rio e não aproveitamos para colocar nenhuma atração obscura, alternativa demais ou fora de uma realidade de contratação. Pelo contrário, só tem banda e artista consagrado, com relevância mundial. Vamos ver como ficaria o nosso RIR?

 

27/09

Pharrel (Drake)
Kendrick Lamarr (Cardi B)
Childish Gambino (Bebe Rexha)
Criolo (Alok)

Com a presença desta escalação, o Rock In Rio teria uma bela noite dedicada ao hip hop. Sairia de uma escalação conservadora e com atrações de pouco fôlego, como Bebe Rexha e Cardi B, para apresentar dois dos maiores artistas atuais do estilo, Childish Gambino e Kendrick Lamarr, que teriam muito o que mostrar ao público. Abrindo a noite, Criolo, um artista em ascensão, criativo e cheio de recursos para apresentar um ótimo show de abertura. Fechando os trabalhos, Pharrel, produtor, arranjador e showman, com bala na agulha para fazer a plateia dançar. Sua presença seria muito melhor que a de Drake.

 

28/09

Pearl Jam (Foo Fighters)
Foo Fighters (Weezer)
Weezer (Tenacious D)
Los Hermanos (CPM22 e Raimundos)

Aqui seriam mantidas duas atrações – Foo Fighters e Weezer – e retiradas outras duas – CPM 22/Raimundos e Tenacious D. Além disso, viriam Pearl Jam e Los Hermanos para compor a noite. A ideia é manter o clima de “rock alternativo” que a produção do festival parece ter pensado para o dia 28/09.  Prefiro pensar nesta data como uma celebração informal e meio torta do rockão pós-grunge/alternativo americano, que surgiu nos anos 1990. Desta forma, teríamos a estreia de Los Hermanos no Rock In Rio, trazendo um público fiel, que seria conectado diretamente ao show do Weezer, outra estreia, que influenciou bastante os cariocas. Em seguida, Dave Grohl, o Silvio Santos do rock atual, levando seu show padrão, preparando o terreno para os craques do Pearl Jam, que também estreariam no Rock In Rio. Seria incrivelmente melhor que a escalação proposta pela produção.

 

29/09

Bruce Springsteen (Bon Jovi)
The Killers (Dave Matthews Band)
The Lemonheads (Goo Goo Dolls)
Nação Zumbi (Ivete Sangalo)

Nesta noite faríamos uma mudança completa, mantendo o conceito original. É uma data de “pop rock alternativo”, se é que isso é possível. A escalação original traz duas figurinhas facílimas em termos de Rock In Rio – Bon Jovi e Ivete Sangalo – e aposta em duas bandas que tiveram seus momentos de glória num passado que varia de 15 a 20 anos. Goo Goo Dolls fez sucesso mundial em 1998, quando lançou seu disco “Dizzy Up The Girl” e emplacou uma balada nas paradas de sucesso, “Iris”. Dave Matthews Band é o paraíso dos que ouvem música “bem tocada”, mas sempre fez um pop rock excruciantemente chato e irritante. A nossa proposta de escalação troca o show manjadíssimo de Sangalo pela sempre boa e relevante Nação Zumbi, bem mais próxima do clima proposto para a noite. Em seguida, viriam The Lemonheads, uma outra banda com glória nos anos 1990,  cheia de hits e boa de shows, inclusive está em turnê por conta do álbum “Varshons 2”, lançado há pouco mais de um mês. Uma penca de hits mtvisticos garantiriam público e diversão. Em seguida, The Killers, uma das grandes bandas de rock em atividade, com repertório para grandes maratonas. Fechando os trabalhos, o retorno de Bruce Springsteen ao festival, com seu espetáculo storyteller/roqueiro acima do bem e do mal.

 

 

03/10

The Cure (Red Hot Chili Peppers)
Massive Attack (Panic At The Disco)
Nine Inch Nails (Nile Rodgers e Chic)
Planet Hemp (Capital Inicial)

Esta data seria totalmente modificada. Nile Rodgers e sua banda seriam movidos para uma noite do Palco Sunset, mais apropriado para a proposta de revisitar maravilhas compostas e produzidas pelo ex-guitarrista do Chic. Não dá pra ver um artista deste porte abrindo para Panic At The Disco. Desta forma, todo o resto – Capital Inicial, Panic At The Disco e Red Hot Chili Peppers – seria mandado de volta para casa e, em seu lugar, teríamos uma noite absolutamente sensacional. Abrindo os trabalhos, Planet Hemp, banda importante dos anos 1990, em atividade na estrada e capaz de entreter o público das outras atrações da noite. Em seguida, Nine Inch Nails, de Trent Reznor e Atticus Ross, com seu rock industrial obsessivo e mauzão, cheio de hits obscuros. Logo após, Massive Attack, que está em turnê celebrando 21 anos de seu terceiro disco, “Mezzanine”. Fechando a data, The Cure, que sai em turnê revisitando seu disco “Desintegration” e deve lançar novo trabalho ainda neste ano. Só com esta data, o Rock In Rio daria uma forte prova de relevância e capacidade de trazer shows importantes que estão excursionando pelo mundo.

 

 

04/10

Scorpions (Iron Maiden)
Judas Priest (Scorpions)
Dream Theater (Megadeth)
Angra (Sepultura)

Dar à “noite do metal” um ar mais interessante musicalmente – este seria o objetivo da escalação de Célula Pop. Das atrações originais do Rock In Rio, apenas os alemães dos Scorpions seriam mantidos e recolocados na posição de headliner. Sepultura, Megadeth e Iron Maiden seriam removidos e, em seu lugar, viriam Angra, Dream Theater e Judas Priest, respectivamente. Cada uma a seu jeito, estas bandas são responsáveis pela manutenção do metal em evidência ao longo dos últimos 20, 30 anos. Angra talvez seja a banda nacional do estilo com mais fãs, em pé de igualdade com o Sepultura. Dream Theater traria um pouco do metal progressivo que encanta pencas de pessoas ao redor do mundo e Judas Priest – tão ou mais importante que o Iron Maiden – reapareceria no festival, com seu show bombástico cheio de sucessos.  Ao fim da noite, a celebração da volta do Scorpions após inacreditáveis 34 anos.

 

05/10

Rihanna (Pink)
Ariana Grande (Black Eyed Peas)
Janelle Monae (HER)
Anitta (Anitta)

Esta “noite pop” do Rock In Rio é um desafio à lógica. Trazer uma atração como Black Eyed Peas em pleno 2019 é abrir mão de qualquer conexão com a realidade. A cantora Pink, por mais que esteja lançando novo trabalho, também é uma artista de segundo escalão, com boa vontade. Das atrações originais, apenas Anitta permaneceria, como a grande estrela pop nacional da atualidade. Não há como evitar, a moça merece estar lá. Em seguida, Janelle Monae subiria ao palco com seu show sensacional, cheio de canções do ótimo álbum “Dirty Computer”, lançado no ano passado. Elétrica, cheia de referências a Prince e outros monstros sagrados, Janelle deveria fechar a noite, mas entendemos que isso seria demais até para exercícios como este. Sendo assim, ela cederia espaço para uma estrela internacional cada vez mais consolidada: Ariana Grande. Seria sua estreia no Rock In Rio e um foco certo de público para esta data. Fechando o dia, Rihanna, cheia de hits e empatia com o público.

 

06/10

Coldplay (Muse)
Duran Duran (Imagine Dragons)
Noel Gallagher (Nickelback)
Paralamas (Paralamas)

Novamente uma noite que teria grandes mexidas. Em vez de Muse, Coldplay. A verdade é que as bandas quase se equivalem no terreno do rock de estádio atualmente. A diferença talvez esteja no fato de que Chris Martin e sua turma se adaptaram melhor a esta condição com o passar do tempo. Assumiram seu lado pop com muito mais vigor e oferecem um show mais consistente e interessante que o Muse. A banda de Matt Bellamy vem se perdendo em conceitos, referências e tornou-se praticamente insuportável. Em vez de Imagine Dragons, uma atração cujo sucesso desafia a lógica, teríamos o baile do Duran Duran. Muito mais que uma banda dos anos 80, o grupo é cheio de ótimas canções recentes e se manteve relevante ao longo do tempo. Simon Le Bon e companhia são mestres do entretenimento e ninguém acharia ruim tê-los por lá. Se o A-Ha pode, por que não o Duran, infinitamente superior e interessante? Além deles, Noel Gallagher traria seu bom repertório solo e alguns hits do Oasis, substituindo o inacreditável Nickelback,  que deveria ser banido da mente das pessoas. Abrindo a noite, a estabilidade e a garantia de beleza dos Paralamas do Sucesso. Num mundo mais justo, o trio de Herbert, Bi e Barone deveria encerrar uma noite do Rock In Rio.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

One thought on “Por Um Rock In Rio Mais Real (e melhor)

  • 26 de março de 2019 em 10:26
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    Bem, bem, bem… tudo ia perfeitamente bem até mexer com a maior banda heart metal do planeta. Não dá!
    Precisamos lembrar que, Wackens fora, o Scorpions virou Roupa Nova há tempos.
    Mas aí vem o afago: Dream Theater. Adoraria vê-los na mesma noite. (Com o Maiden)
    Perdoado.
    P.S.: ainda aguardo uma coluna neste lindo sítio de música sobre o gênero que existe em qualquer lugar do mundo: o heavy metal.

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