Eu só quero chocolate. Nada mais

 

 

Tim Maia era um artista promissor se transformando em realidade. Corria o ano de 1971 e ele já era contratado da gravadora Phillips, dona do passe de quase todos os grandes nomes da música brasileira da época. De Caetano Veloso e Gilberto Gil, passando por Elis Regina e Erasmo Carlos, chegando a Jorge Ben. Todos eram artistas da multinacional holandesa, que era liderada no país por André Midani.

 

Como Tim era uma típica estrela em ascensão, surgiam vários convites para comerciais, produção de jingles e aparições na TV. A mais frutífera delas foi o convite que ele recebeu da Associação Brasileira dos Produtores de Cacau, pedindo que ele compusesse uma canção para ser veiculada como tema de uma campanha de incentivo ao consumo de … chocolate. Tim, segundo Nelson Motta, na biografia “Vale Tudo – Tim Maia, O Som e a Fúria de Tim Maia”, adorou o convite e, mesmo num ano especialmente cheio de trabalho e êxito, encontrou um tempo para se dedicar à composição.

 

Mas, bem, Tim era Tim. Aproveitou praticamente toda a estrutura de uma faixa já previamente composta – “Meu País” – e bolou uma nova letra, que dizia:

 

Chocolate, chocolate, chocolate
Eu só quero chocolate….Só quero chocolate

Não adianta vir com guaraná pra mim
É chocolate que eu quero beber

Não quero chá, não quero café
Não quero coca-cola, me liguei no chocolate

Eu me liguei, só quero chocolate
Não adianta vir com guaraná pra mim
É chocolate que eu quero beber

Chocolate, chocolate, chocolate
Eu só quero chocolate….Só quero chocolate

Não adianta vir com guaraná pra mim
É chocolate que eu quero beber

 

O sucesso foi imediato e a música foi lançada como compacto, impulsionando ainda mais a carreira do bom e velho Tião. Anos depois, em 1989, Marisa Monte faria uma regravação de “Chocolate”, num arranjo diferente, que, se não arranhava o brilho do original, serviu para que as pessoas lembrassem da canção. Muita gente diz que a letra faz menção ao uso de maconha, mas isso nunca ficou comprovado.

 

Você deve estar se perguntando: por que estamos falando de “Chocolate”, a canção, justo agora? Será que tem alguma coisa a ver com as denúncias de lavagem de dinheiro por parte do senador flávio bolsonaro em sua franquia de uma famosa marca de … chocolate? Na qual ele teria vendido mais de 20 mil reais em dinheiro numa única tarde? Onde ele teria lavado quase dois milhões de reais de dinheiro proveniente da “raspadinha” de seu escritório oficial? O mesmo que tinha o queiróz como funcionário? Será que tem a ver com a suposta associação de bolsonaro com o grupo de milicianos chamado de ESCRITÓRIO DO CRIME? Será? Será que, se perguntar para ele – ou seus irmãos, seu pai – se bandido bom é bandido morto, eles responderiam que “sim”?

 

Será que o motivo é esse?

Eu só quero chocolate…

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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