Rebel Whopper x McVeggie – qual o melhor?

 

 

Sou gordo e curioso, uma combinação que pode ser mortal em vários sentidos e conotações. Apesar de carnívoro com certa convicção, tenho imensa simpatia pelos vegetarianos e, via de regra, seus pratos e criações. Geralmente são comidas deliciosamente temperadas, que visam enfatizar sabores e texturas, com a intenção de “compensar” a ausência de alguma proteina animal em seu preparo. Via de regra o resultado é bom. De uns tempos pra cá, surgiram produtos que ampliam esta regra de ouro das comidas de origem vegetal, penetrando no terreno da simulação. Hamburguer feito ingredientes como ervilha, grão de bico, feijão, entre outros, passaram a fazer parte de cardápios de restaurantes, mas, de uns tempos pra cá, as cadeias de fast-food entraram nessa onda também.

 

Nos Estados Unidos, templo a céu aberto da comidaria letal, há um movimento chamado “future burger”, que visa criar um sucedâneo vegetal para as carnes que vão nos bilhões de sanduíches que os americanos consomem. Claro, chegou aqui e vem crescendo de visibilidade, a partir de iniciativas tomadas pela rede de bebidas Do Bem e por restaurantes especializados em carnes, como o TT Burger, de Tomás Troisgros, no Rio de Janeiro. A partir daí, os gigantes McDonald’s e Burger King inseriram em seus cardápios opções vegetarianas e eu fui experimentá-las, para dar minhas impressões. Temos então um embate entre o Rebel Whopper e o McVeggie.

 

O Whopper é uma espécie de sanduíche grande padrão do Burger King. Tem alface, tomate, maionese, bacon, molho especial e a carne, que tem um bom tamanho e gramatura. O Rebel Whopper repete esta estrutura com um hamburguer vegetal, em vez do tradicional, com a missão de imitar o original. A aparência é a mesma do sanduíche habitual, mas basta uma mordida para entender a coisa toda. O similar vegetal, apesar de esforçado, não tem nem a textura, nem o sabor da carne animal, seja pela ausência de gordura, seja por problemas no tempero, sabe-se lá. A ideia então é confiar na mistura dos outros ingredientes para mascarar esta diferença, o que acontece até chegar naqueles momentos em que mordemos apenas a “carne” e o pão. Quando isso acontece, a diferença é óbvia e a textura é o principal problema, chegando a comprometer a própria integridade do sanduba, que tende a desmontar em suas mãos. Mesmo assim, com a evidente distinção, não condeno o Rebel Whopper totalmente, visto que é uma iniciativa bacana e que pode ser aperfeiçoada. Segundo consta, a base de ingredientes da “carne” é de proteinas de soja, ervilha e beterraba, tudo orgânico. Se for verdade, vale apostar em uma versão repaginada.

 

O McVeggie tem outra proposta. Em meio a um pão brioche e salada – alface, tomate, cenoura ralada, cebola caramelizada – está um … disco de queijo coalho empanado. Sendo assim, o comensal não vai comprar algo que não é o que diz ser. É um sanduíche que não traz hamburguer, logo, não há que se pensar em simulação ou algo no gênero. Me parece mais honesto, sei lá, sob o ponto de vista ético e mesmo alimentício. Sabemos que vamos comer queijo, algo feito a partir do leite, portanto, veganos devem evitá-lo. A questão é: algum vegetariano irá optar por comer algo assim, se este for alguém preocupado com a saúde e que evite consumir alimentos processados, industrializados ou algo assim? Serve para o McVeggie e para o Rebel Whopper.

 

A verdade do consumo de alimentos na rua é que o objetivo maior parece ser a recriação de algo mais saudável, que nos remeta à alimentação que tínhamos em casa, quando éramos crianças no século 20. Naquele tempo, as coisas pareciam involuntariamente orgânicas, uma vez que a indústria ainda não havia avançado em agrotóxicos e técnicas de processamento de derivados, pra não falar nos transgênicos. Comer – pelo menos para quem tem alguma preocupação com a saúde – se tornou uma pista de obstáculos. Como aliar alguma certeza de consumir um alimento saudável e minimamente natural quando estamos em ambientes como uma praça de alimentação de shopping?

 

No caso de McVeggie e Rebel Whopper, as intenções são boas, os produtos oscilam em qualidade e resultado. Se você quiser um sanduba honesto e com identidade, recomendo – se não houver uma opção melhor – o do McDonald’s. Ou, se houver a chance, um vegetariano do Subway, com ingredientes naturais que vão sendo colocado enquanto você vê o preparo. De simulação já basta o século 21.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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