Supertramp – 13 Sucessos e algumas preferidas da casa

 

 

Eu acho que o Supertramp é um caso típico de banda injustiçada. O rock está cheio de situações assim, em que um grupo faz muito sucesso com sonoridade “fácil”, “comercial” e desperta a ira dos engajados e estetas de plantão. E dos chatos. No caso do quinteto inglês, a situação se agrava porque os caras fizeram sucesso planetário em 1979, especialmente com a canção “The Logical Song”, que puxou o seu sexto disco de material original, “Breakfast In America”. Pra “piorar”, além dela, o álbum gerou mais três hits massivos, o que contribuiu para que a banda figurasse fortemente nas programações das FMs da virada da década de 1970/80. E mais: pavimentou o caminho para uma turnê no ano seguinte, que foi devidamente transformada em disco duplo – “Paris” – um dos mais populares álbuns gravados ao vivo de todos os tempos. E, dois anos depois, lá estava o Supertramp galgando as paradas de sucesso planetárias com o sétimo álbum de material original, “Famous Last Words”, que gerou mais um hit mundial: “It’s Raining Again”, outra canção a figurar fortemente nas FMs do mundo.

 

 

Quem ouve as canções do grupo, harmoniosas, belas, cheias de detalhes que emulam algumas estéticas progressivas e as subvertem gentilmente em favor do pop, não pensa que havia um desentendimento sério entre seus integrantes. Os dois compositores e vocalistas, Rick Davies e Roger Hodgson, viviam às turras e disputavam o controle criativo da banda, com momentos de quase irem às vias de fato. Roger já queria abandonar o Supertramp antes mesmo do sucesso de “Breakfast In America”, mas era sempre demovido por Davies e pelo resto do grupo – o saxofonista John Helliwell, o baterista Bob Siebenberg e o baixista Dougie Thomson. A situação ficou insustentável justo durante das gravações de “Famous Last Words”, que foram abandonadas por Roger. O trabalho seguinte, “Brother Where You Bound”, de 1985, já traria o grupo devidamente na forma de quarteto. Foi nesta época que o Supertramp fez sua única aparição em terras brasileiras, a bordo do primeiro Hollywood Rock, contando com músicos de apoio para dar conta da maior característica que Hodgson trazia à banda: os vocais agudos.

 

 

A verdade é que o grupo não foi mais o mesmo sem Roger. Em 1987 lançaram “Free As A Bird”, que trouxe algum sucesso com a faixa-título, mas só voltariam a gravar um disco de inéditas em 1997, quando veio o fraco “Some Things Never Change”. Cinco anos depois, com a promessa de que Roger voltaria à banda, o Supertramp se reuniu para um novo trabalho. Com a participação cancelada, o grupo soltou o interessante “Slow Motion”, em 2002 e entrou num hiato que já dura 20 anos. Hodgson, por sua vez, entrou em carreira solo e lançou dois bons trabalhos ainda nos anos 1980, o simpático e supertrâmpico “In The Eye Of The Storm” (1984) e o pop “Hai Hai” (1987) e adentrou os anos 1990 com discos trabalhos menos interessantes, fazendo revisitas constantes à velha banda em novas gravações e shows.

 

 

Detalhe interessante: em 2007, a faixa “Breakfast In America” foi sampleada pelo grupo Gym Class Heroes, na canção “Cupid’s Chokehold”, que fez um sucesso mundial absurdo. Só no Spotify, ela tem mais de 300 milhões de audições, servindo para apresentar o Supertramp para uma novíssima geração de fãs em potencial.

 

Aqui está uma listinha com nossas preferidas do grupo, na intenção de fazer justiça a uma das bandas mais simpáticas do pop rock dos anos 1970, escanteada por um bando de gente chata.  As duas últimas canções são dos álbuns solo de Roger Hodgson, “Lovers In The Wind” e “You Make Me Love You”.

 

Aqui vai.

 

 

1 – Cannonball (1985) – sou um fã pouco ortodoxo do Supertramp e cravo como minha faixa preferida uma que não tem participação de Roger Hodgson. “Cannonball” foi o hit de “Brother Where You Bound”, álbum de 1985 e tem uma onda meio funk jazz que é simplesmente sensacional.

 

 

2 – Fool’s Overture (1977, versão “Paris” – 1980) – o épico do Supertramp, presente no álbum “EVen In The Quietest Moments”, de 1977, sobre a Segunda Guerra Mundial. A versão ao vivo, de três anos depois, parte do duplo “Paris”, é mais interessante e a participação do público faz muita diferença.

 

 

3 – My Kind Of Lady (1982) – aqui vai uma informação: “Famous Last Words”, de 1982, é meu disco preferido do Supertramp e é um álbum de uma banda em frangalhos. Esta cançoneta estilizada de r&b clássico dos anos 1950 já foi dedicada mentalmente por mim a vários crushes do passado distante.

 

 

4 – School (1974, versão “Paris” – 1980) – a introdução de gaita nesta canção é um clássico setentista. O solo de piano é como uma montanha russa pela primeira vez. A gravação original, do álbum “Crime Of The Century”, é linda, mas a versão ao vivo, de “Paris”, é irretocável.

 

 

5 – It’s Raining Again (1982) – o grande hit oitentista do Supertramp, uma pequena fábula sobre amor não correspondido, é uma lindeza pop de primeira grandeza. O solo de saxofone de John Helliwell é maravilhoso.

 

 

6 – Downstream (1977) – balada bela e pianística presente no bom álbum “Even In The Quietest Moments”, com destaque para o belo vocal de Rick Davies e os timbres de piano se alternando.

 

 

7 – Goodbye Stranger (1979) – faixa maravilhosa de “Breakfast In America”, minha preferida do disco e um pequeno milagre de oscilações de harmonias e timbres, sem falar na alternância clássica entre os vocais mais graves (Davies) e agudos (Hodgson), a maior marca registrada do grupo.

 

 

8 – The Logical Song (1979) – a canção mais conhecida do Supertramp, um hit clássico e irretocável. O uso do Fender Rhodes como fio condutor da melodia, a voz aguda, o solo violento de saxofone, sem falar no tom espanholado que o arranjo insinua, tudo aqui é muito bonito.

 

 

9 – Lover Boy (1977) – outra faixa com ares clássicos de balada sessentista, algo que o Supertramp sempre curtiu fazer. Aqui a surpresa pela mudança de andamento e pelo arranjo r&b dão a tônica. Uma lindeza meio esquecida no álbum “Even In The Quietest Moments”.

 

 

10 – Ain’t Nobody But Me (1975) – outra canção em midtempo com têmpera r&b, presente no disco de 1975, “Crisis, What Crisis?”, meio esquecido pelos admiradores da banda.

 

 

11 – Hide In Your Shell (1974) – outra lindeza do álbum “Crime Of The Century”, com vocal e presença marcante de Roger Hodgson, uma das preferidas das minhas amigas queridas do Colégio Santo Agostinho lá nos anos 1980.

 

 

12 – Two Of Us (1975) – canção linda e angelical presente em “Crisis, What Crisis?”, o disco de 1975. Aqui Roger encarna a sua versão mais doce e lírica, construindo um arranjo quase devocional. Belezura.

 

 

13 – You Started Laughing (1980) – canção que o grupo só registrou ao vivo, no duplo “Paris”. Tem um arranjo misterioso, que oculta em frases longas de metais uma melodia fluida e pop. Pérola oculta.

 

 

14 – Put On Your Old Brown Shoes (1982) – o Supertramp sempre gostou de fazer canções com acento r&b e outras misturebas mil. Aqui há gaitas, piano Fender, palmas, vocais alternados e um clima de festa inesperado. Uma das preferidas pessoais, presente no ótimo “Famous Last Words”.

 

 

15 – I’m Begging You (1987) – hit do disco “Free As A Bird”, de 1987, com Rick Davies comandando os trabalhos. Trata-se de um r&b moderno, com alguns acentos eletrônicos, timbres sintetizados e ótimo andamento. Prova de como o Supertramp sabia se virar com mais tecnologia à disposição.

 

 

16 – C’est Le Bon (1982) – mais uma balada angelical da banda, desta vez presente em “Famous Last Words”. O riff inicial, que permeia boa parte do arranjo, é belo e inesquecível, assim como a melodia doce, verdadeira cesta de três pontos de Roger Hodgson.

 

 

17 – Bloody Well Right (1974) – mais um r&b clássico, com direito a bons fraseados jazzísticos no piano, cortesia de Roger e Rick, que se amarram nessa onda. Faixa de “Crime Of The Century”.

 

 

18 – Take The Long Way Home (1979) – mais um hit de “Breakfast In America”, mais uma canção com acento r&b, mas com modificações interessantes, como o uso da gaita, o arranjo dramático que se transforma em circense e tudo mais. Belezinha.

 

19 – Over You (2002) – belezura esquecida no álbum “Slow Motion”, de 2002, o último trabalho de canções inéditas do grupo. É uma clássica canção com a marca de Rick Davies, com melodia bela e aquele toque de baladão clássico dos anos dourados. O refrão é simples e belo, como convém.

 

 

20 – Breakfast In America (1979) – faixa-título do sexto disco da banda, um best seller. Curtinha, animada e meio surreal, a faixa é uma das preferidas dos fãs da banda.

 

 

21 – It’s Alright (1987) – eu gosto dessa canastrice meio latina que o grupo cometeu em “Free As A Bird”. Dançante, cheia de detalhes e com uma melodia ótima, esta canção tem valor.

 

 

22 – Lovers In The Wind (1984) – Roger Hodgson – faixa presente no primeiro disco solo de Roger Hodgson, “In The Eye Of The Storm”, que dá prosseguimento à sonoridade clássica do Supertramp setentista. Balada pop progressiva de primeira grandeza.

 

 

23 – You Make Me Love You (1987) – Roger Hodgson – a melhor criação solo de Roger Hodgson, esta canção puxou o segundo álbum solo dele, “Hai Hai” e foi hit de média força aqui no Brasil. A melodia é linda, a letra idem e o solo de guitarra do final, ainda que curto, é uma lindezinha.

 

 

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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