A zona de segurança do Wallflowers

 

The Wallflowers – Exit Wounds

Gênero: Rock alternativo

Duração: 40 min.
Faixas: 10
Produção: Butch Walker
Gravadora: New West Records

3.5 out of 5 stars (3,5 / 5)

 

 

 

Já faz tempo que o Wallflowers surgiu com “One Headlight”, lembra? Foi lá em 1996/97. quando a canção que puxou o segundo disco do grupo, “Bringing Down The Horse”, irrompeu nas rádios e na MTV, apresentando a um público mundial o filho mais velho de Bob Dylan, Jakob. Líder da banda, o sujeito lembrava o pai mais na aparência que na voz, muito menos no talento anormal para a composição, mas, assim como a maioria dos filhos de mitos, Jakob tem concorrência muito, mas muito desleal. Talvez por isso, sua carreira como cantor e compositor tenha sido tão low profile. Até agora, foram dois discos solo e seis com o Wallflowers desde 1992. Sendo assim, este “Exit Wounds” é o sétimo trabalho que ele lança com o nome da banda, que, na verdade, é um grupo de músicos que o acompanha há tempos, com quem excursiona e com quem vai pro estúdio. Aliás, neste caso, é a primeira vez que Dylan faz isso desde 2012. O que teria ele para dizer?

 

A rigor, não muito além do que sempre disse. Dylan faz um country rock levemente alternativo, com viés pop discretíssimo e calcado nas canções sobre amor, relacionamentos e idas/vindas. Nada muito elaborado e tal discreção sempre me fez perguntar se o Wallflowers teria o burburinho de 1996/97 se fosse liderado por um sujeito sem DNA tão nobre. Mas também não dá pra deslegitimar o sucesso de Jakob, que, sim, sabe escrever uma canção e tem uma habilidade para cantar que até ultrapassa a visão regular que muita gente tem de seu pai. Em “Exit Wounds” o seu registro oscila entre o de Mark Knopfler, ex-Dire Straits, com o de Bob Pai lá nos anos 1960. Ou talvez seja impressão e o cara tem sua voz própria e a gente esteja cedendo às comparações. Mas “Exit Wounds” tem uma certa luz própria que é interessante e consegue sobreviver além das comparações, especialmente porque Dylan vem com uma fornada de dez faixas muito simpáticas para os fãs de alt.country do início dos anos 2000. São country rocks bem feitos, bem gravados e com algumas belezuras que se fazem notar.

 

Os dois primeiros singles, “Maybe Your Heart’s Not In It No More” e “Roots And Wings” já meio que resumem o álbum. São A primeira é mais épica, uma balada de amor colocado em dúvida, com pianos, violões e guitarras em harmonia, num ambiente convincente de questionamento e hesitação. A voz de Jakob vai bem, num registro grave, entre o sofrimento e a resignação, avançando para a segunda canção, que já tem um clima meio Tom Petty, com guitarras harmoniosas e destacadas, numa levada mais rápida e bem pensada. Em “I Hear The Ocean (When I Wanna Hear Trains)”, Dylan oferece a sua mais bela canção em todo o álbum, com uma belezura que tem um pouco de Bruce Springsteen e novamente Petty, mas com um riff de guitarra muito eficiente. Já em “The Dive Bar In My Heart”, o clima é mais noturno e enfumaçado, mas há um piano que conduz a melodia, que faz a diferença no resultado final, como se fosse um cimento que une a voz e o resto dos instrumentos.

 

“Darlin’ Hold On” é uma das canções do álbum que traz a participação (e a coautoria) de Shelby Lynne, o que confere uma delicadeza de casal duetando ao longo da melodia, o que, via de regra, funciona em faixas que têm essa ambiência country-rock. “Move The River” é a faixa menos country do álbum, mergulhando um pouco na paranoia da cidade, seja no ritmo mais cadenciado, seja no arranjo, que privilegia a voz de Dylan e uma boa trama de guitarras. As últimas quatro faixas do álbum enganam o ouvinte mais apressado. Enquanto “I’ll Let You Down (But Will Not Give You Up)” e “Wrong End Of The Spear” são canções mais lentas e arrastadas, “Who’s That Man Walking ‘Round My Garden” é um rockão de alta octanagem, que coloca os Wallflowers bem próximos de uma banda de beira de estrada, o que é o maior dos elogios possíveis por aqui. O fim chega com o midtempo de “The Daylight Between Us” e encerra os trabalhos com bom senso e coerência.

 

“Exit Wounds” é um disco bem agradável e direcionado a quem estava com saudade deste folk-country-rock com boas canções, bons arranjos e um contador de histórias convincente. Não há nenhum clássico por aqui, nem alguma canção que vai mudar sua vida, mas estas dez faixas oferecem um sólido conjunto de boas melodias, que valem pela regularidade e pela sinceridade desinteressada. Boa pedida.

 

Ouça primeiro: “Roots And Wings, “I Hear The Ocean (When I Wanna Hear Trains)”,  “Move The River”, “Who’s That Man Walking ‘Round My Garden”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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