Top 21 – Tecnopop Brasileiro dos 80’s

 

 

Sim, o Brasil tem uma bela produção de canções tecnopop. Talvez você não as conheça dessa forma, uma vez que elas surgiram, na maioria das vezes, pelas mãos de artistas egressos da chamada MPB. Gente que tinha a produção marcada por sucessos radiofônicos e/ou de trilhas sonoras de novela, e que foi devidamente atualizada pelas novas tecnologias de estúdio nos anos 1980. Teclados, computadores, sequenciadores, samplers, tudo isso passou a integrar o arsenal dos estúdios brasileiros naquela década, sem falar nos orçamentos mais polpudos das gravadoras, que permitiam que seus maiores vendedores gravassem e mixassem álbuns no exterior. Tudo isso fez crescer uma produção rica, exuberante de canções muito legais. Mas não se engane: teve muito artista graúdo se valendo dessa modernização e inserindo tinturas modernas em suas canções. Gente que você nem imaginaria. A gente escolheu algumas favoritas da casa para esta lista mas, você já sabe, sempre pode – e deve – nos lembrar de alguma omissão e escolher as suas.

 

Vamos nessa?

 

 

– 14 Bis – Só Se For (1985) – Faixa do sexto disco da banda mineira, de 1985. A ideia do 14 Bis era misturar a herança progressiva do Terço – de onde vinha o vocalista e tecladista Flávio Venturini – com uma musicalidade mais pop. Foram muito bem sucedidos e surgiram como uma das alternativas para o rock nacional oitentista. Aqui surgem totalmente entregues a um arranjo quase totalmente eletrônico.

 

– Fagner – Cartaz (1984) – Digam o que disserem, “Cartaz” é pop perfeito, cheia de tiques e taques de seu tempo. Tem percussão exagera, tem bateria eletrônica descarada, tecladinho permanente, mas, por outro lado, tem um baixo sensacional e uma melodia perfeita. É pra levantar defunto, direito do álbum “A Mesma Pessoa” e marca a dupla de tecnopops gravados por Fagner, ao lado de “Deixa Viver”.

 

– Gonzaguinha – Lindo Lago do Amor (1984) – Um clássico absoluto da música oitentista brasileira. É um arranjo surpreendente, imortal, que envelheceu graciosamente. A letra é surreal e próxima do universo fantástico infantil, mas o que importa aqui é a doçura da melodia e a gravação, que é perfeita. Do álbum “Grávido”.

 

– Zero – Quimeras (1987) – O Zero tinha a intenção de ser uma espécie de Duran Duran brasileiro, talvez um Roxy Music. Ficou no meio do caminho, mas produziu dois bons álbuns entre 1985 e 1987. Esta canção é maravilhosa, tudo nela é perfeito, desde o vocal dramático de Guilherme Isnard ao arranjo, puramente tecnopop e sensacional. Do álbum “Carne Humana”.

 

– Heróis da Resistência – Esse Outro Mundo (1986) – Leoni havia deixado o Kid Abelha no ano anterior e fundado os Heróis da Resistência com as bênçãos de André Midani. No novo grupo ele se entregou a uma musicalidade mais elaborada, assumindo os vocais. Essa canção foi o primeiro single do disco de estreia do grupo, de 1986.

 

– RPM – Revoluções Por Minuto (1985) – O RPM era uma banda eminentemente tecnopop em sua origem. Seu primeiro disco tem um ramalhete de canções bacanas, mas aqui é o ápice da tecladeira enlouquecida de Luiz Schiavon. A letra é engajada politicamente, num modo freestyle que hoje soa engraçado, mas não arranha o brilho.

 

– Milton Nascimento – Portal da Cor (1985) – Nem Milton Nascimento passou incólume pelo espírito da modernização do estúdio nos anos 1980. Aqui ele mergulha numa sonoridade tecladeira elegante, cheia de timbres que dataram e voltaram à moda recentemente. A canção foi o primeiro single do álbum “Encontros e Despedidas”.

 

– Ney Matogrosso – Amor Objeto (1981) – Disco homônimo de 1981, no qual Ney contou com a produção e arranjos de Lincoln Olivetti, um dos grandes responsáveis/arquitetos dessa sonoridade mais tecnopop dos anos 1980. A canção é parceria de Rita Lee e Roberto de Carvalho, que também estavam nessa onda.

 

– Caetano Veloso – O Quereres (1984) – Esta foi uma das canções que puxaram o álbum “Velô”, que Caetano soltou sob influência do rock nacional dos anos 1980 e que nunca foi uma unanimidade entre seus fãs. É um trabalho que tem ótimas canções, mas os arranjos nem tanto. Aqui é uma exceção a esta regra. “O Quereres” é um clássico.

 

– Marina – Fullgás (1984) – Talvez a grande canção tecnopop nacional dos anos 1980, aqui Marina chega a um de seus melhores momentos na carreira. Tudo funciona, desde a letra de Antônio Cícero, ao arranjo bolado por Liminha, que produziu o disco, homônimo. Uma lindeza que permanece sem um arranhão.

 

– Ritchie – A Mulher Invisível (1984) – O primeiro disco de Ritchie, “Vôo de Coração”, é um dos clássicos da música brasileira oitentista. Esta canção vem do segundo álbum do cantor inglês, “E a Vida Continua”, de 1984, totalmente imersa no oceano tecnopop da época. Um primor.

 

– Jorge Ben – Oe Oe (Faz O Carro de Boi Na Estrada) (1981) – Jorge Ben foi um dos artistas mais impactados pela modernização da música brasileira no início dos anos 1980, a tal ponto que demorou para achar um parâmetro e quase se perdeu criativamente. Mas um olhar mais atento vai notar pequenas pepitas em seu repertório, caso desta pequena obra-prima, produzida por Lincoln Olivetti e presente no álbum “Bem-Vinda Amizade”, de 1981.

 

– Kid Abelha – Seu Espião (1984) – O disco de estreia do Kid Abelha rendeu uns oito hits radiofônicos e esta faixa-título não poderia ficar de fora. A banda surgiu muito mais como um combo pop do que rock e, nesta variação, teve momentos em que o uso de teclados e timbres sintéticos funcionou muito bem. Este é um 4desses grandes registros.

 

– Chico Buarque – Brejo da Cruz (1984) – Sim, ele mesmo. Seu disco de capa vermelha, que veio puxado por “Pelas Tabelas” e continha o sucesso “Vai Passar”, também tinha essa joia reflexiva, sobre fome, necessidade e improviso naquele Brasil que abriu mão das Diretas Já. Uma das grandes gravações da carreira de Chico Buarque.

 

– Gilberto Gil – Punk da Periferia (1983) – Gil foi o grande medalhão da década anterior da música nacional a se sair melhor no ambiente tecnológico dos estúdios oitentistas. Ele tem uma sequência de álbuns sensacionais, que incorporam em vários momentos este timbre e este aqui é um dos grandes sucessos que ele escreveu na época. Tocava no rádio, tinha clipe no Fantástico e, se me lembro bem, foi a primeira vez que vi um artista brasileiro falando de punk. Faixa do álbum “Extra”.

 

– Radio Taxi – Com o Rádio Ligado (1983) – O Radio Taxi surgiu como uma grande força radiofônica nos anos 1980, especialmente por canções como “Garota Dourada” e “Eva”. Mas, se me perguntarem um dos grandes segredos do pop rock nacional da daquela década, eu vou cravar esta canção aqui. Uma joia, perfeita, meio Jovem Guarda, meio moderninha, meio lembrança do colégio. Do álbum “Radio Taxi”, de 1983.

 

– Metrô – Beat Acelerado (1984) – Essa música é tão boa que nem dá pra explicar direito. Mesmo que muita gente na época se referisse a ela como “Bife Acebolado” ou desmerecer o Metrô por não ser tão cabeçudo quanto seus companheiros paulistanos da época, “Beat Acelerado” é perfeita. Saiu em compacto, antecendo o álbum “Olhar”, um clássico do pop nacional oitentista.

 

– Vinícius Cantuária – Só Você (1984) – Quem estava vivo em 1984 lembra que esta canção tomou de assalto todas as rádios do país. Não era pra menos: tudo nela é perfeito, o arranjo, a letra, a postura de Vinícius Cantuária, então egresso da banda de Caetano Veloso, para quem tinha composto, entre outras canções, “Lua de São Jorge”. Outro clássico do pop atemporal brasileiro.

 

– Djavan – Lilás (1984) – Este é o ápice desta primeira leva de canções tecnopop nacionais oitentistas. Até 1984 não houve nada mais belo e pop do que “Lilás”, faixa-título do álbum que Djavan colocava nas lojas e que irrompeu nas rádios do país. Um clássico tecladeiro imune à ação do tempo.

 

– Rita Lee – Vírus do Amor (1985) – Esta canção marcou uma fase meio cinzenta na carreira de Rita Lee – algo que a própria capa do álbum que a contém, “Rita e Roberto” já mostrava. Sua letra é sobre a AIDS, que, na época, vitimava e estigmatizava várias pessoas. Mesmo assim, é uma pequena maravilha do trabalho de estúdio daquele tempo, atualizando o som de Rita com precisão.

 

– Guilherme Arantes – Marina no Ar (1987) – Daria pra fazer uma lista só com incursões de Guilherme no terreno do tecnopop, mas, se for pra escolher uma canção sublime, totalmente imersa numa parafernalha tecladeira de alto impacto, “Marina…” é a minha recomendação. Tudo aqui é perfeito: piano que condua a melodia, a bateria eletrônica marcial, baixo sintetizado, cordas, tudo processado. E a voz de Guilherme vem por cima, falando sobre um amor impossível. Melhor não fica.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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