Novo disco de Tom Morello podia ser melhor

 

 

Tom Morello – The Atlas Underground Fire

Gênero: Rock, eletrônico

Duração: 46:29 min.
Faixas: 12
Produção:  Tom Morello
Gravadora: Mom + Pop

3 out of 5 stars (3 / 5)

 

 

 

Tom Morello, sabemos bem, é nosso. Guitarrista do Rage Against The Machine e do Audioslave; colaborador recente de Bruce Springsteen; integrante do Prophets Of Rage; trovador eletro-folk como The Nightwatchman; participante de gravações com gente tão díspar como Johnny Cash, Joe Strummer e Primus. Com estas credenciais, nem precisava dizer que o cara é politicamente engajado, formado em Ciências Políticas e História e progressista, mas ele é tudo isso. E agora, dois anos depois do álbum “The Atlas Underground”, no qual misturou suas guitarradas características a canções eletrônicas, ele volta com um disco de colaborações e tentativa de flexibilizar o que entendemos por … rock. No sentido da generosidade, o disco é um sucesso e brilha facilmente. Em termos de flexibilização do estilo, bem, não tanto. E deixa o ouvinte mais esclarecido com um pouco de raiva pois, ao contrário da diversidade que sua guitarra pode comportar, Morello se fixa quase que totalmente no caminho aberto pelo Rage Against The Machine. E é nele que os melhores resultados surgem.

 

Sendo assim, a impressão que dá é que estamos ouvindo um disco em que, além destas tentativas de evolução a partir do RATM, temos umas outras faixas que estão ali apenas para encher espaço. Sabendo da habilidade de Tom, é uma sensação quase frustrante. Mesmo assim, como não há muita lógica neste terreno, uma das melhores coisas presentes em “The Atlas Underground Fire” é a cover de “Highway To Hell”, com participação de dois monstros vocais, Bruce Springsteen e Eddie Vedder. A chance desta colaboração dar errado era mínima, convenhamos. Tudo está no lugar, a interpretação dos cantores é ótima e forte na medida certa, enquanto Tom dá conta do recado, preenchendo espaços aqui e ali e encorpando o registro oficial do AC/DC. Claro, não há motivo para compará-lo a esta versão, ambas as gravações têm seu lugar e razão de existir.

 

Outro momento bacana é a parceria com Damian Marley em “The Achilles List” é também influenciada pelo metal grooveado que o RATM inventou no início dos anos 1990, ainda que a produção aqui tenha mais eletrônica do que o habitual. A composição é incendiária e a combinação dos vocais de Damian com a guitarra de Morello é bastante convincente, dando origem a uma faixa quase furiosa. Outro momento bacana é a faixa de abertura, “Harlem Hellfighter”, na qual Morello aparece apenas com sua guitarra em meio a batidas eletrônicas. Digna de menção é a faixa de encerramento, “On The Shore Of Eternity”, com o palestino Sama’Abdulhadi, eletrônica e interessante.

 

O resto de “The Atlas Underground Fire” decepciona tanto nas faixas derivadas da fórmula do RATM – caso de “Save Our Souls”, com Dennis Lynxzén, do Refused ou “Charmed”, com o Protohype – ambas sem criatividade para escapar da mesmice, ainda que a segunda quase surpreenda com o uso massivo de timbres eletrônicos, mas tudo soa meio repetitivo. Especialmente irritante é “Let’s Get This Party Started”, colaboração com o grupinho de neo-metal Bring Me The Horizon que funciona como uma faixa do Linkin Park remixada para 2021 com participação de Morello. “Hight Witch”, com a cantora californiana phem, é chata e banal, enquanto “Hold The Line”, com grandson, rocker/hip-hopper americano, é outra emulação de RATM pálida e de olhos encovados. E fracassam também as tentativas de aproximação com um pop mais enguitarrado, caso de “Naraka”, com Mike Posner e “The War Inside, com Chris Stapleton.

 

No fim das contas, se há uma certeza que “The Atlas Underground Fire” deixa é que Tom Morello é capaz de fazer muito mais e melhor. E ele tem crédito pra isso.

 

Ouça primeiro: “Highway To Hell”, “Achilles List”, “Harlem Hellfighter”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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