Top 13 – Chico Buarque

 

Hoje, 19 de junho de 2019, é o 75º aniversário de Chico Buarque. Nada melhor que celebrar a data fazendo uma listinha dos treze discos mais queridos de sua carreira. Se você tem sua lista pessoal e não concorda com a seleção aí debaixo, compartilhe conosco e dê sua opinião.

 

E viva Chico.

 

 

– Chico Buarque (1978) – Lá em casa, “o disco da samambaia” era figura frequente na vitrola da minha mãe. As onze faixas se tornaram clássicos aos meus ouvidos. Coisas como “Trocando em Miúdos”, “Tanto Mar”, “Feijoada Completa”, “Pivete” e por aí vai, mas é possível destacar “Cálice”, “Homenagem Ao Malandro” e “Apesar de Você” como os momentos mais altos de uma discografia maior que a vida. Este disco é absolutamente perfeito e  mostra o amadurecimento do Chico Buarque como artista e marido/pai.

 

 

– Construção (1971) – Um dos discos mais impressionantes da música brasileira, não só pela postura política assumida como pelo lirismo acachapante que exibe em canções como “Deus Lhe Pague”, “Desalento”, “Samba de Orly” e “Minha História”, sem falar nas duas obras-primas, “Valsinha” e a faixa-título, cada uma retratando o cotidiano opressor do homem brasileiro moderno, imprensado entre trabalho, amor, relações e impossibilidade de reação diante de uma força maior. Um clássico atemporal.

 

 

– Vida (1980) – O disco em que Chico atinge o ápice do que gosto de chamar de sua “primeira fase” como cantor e compositor. É um trabalho novamente amplo e com um espectro sonoro bem diversificado, o que não significou perda de identidade, pelo contrário. Chico é capaz de presentear Cauby Peixoto com “Bastidores” e assumir sua famosa figura feminina em “Não Sonho Mais”, que tornou-se sucesso de Elba Ramalho. No meio do caminho ele enfileira “Eu te Amo”, “Bye Bye Brasil”, “Mar e Lua”,  “Morena de Angola” e a faixa-título, um de seus melhores momentos em todos os tempos.

 

 

– Chico Buarque (1984) – A chegada de Chico aos anos 1980, de fato. Arranjos que mostram a modernidade dos estúdios brasileiros na época, a boa forma vocal e, acima de tudo, a safra inspiradíssima de canções. Este é o disco que tem “Vai Passar”, mas também ostenta gemas como “Brejo da Cruz”, “Pelas Tabelas” e “Samba do Grande Amor”, mostrando a habitual maestria nas canções de amor e a sintonia fina com o momento que o país passava, no caso, o das Diretas Já.

 

 

– Meus Caros Amigos (1976) – Chico exuberante e boêmio, cantando o amor em toda a sua extensão de sentimentos (“Olhos Nos Olhos”, “Basta Um Dia”), mas, sobretudo, cantando a vida à sua volta e suas reações e opiniões diante dos fatos. Temos o libelo ecológico de “Passaredo”, a fábula sentimental elegíaca de “Mulheres de Atenas”, a crítica social de “Vai Trabalhar Vagabundo” e a resistência contra a ditadura militar de “O Que Será” e “Meu Caro Amigo”.

 

 

– Volume 4 (1970) – Começou a ser gravado na Itália, com Chico colocando apenas voz e violão, e foi finalizado no Rio, em pleno 1969/70. Nota-se uma exuberância nas bases, cortesia dos arranjos de Erlon Chaves e Cesar Camargo Mariano, sem falar na excelência das vozes do MPB-4, arranjadas por Magro. Só por “Essa Moça Tá Diferente”, este disco já merece figurar entre o hall da fama de Chico, mas ainda tem “Gente Humilde”, “Rosa dos Ventos” e “Samba e Amor”.

 

 

 

– Sinal Fechado (1974) – Outro trabalho que resume em proporções exatas as inspirações de Chico: a vida suburbana/Zona Norte do Rio e a consciência político/social que o homem brasileiro podia/deveria ter em relação ao país. Este binômio personalíssimo se traduz aqui em versões, seja de “Cuidado com a Outra” (Nelson Cavaquinho), “Sem Compromisso” (Nelson Trigueiro/Geraldo Pereira) ou “Lígia” (Tom Jobim), bem como a faixa-título, cujo verso “eu sumi na poeira das ruas” é mais significativo que livros inteiros. Chico só assina duas canções: “Samba Pra Vinícius” e “Acorda Amor”, com seu pseudônimo Julinho da Adelaide. Mesmo cantando outros, Chico torna suas as composições.

 

 

– Caravanas (2017) – Quando menos se esperava, porém, quando mais se precisava, Chico voltou ao disco com um de seus melhores trabalhos em todos os tempos. “Caravanas” sintetiza modernidade, terceira idade, contemplação, engajamento e as já habituais reflexões sobre o país e a vida cotidiana, dessa vez, novamente inseridas em tempos difíceis. Chico entregou clássicos instantâneos como “As Caravanas”, “Jogo de Bola”, a regravação de “Dueto” e a impressionante “Massarandupió”, feita por seu neto, Chico Brown. Um afetuoso e inesperado clássico.

 

 

– Paratodos (1993) – Um dos versos mais cantados de 1993 foi “o meu pai era paulista, meu avô pernambucano…”. Era Chico Buarque cantando suas origens e fazendo-se como exemplo do povo brasileiro em sua mistura de referências. “Paratodos” não era a obra- prima que se anunciou mas tinha vários trunfos nas mangas, além da faixa-título, “Piano na Mangueira” (uma das últimas gravações de Tom Jobim), a regravação de “Pivete”, “Choro Bandido” e a majestosa “Futuros Amantes”.

 

 

– Chico Buarque e Maria Bethânia Ao Vivo (1975) – Este disco representa todos os álbuns ao vivo de Chico e marca uma fase especialmente fértil de sua carreira. Ao seu lado, uma Bethânia força da natureza, com a voz de trovão e, ao mesmo tempo, afeto de sobra para registrar belas versões de “Sonho Impossível”, “Tanto Mar”, “Olê Olá”, “Sinal Fechado”, “Sem Fantasia”, “Quem Te Viu, Quem Te Vê”, “Vai Levando”, entre muitas outras. Gravado no extinto Canecão.

 

 

 

– Malandro (1985) – Disco lançado por ocasião da versão cinematográfica de “Ópera do Malandro” e que traz Chico cantando em apenas duas faixas, uma delas, a maravilhosa “A Volta do Malandro”. Outras canções belíssimas surgem pelo caminho, a saber, “Hino da Repressão” (com Ney Latorraca), “Palavra de Mulher” (Elba Ramalho), “Rio 42” (Bebel Gilberto) e um de seus momentos mais líricos: “Sentimental”, com Zizi Possi. Um clássico menor.

 

 

– Francisco (1987) – Um disco subestimado. Chico seguia em boa forma nos anos 1980 e saiu em turnê mundial a partir do lançamento de “Francisco”. Aqui está um épico à la Forrest Gump – “O Velho Francisco” – , a homenagem à Mangueira/crítica ao Rio de “Estação Derradeira”, a crônica amorosa “Bancarrota Blues”, a canção cinematográfica “Cantando no Toró” e o amor às filhas, em “As Minhas Meninas”. “Francisco” é um discaço.

 

 

 

– Almanaque (1981) – Este é um álbum que teve alta popularidade na época do lançamento, mas que tem um repertório bastante complexo. Se Chico volta a fazer sua crônica urbana e social em “O Meu Guri” e na cinematográfica “As Vitrines”, ele se sai com uma das mais contundentes composições contra a ditadura militar – “Angélica”, feita em homenagem a Zuzu Angel e seu filho Stuart, morto na prisão.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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