250 mil mortos – e contando

 

Ontem os números, implacáveis na sua marcha – chegaram a esta triste marca: 250 mil brasileiros mortos por covid-19 em menos de um ano de pandemia. Um quarto de milhão de pessoas que perderam a vida por causa da letalidade do vírus e, sim, pela absoluta incapacidade do governo brasileiro em lidar com a gestão da crise.

 

As sucessivas trocas de ministros da saúde, que traziam indefinição e sobressalto, resultaram na adoção do general eduardo pazuello como encarregado da pasta. A escalada de mortes está em seus ombros, não dá pra negar, especialmente em tempos de vacinas disponíveis no mercado, algo que não havia há um ano.

 

Além de pazuello, a insistência inexplicável do governo federal no uso preventivo de medicações como cloroquina e ivermectina, como meios alternativos de tratamento, visando uma substituição da vacina ou algo ainda mais descabido, mas que foi encampado pela máquina pública, por parte da mídia e pelas pessoas, inclusive integrantes da classe médica.

 

Fechando a trinca, temos a própria postura do ocupante atual da presidência, que debocha e desfaz da letalidade da doença, com sucessivas declarações inacreditáveis para veículos da mídia. Enquanto faz isso, suas maiores preocupações residem em evitar que seu filho, o senador flávio bolsonaro, seja preso. Outra ocupação do atual ocupante da presidência é aprovar medidas provisórias que prejudiquem o Banco Central, que viabilizem a produção e armas de fogo ou promover intervenções na Petrobras, que, desde a nomeação de outro general – Luna – para sua presidência, perdeu mais de 100 bilhões de reais em valor de venda.

 

Já disse em outro texto: todos os dias vejo pessoas lamentando a morte de entes queridos no Facebook. Pais, mães, amigos, parentes, gente nova, idosos, várias situações de morte causada pela pandemia. Nunca vi nada parecido e isso segue acontecendo, uma vez que a população brasileira parece ter decidido que a doença não é tão grave assim, oras. Pessoal se cansou de ficar dentro de casa, os empresários decidiram que não vão mais aceitar fechar o comércio e frear as ações, sendo assim, com a falta de apoio do próprio governo, as pessoas se viram obrigadas a lutar pela sua sobrevivência. Os números diários de mortos há muito tempo se mantém acima de mil e tudo segue assim.

 

Praias, bares, festas, carnaval, tudo acontece em meio à pandemia, dane-se.

 

Tenho amigos professores que são vítimas de assédio moral em suas escolas, obrigados a comparecer ao trabalho e conviver com a exposição diária ao vírus. Qualquer medida ou postura preventiva é chamada de “covarde” pelos próprios colegas professores, lobotomizados pela ação maligna do governo.

 

O governo federal, ao demonstrar um combo de incapacidade de gestão da pandemia, aliado ao desprezo pela doença e sua letalidade, conferiu à grande parte da população a sensação de que “a doença é frescura”, algo bem coerente em se tratando de uma pessoa como o atual ocupante da presidência.

 

Essas 250 mil pessoas mortas equivalem a mais de três Maracanãs atuais lotados. Ou a mais de mil voos comerciais caindo no mar. Ou a uma plateia do primeiro Rock In Rio. ou a quatro vezes o número de soldados americanos mortos na Guerra do Vietnã.

 

E absolutamente nada parece dar conta de que tal situação vai mudar.

 

O Brasil de hoje é a personificação do salve-se quem puder. E poucos podem.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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