A implacabilidade dos números

 

 

Nunca fui bom em Matemática. Da minha mais empoeirada prateleira da memória, lembro que tirei apenas uma nota dez em toda a vida. Acho que foi no que se chamada de sexta série. Minha relação com os números nunca foi das mais prodigiosas, mas tenho que admitir que eles cumprem a função de mexer conosco, para o bem e para o mal. É porque números não têm sentimentos, eles são frios, precisos, verdadeiros por natureza.

 

Por isso mesmo, a imagem que estampa este pequenino texto, é apenas o total de mortos pela covid-19 ontem, dia 02 de março. E ele pode caducar hoje mesmo, quando, quem sabe, bateremos novo recorde de vítimas. Porque no Brasil do burrismo genocida, vai-se na contramão do resto do mundo. Enquanto outros países conseguem frear o avanço da pandemia por conta de medidas de isolamento e campanhas ostensivas de vacinação, aqui as posturas pró-vacina se tornaram motivo de valoração moral. Se você é a favor da imunização, corre o risco de ser chamado de “covarde” ou algo no gênero, como um parente de uma amiga, professor, foi. E por seus próprios colegas.

 

Mas o 1726 não é o único número.

 

Tem os 5,9 milhões de reais da mansão do flávio bolsonaro.

 

Tem os 6 milhões do valor suposto que ele lucrou no escândalo das rachadinhas.

 

E tem o 17, que 57 milhões de pessoas apertaram em 2018 – vários números numa só frase.

 

Tem os mais de 1000 mortes diárias de média móvel, há mais de 30 dias em alta constante.

 

Tem os 250 reais de auxílio emergencial que o governo se recusa a dar.

 

E tem o número de vidas que nós temos: 1.

 

E estamos com ela sob o risco absoluto diante deste espetáculo dantesco que é o governo e o Brasil de 2021.

 

Protejam-se.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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