RIP Cláudia Reitberger

 

 

Soube há pouco pelas redes sociais que Cláudia Reitberger morreu. Estou sem saber como agir, éramos amigos queridos ainda que eu não a visse há tempos. Ainda não sei a causa da morte, Cláudia morava em Muri, distrito de Friburgo, na Região Serrana. Estou bem triste, desconcertado até.

 

Porque Cláudia não era dessas pessoas que morrem, sabe? Era uma criatura bondosa, gentil, engraçada e dotada de grande inteligência. Por conta dela, entrei para este mundo volátil do jornalismo musical. Foi ela que recebeu a mim e a meu amigo Leonardo Salomão e nos aceitou como colaboradores da recém-fundada revista Rock Press. Lembro de irmos à casa dela, na Glória, Zona Sul do Rio, levando apenas um caderno de resenhas escritas à mão e um exemplar do jornal que editávamos na Faculdade de Comunicação da Uerj, o “El Orongo”. Ela leu, riu, perguntou algumas coisas para nós e saímos de lá com discos para resenhar já pro próximo número. Nossa ideia era assinarmos juntos os textos e fizemos assim até o Leo não poder mais continuar, alguns números depois. Mas lembro que o primeiro disco que resenhamos foi “Set The Twilight Reeling”, do Lou Reed. Um bom começo, no incrivelmente distante 1996.

 

A partir daí, colaborei com a revista por muito tempo. Mudei de cidade, fui morar junto com uma namorada, voltei, me separei, escrevi meu primeiro romance, “Vestido de Flor” e Cláudia esteve presente como amiga. Fiz até uma homenagem à ela com um personagem no livro, a Christina. Era seu segundo nome. Lembro dela recebendo a mim e à minha então futura esposa, Maria, para que nos preparássemos para ver o concerto do maestro Ennio Morricone no Teatro Municipal, em 2008. Cláudia fora a responsável por meu encontro com Maria.

 

Desde então só nos falamos por telefone ou rede social. Ela se mudou do Rio para Friburgo e lá vivia, com seu companheiro e seus gatos. Havia distância física, mas, quando nos falávamos, a velha intimidade e camaradagem estavam presente.

 

Ela foi a primeira pessoa que acreditou em mim como jornalista. Em mim e em toda uma geração de escribas e profissionais que estão aí até hoje, de Marco Antônio Bart a Bruno Eduardo, tendo aberto espaço para gente que já atuava no meio, como Marcos Bragatto e Marcelo Costa. Flávio Flock, designer que assinou vários trabalhos, foi responsável por várias capas da Rock Press. Michael Menezes, que hoje toca o site Portal Rock Press, publicou várias fotos na revista. E foi com Claudia e a Rock Press que eu conheci um monte de bandas cariocas e brasileiras de rock independente, que batalhavam espaço e atenção para seus trabalhos: Pelvs, Luisa Mandou Um Beijo, Astromato, Los Hermanos, Los Djangos, Jason, entre muitas, várias outras.

 

Que ela esteja bem, finalmente acomodada na luz dourada que ela tanto dizia ser benéfica e curadora de tudo. É o mínimo que posso desejar. E agradecer. Por tudo.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

6 thoughts on “RIP Cláudia Reitberger

  • 19 de outubro de 2021 em 16:24
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    Chorei com seu depoimento, meu caro. Estou em choque.

    Tentei, mas, ainda não consegui escrever nada sobre a Dix.

    Fique bem.

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    • 19 de outubro de 2021 em 18:32
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      Fala, meu caro. Sim, escrevi sob o impacto da notícia. Muito triste. Abraço.

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  • 19 de outubro de 2021 em 13:45
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    eu to muito em choque e muito, muito, muito triste

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    • 19 de outubro de 2021 em 14:33
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      Sim, também estou. Força pra nós.

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  • 19 de outubro de 2021 em 13:04
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    Tenho a coleção completa do Rock Press. Baita trabalho, tanto na qualidade de conteúdo quanto no entendimento de que você precisa atingir várias camadas quando aborda história e factual em um mesmo produto. Triste pela partida da Claudia, mas feliz pelo legado que ela deixou. Acreditar no talento das pessoas, dar oportunidades e formar uma geração tão forte não é para qualquer um.

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    • 19 de outubro de 2021 em 14:33
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      Sim, é verdade. Sigamos em frente. Obrigado pelo post.

      Resposta

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