“Once Upon A Time” faz 35 anos ainda vivo e quicante

 

 

Vindos na esteira do sucesso com o hit “Don’t You (Forget About Me)” – gravado para compor a trilha sonora do filme “O Clube dos Cinco” – e trazendo os ótimos álbuns “New Gold Dream (81/82/83/84)” e “Sparkle in The Rain” na bagagem, os escoceses do Simple Minds chegaram à metade dos anos 80 com um trabalho marcante e sofisticado. Lançado em 21 de outubro de 1985, “Once Upon a Time” foi produzido por Jimmy Iovine (U2, Bruce Springsteen) e Bob Clearmountain (Pretenders, Hall & Oates) e é o sétimo álbum de estúdio da banda liderada pelo vocalista Jim Kerr.

 

Para evitar serem reféns de um único hit, a banda optou por não incluir “Don’t You (Forget About Me)” no repertório (a canção estaria presente em reedições posteriores) e confiar nas composições inéditas para divulgar o álbum. É um disco marcado pelo acento pop em que guitarras e sintetizadores dividem o protagonismo nas faixas. Apesar de ter desagradado uma parcela dos fãs mais antigos do Simple Minds, o álbum atraiu novos ouvintes para o grupo e se firmou como um dos grandes exemplares da discografia do New Wave britânico.

 

O álbum cativa o ouvinte já na primeira canção com a faixa-título, dançante e com ritmo envolvente (destaque absoluto para a bateria de Mel Gaynor) e sintetizadores efusivos que remetem aos melhores momentos do Echo & The Bunnymen. As vocalizações de Kerr também são um show à parte e que junto com os aspectos já citados, fazem dessa canção um dos maiores destaques do disco e (por que não?) da carreira.

 

Um dos singles do LP, “All The Things She Said” tem um riff pegajoso e os típicos coros tão presentes em canções pop. Apesar da intenção de empolgar com os sons ligeiros da guitarra, os melhores momentos da canção são aqueles em que os sintetizadores de Michael MacNeil ganham destaque causando uma atmosfera etérea.

 

Já “Ghost Dancing” é bastante frenética. Tratando sobre a desilusão urbana, apresenta ótimas passagens melódicas e possui um dos melhores desempenhos de Charlie Burchill na guitarra em todo o álbum.

 

E encerrando a primeira metade, temos aquele que é provavelmente o maior sucesso do disco, “Alive and Kicking”. Pensada para as multidões, contém os elementos que uma boa canção pop deve conter: backing vocais, um refrão marcante (cantado em êxtase por Jim Kerr) e uma melodia fácil de ser assimilada. É também uma das mais emotivas do álbum, com destaque para o piano sublime de Michael MacNeil, que intensifica o caráter emocional da canção. A despeito do desgaste causado pela execução massiva da faixa ao longo dos anos, ainda continua sendo uma ótima composição.

 

Assim como o lado A, o lado B inicia de maneira excelente com a incrível “Oh Jungleland”. Com uma melodia formidável nos riffs da guitarra de Charlie Burchill, é uma canção de espírito aventureiro e que transpira emoção; e que através de seu ritmo agitado transpõe o ouvinte direto para o ambiente urbano, além de conter um dos refrões mais bonitos do disco. É sem dúvidas mais um destaque deste LP.

 

“I Wish You Were Here” também é outra grande faixa. Singela e bastante cadenciada, é uma canção marcada pelo brilhantismo nos teclados e pela forma com que Jim Kerr imposta sua voz, tornando sua interpretação marcante.

 

Já “Sanctify Yourself” é certamente o único ponto baixo do LP, simplesmente por não trazer nada que seja muito atrativo ou que já não tenha sido mostrado antes. É basicamente o tipo de som para as multidões que o U2 se especializaria em fazer nos anos seguintes.

 

E encerrando o álbum, temos a fantástica “Come a Long Way”. Infelizmente subestimada pelos fãs e um pouco esquecida pela banda, é o último destaque do disco e sem dúvidas uma das melhores (senão a melhor) faixa desta obra. Impactante pelo efeito que a percussão causa e com guitarras excitantes, seu ritmo chega bem perto de um Samba-Rock e é canção mais incrível do álbum. E quando o ouvinte pensa que a canção chegou ao fim, a banda estende a duração com um final instrumental empolgante e frenético.

 

A versão deluxe do álbum destaca-se por conter a excelente faixa instrumental “A Brass Band in African Chimes”, que havia sido lançada previamente como lado B do single de “Don’t You (Forget About Me)” e que adianta o estilo que seria seguido em “Once Upon a Time”.

 

Não há como deixar de falar também sobre o ótimo disco ao vivo “Live in the City of Light” lançado em maio de 1987. Gravado em Paris durante a turnê de “Once Upon a Time”, destaca-se pela apresentação de “Oh Jungleland”.

 

35 anos após o lançamento, “Once Upon a Time” continua tão interessante quanto à época em que surgiu. Embora longe da inventividade dos discos anteriores (“Hunter And The Hunted” continua insuperável), é um álbum que conseguiu unir a veia Pop do grupo com um apelo popular sem descambar para a mera vontade de ser vendável. O disco alcançou as aspirações comerciais da banda – alcançando o topo das paradas do Reino Unido e sendo disco de platina na região e disco de ouro nos Estado Unidos – e também é marcado por ser um dos últimos registros em que as guitarras ganham destaque, sendo que os próximos lançamentos seriam calcados em uma sonoridade mais eletrônica.

 

Gabriel Martins

Colecionador de CD’s desde os 14 anos, descobri o amor à música com o Tears For Fears e a paixão pela brasilidade com Marcos Valle. Apesar de ser formado em Direito, minha vocação se encontra no jornalismo musical.

3 thoughts on ““Once Upon A Time” faz 35 anos ainda vivo e quicante

  • 23 de outubro de 2020 em 16:52
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    Grande álbum… funciona como uma time machine na minha memória!

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  • 13 de agosto de 2020 em 02:04
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    Traduziu “Alive and kicking” como “Vivo e quicante”? “Kicking” significa “chutando”. “Quicando” é “bouncing”.

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    • 13 de agosto de 2020 em 08:13
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      Agradeço seu toque, mas o título da matéria pega carona no que chamamos de “falso cognato”, ou seja, das palavras em inglês que parecem com palavras em português, mas não têm o mesmo significado. É, portanto, uma brincadeira. Gostou do texto?

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