43 absurdos na lista da Rolling Stone

 

 

Listas de melhores de todos os tempos são: 1) sempre erradas; 2) sempre sujeitas a revisitas. Assim ocorreu com a da Rolling Stone, que foi “atualizada” há alguns dias com uma chamada pomposa no Twitter:

 

“A nossa lista com os 500 Melhores Discos de Todos os Tempos foi originalmente publicada em 2003. Mas nenhuma lista é definitiva, então decidimos recriá-la do zero.”

 

Eu nem dei muita bola quando a primeira saiu, mas, dessa vez, resolvi dar uma parada e olhar o que diz um dos veículos mais poderosos do mundo. Como historiador, sei bem que é inevitável que os conceitos de “melhor”, “bom” e “ruim” mudem com o tempo e que, sem ser redundante, é preciso esperar que as opiniões se transformem para que isso ocorra. Só que, por mais que o tempo seja acelerado hoje em dia, é temerário modificar uma seleção de álbuns feita há menos de 20 anos.

 

Quando o staff de votantes – jornalistas, artistas e mais um monte de gente – diz que “resolveu” recriar a lista do zero, quer dizer, na verdade, que devemos esquecer a seleção anterior. Esta aqui vai levar em conta a rapidez dos dias, a efemeridade da música na era digital, o ocaso do rock como ritmo hegemônico da juventude planetária e a ascensão do rap para ocupar o seu lugar. Por mais que isso faça sentido e que o resultado seja, digamos, aceitável na maioria do tempo, houve verdadeiros absurdos que decidi ir registrando. Quando vi, era uma lista enorme, que passo aqui embaixo.

 

 

– Shakira está na lista.

 

– Selena Gomez está na lista

 

– Kid Cudi está na lista

 

– “#1” do Big Star vem atrás de “Barrio Fino” do … Daddy Yankee.

 

– “Fine Line”, de Harry Styles, mesmo que seja um bom disco, vem na frente de “Here My Dear”, o trovejante disco do divórcio de Marvin Gaye.

 

– Um tal de Bad Bunny está na lista e ele vem na frente de “Dictionary Of Soul”, de Otis Redding

 

– “Beauty Behind the Madness”, do The Weeknd, vem na frente de “Scary Monsters”, de David Bowie. E “Blackout”, o disco doente da Britney Spears”, vem na frente dos dois.

 

– “Arular”, da M.I.A, vem antes de “Let’s Get It On”, do Marvin Gaye

 

– Tem um tal de Eric Church na lista e ele está na frente de “That’s The Way Of The World”, do Earth, Wind And Fire.

 

– O disco de estreia da Billie Eilish, ainda que seja legal, está na frente da versão finalizada em 2004 de “Smile”.

 

– “1989”, da Taylor Swift, está na frente de “Diana”, de Diana Ross.

 

– O terrível “Emancipation Of Mimi”, da Mariah Carey, está na frente de “Surfer Rosa”, dos Pixies.

 

– “In Rainbows”, do Radiohead, está na frente de “Young, Gifted And Black”, da Aretha Franklin.

 

– E “Donuts”, do J. Dilla, está na frente dos dois.

 

– Tem um disco de Lil’ Wayne à frente de “Anthology”, dos Temptations

 

– Tem um disco do Drake à frente de “All Things Must Pass”, do George Harrison.

 

– Eu vou repetir: Tem um disco do Drake à frente de “All Things Must Pass”, do George Harrison.

 

– Tem um disco do My Chemical Romance à frente de ‘More Songs About Buildings and Food’ (Talking Heads), “Mothership Connection” (Parliament) e “Never Too Much”, do Luther Vandross.

 

– Eminem está na lista.

 

– O último disco de Lana Del Rey, “Norman Fucking Rockwell”, está à frente do clássico álbum de Elvis Presley, “From Elvis To Memphis”.

 

– Tem um disco da Rosalía à frente de “The Who Sell Out”, a obra prima psicodélica do The Who.

 

– “Californication”, do Red Hot, está na frente de “Mr. Tambourine Man”, dos Byrds.

 

– Um disco do 50 Cent está na frente de “Nilsson Schmilsson” (Harry Nilsson) e de “In The Wee Small Hours”, de … Frank Sinatra.

 

– Kacey Musgraves está na frente de “White Light/White Heat”, do Velvet Underground.

 

– E “Yeezus”, do Kanye West”, está na frente de ambos.

 

– E Kanye West está na frente do LL Cool J.

 

– “Anti”, da Rihanna, vem na frente de “Giant Steps”, de John Coltrane.

 

– Tem um tal de Raekwon na frente de “Dejá Vú”, do Crosby, Stills, Nash And Young.

 

– Lil Wayne ressurge na lista, agora na frente de Ray Charles e Nina Simone.

 

– Kanye West agora vem na frente de “Low”, do David Bowie.

 

– Um disco da Robyn vem à frente de “With The Beatles”.

 

– Eninem ressurge à frente de Blondie

 

– “21”, da Adele, está à frente de “The Imaculate Collection”, da Madonna.

 

– Kanye West novamente. Agora ele vem na frente de Van Morrison, Eagles e Sly And Family Stone.

 

– Fiona Apple na frente de Lou Reed.

 

– Taylor Swift está na frente de “Music From The Big Pink”, da The Band.

 

– Um disco do Drake està à frente de “Automatic For The People”, do REM.

 

– Beyoncé vem antes de Sly And Family Stone.

 

– Kanye West na frente de Aretha Franklin e Curtis Mayfield.

 

– Outkast na frente de James Brown e John Coltrane.

 

– Um disco do Nas à frente de “Sign O’The Times”, do Prince.

 

– “Back to Black”, da Amy Winehouse, na frente de “Innervisions”, do Stevie Wonder

 

– “Ready To Die”, do Notorious BIG na frente de “Velvet Underground And Nico” e “Sgt. Peppers”.

 

– ‘My Beautiful Dark Twisted Fantasy’, de Kanye West, à frente de “Highway 61 Revisited”, de Bob Dylan.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

5 thoughts on “43 absurdos na lista da Rolling Stone

  • 15 de outubro de 2020 em 14:36
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    Cara se você me permite gostaria de discutir alguns pontos com você:

    1) Antes de mais nada é importante entender com a lista foi formulada, com a opinião de vários músicos, produtores da indústria, só que diferentemente da primeira um grupo mais plural, com mais mulheres, negros e jovens.
    O que explica tanta coisa nova, convenhamos a relevância de The Byrds por exemplo é menor do que um Drake para a maioria das pessoas, não to dizendo em qualidade e sim em alcance. (Eu acho absurdo qualquer disco do Drake na lista).Desta forma, considerando que a lista não pegou opinião de críticos e historiadores é até normal alguns “absurdos”.

    2) O que dificulta muito o julgamento da lista é justamente juntar em um mesmo “saco” Jazz, Beatles, Rap, Pop, Funk… e por ai vai . O que quero dizer? Sempre vai ter “tal disco é melhor que Beatles?”, mas ai é o problema, o que seria justo? 4 discos dos Beatles no top 10? todos no top 50? a lista delimitar estilos? décadas? apenas um disco por banda?

    3) E voltando ao primeiro item, mesmo com tanta pluralidade nos votantes a lista ainda se resume a praticamente apenas discos em língua inglesa, não tem discos brasileiros, praticamente não tem discos latinos , sem música oriental, poucas discos europeus de língua não inglesa…

    Talvez a melhor lista possível seria da seguinte forma (considerando o esquema de votantes criarem listas e pontuarem as pontuações mais altas para a elaboração da lista final):

    * Apenas um disco por artista
    * As redações da Rolling Stones pelo mundo fecharem suas listas nacionais para a consolidação de uma lista mundial.

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  • 12 de outubro de 2020 em 15:33
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    Agradeço o comentário, Ernesto, aqui a gente não faz o convencional. Abraço!

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  • 26 de setembro de 2020 em 12:37
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    Exato, meu caro Roberto. Mas é sempre válido a gente dar uma acompanhada no que os veículos de comunicação hegemônicos, formadores de opinião, estão entendendo como relevante. E a gente faz a crítica e explica o porquê. Obrigado!

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  • 26 de setembro de 2020 em 12:35
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    Este artigo parece aquela batida estória dos sujos metendo o paú nos mal- lavados. E quantos álbuns e artistas melhores do que todos que estão neste artigo nem são citados e nunca serão…. BULLSHIT!

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    • 12 de outubro de 2020 em 15:25
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      Parabéns pela reportagem e raro um jornalista musical brasileiro questionar uma publicacao. Na maioria das vezes somente se repete a informação sem questionamento crítico.

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