Yo La Tengo segue imune à ação do tempo

 

 

 

 

Yo La Tengo – This Stupid World
48′, 9 faixas
(Matador)

4 out of 5 stars (4 / 5)

 

 

 

 

 

O Yo La Tengo já tem 37 anos de carreira. Eu vou repetir: o Yo La Tengo já tem 37 anos de carreira. É bastante, mais do que eu pensava e mais do que parece. De alguma forma, a sonoridade deste trio de Hoboken, New Jersey, é à prova do tempo e, apesar de Georgia Hubley, Ira Kaplan e James McNew parecerem, de fato, atingidos pelo passar dos anos, sempre que surge um novo álbum do trio, eu penso em acertar contas com o presente. A mistureba de barulho guitarreiro, Velvet Underground, melodias ensolaradas, talento para covers e um monte de outros aspectos indizíveis faz do Yo La Tengo algo como “a banda quieta mais barulhenta do mundo” ou “a banda barulhenta mais silenciosa do mundo”. Eles estão no fio da navalha, no último espaço de equilíbrio e tudo se sustenta baseado nisso, no balanço muito bem dosado de seu som. Esta regra dourada e inegociável está presente e norteia todas as ações de “This Stupid World”.

 

 

É o primeiro trabalho do YLT desde “There’s A Riot Going On”, de 2017. Eles até deram as caras durante a pandemia de covid-19, com um conjunto de canções instrumentais que serviram mais como “olá, estamos vivos e vocês?” do que qualquer outra coisa. Estas nove faixas que compõem o novo disco trazem todos os aspectos que faz o grupo ser tão querido, exceto um deles: não há covers. É um álbum totalmente autoral e que mostra esta atemporalidade que marca o som e a postura da banda. Parece que sempre haverá espaço para uma visão suburbana e bem informada sobre a loucura do mundo e isso é o que o trio oferece de melhor, com letras e arranjos se unindo firmemente.

 

 

Foram lançados três singles para antecipar o disco. Primeiro veio a ótima “Fallout”, que mais parecia um trecho de manual “como fazer uma canção perfeita do Yo La Tengo”. Em seguida veio a balada semi-country “Aselestine”, com vocais de Georgia e uma sutileza ímpar para abordar temas espinhosos como a morte e as perdas em geral que a vida impõe às pessoas. Por fim, a vélvitica “Sinatra Drive Breakdown”, concebida e executada na boa tradição YLT de faixa psicodélica murmurante que vai sendo cortada por guitarras enquanto se sustenta sobre uma linha de baixo que poderia ser do Velvet Underground. Este conjunto de três singles deixou os fãs ouriçados para uma dose maior de canções e impressões do grupo, tornando este “This Stupid World” um dos trabalhos mais aguardados deste início de ano.

 

 

As outras seis canções que compõem o disco alternam momentos mais e menos interessantes, mas há muito de bacana a conferir. “Brain Capers”, por exemplo, é um pequeno colosso no qual uma melodia doce é conduzida por um riff de guitarra vigoroso e por vocais indistintos, perdidos entre o sussurro e os efeitos. É um daqueles cabos de guerra entre esporro e melodia de que a gente tanto gosta. A faixa-título é abarrotada de microfonias e efeitos de guitarra, que vai progredindo por mais de sete minutos com vocais abafados pelo esporro, criando uma tensão no ouvinte até o fim e reconectando a banda com uma de suas influências: o Sonic Youth. “Miles Away”, fechando o disco, é uma rara concessão do grupo às batidas eletrônicas, que caíram muito bem no arranjo contemplativo, apontando uma melodia melancólica que vai se misturando aos vocais de Georgia de um jeito muito belo e sutil.

 

 

“This Stupid World” é um típico álbum do Yo La Tengo, dos bons, não dos próximos da perfeição. Nesta altura do campeonato, é o que todos estávamos querendo.

 

 

Ouça primeiro: “Brain Capers”, “Fall Out”, “Miles Away”

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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