500 mil mortos e contando
Ontem, dia 19 de junho de 2021, a contagem de vítimas da pandemia de covid-19 atingiu as 500 mil mortes. Coincidentemente, foi dia de mais manifestações contra o governo federal em várias cidades do país. Muita gente na rua, todo mundo de máscara, com atenção ao distanciamento – na medida do possível – e com vários cartazes contra o ocupante da presidência. Eu confesso que estou exausto de ficar em casa, de ter medo de pegar a doença – mesmo já tendo tomado a primeira dose de vacina – e cada vez mais triste por esta contagem de vítimas não diminuir.
E nem poderia – as pessoas simplesmente deixaram de se preocupar com a doença, mesmo diante do naturalizado patamar de mais de 2 mil mortes diárias e da média móvel não baixar. Além disso, os números e projeções dão conta de que teremos mais uma onda da doença já em julho, fruto do afrouxamento das já escassas medidas de segurança. Todo mundo está exausto, as vacinas chegam em quantidade inferior ao que deveriam e ainda tem gente que vai ao posto de saúde, após esperar meses na fila, e decide não tomar esta ou aquela vacina porque causa reação mais forte ou porque o grupo do whatsapp coloca em dúvida a eficácia. E ainda tem a CPI, que tem feito o possível para mostrar que, sim, estamos sendo governados por pessoas que prezam mais números da economia do que a saúde do povo. Gente que ignorou reiterados e-mails e mensagens que poderiam significar a redução das vítimas em 20% ou 25% caso a vacinação tivesse começado antes.
Dei uma busca aqui no site sobre os textos que já escrevi sobre a covid-19 e tive vontade de compilá-los num livro quando tudo isso acabar. São vários, sem falar na quantidade de outros escritos correlatos, especialmente obituários, que dão conta da dimensão da doença e do descaso. Pelo que vi, o primeiro data de 12 de março de 2020, quando a OMS declarou a pandemia. No dia 15, três dias depois, já tem desespero pelas pessoas estarem nas ruas, mesmo com vários eventos suspensos pelas autoridades estaduais. E ainda tem o absurdo da estocagem de comida, lembram? Da corrida aos mercados para guardar alimentos e itens de higiene. Em junho já eram 50 mil mortos. Daí pra frente é uma ascendente de desespero e perplexidade.
Teve texto indignado pelas falas do empresariado brasileiro. Lembram? Só iam morrer entre 6 e 8 mil pessoas, segundo roberto justus. E todo mundo ficou perplexo. Ninguém poderia supor que o boneco e apresentador televisivo era, na verdade, um otimista. E tem texto perplexo por conta do número diário de mortos ter ultrapassado 1452, lá em 12 de fevereiro deste ano. E tem o que fala da inacreditável marca de 250 mil mortes em 25 de fevereiro.
Se você quiser conferir esta triste história, vai com fé. Digita “covid-19” na busca, lá em cima, ao lado do meu de opções do site e terá uma ideia deste acompanhamento da doença. A Célula Pop é um site de cultura pop mas já nem é preciso dizer que temos posicionamento político claro e que isso é definitivo para nossa visão da arte e do mundo. Somos pela vacina, pelo isolamento social e pela volta do país à normalidade.
500 mil mortos, gente. Meio milhão de pessoas. É um número imperdoável e que, sim, configura um genocídio. O presidente e seus ministros são responsáveis, sim, pela tragédia e eu torço todo dia para que paguem por isso. E mesmo assim nada do que fizerem, seja prisão, seja outro destino, trará de volta as vidas que perdemos.
500 mil mortos. E contando.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.