O que é o neoliberalismo?

 

Célula Pop não é um site sobre política. Mas, se você já percebeu, é um site que analisa a cultura – e suas diversas manifestações artísticas – levando em conta a ordem política e social do mundo. Porque, ora, a cultura é produto da sociedade e de seu tempo. Talvez sejamos o único lugar da Internet brasileira em que isso acontece e acredito que este seja um poderoso diferencial da Célula em relação aos outros sites.

 

Pois bem, como é assim, sabemos todos que o Chile está vivendo uma onda de protestos.

 

O país foi um dos primeiros lugares na América Latina em que o neoliberalismo foi implantado como ordenamento econômico. Quando? Logo após o golpe que matou o presidente Salvador Allende e deu o poder ao general Augusto Pinochet, sob auspícios da agência central de inteligência norte-americana, a CIA. Não é teoria da conspiração, há farta documentação que comprova tal associação, dentro de uma lógica chamada Operação Condor.

 

Pois bem.

 

O Chile vive sob o neoliberalismo desde meados dos anos 1970 e só restaurou sua democracia em 1990. Mesmo que tenha vivido governos mais voltados para o social, como da ex-presidente Michele Bachelet, o país é conhecido por ser um dos templos do capitalismo, o que significa, em última análise, um lugar em que há pouca ou quase nenhuma atuação do Estado para mediar a economia, gerando uma desproteção total dos mais pobres. Isso significa dizer que não há por lá a saúde pública gratuita, o ensino público gratuito e a previdência social. Note, são as mesmas instâncias sociais que estão sob ataque aqui. Não por acaso, porque Paulo Guedes, guru da economia vigente no país, é discípulo desta variante aguda do capitalismo.

 

Por essas e outras, decidi, na minha coluna, explicar um pouco do que é o neoliberalismo, sem dar aula, mas com as informações mais importantes e gerais, que você precisa saber. Aqui vai.

PS: é curtinho porque aqui não é lugar de aula de história econômica. É só um leque de argumentos para você disparar nas discussões de curto alcance, como mesa de boteco, rede social e por aí vai.

 

O que é o neoliberalismo, gente?

É uma modalidade de capitalismo, especialmente agressiva e cruel, que defende a quase inexistência do Estado no âmbito econômico.

Zero empresas públicas, zero salvaguardas sociais, zero sindicatos.

O neoliberalismo gosta de entregadores de IFood e motoristas de Uber.

Gosta de dizer que a culpa do pobre ser pobre é dele mesmo, porque ele não se esforçou.

Quando leio isso, penso: ora, mas claro. As sociedades capitalistas são, na raiz, desiguais. Defendem a propriedade privada dos meios de produção, ou seja, o dono da empresa paga ao trabalhador pelo aluguel de sua força e fica com uma diferença, chamada mais-valia.

Um sistema desigual gera uma sociedade desigual. Se o capitalismo existe há mais de dois séculos, que tipo de sociedade teríamos hoje? Sim, sociedades desiguais.

Por isso, num sistema em que essa é a lógica produtiva, não há como uma sociedade ser igualitária.

Houve quem pensasse em formas mais brandas de capitalismo, como o welfare state, por exemplo, que pensava o modelo econômico visando o fortalecimento das camadas mais pobres da sociedade com a participação do Estado através de subsídios, seguros, descontos, menos juros, além de um fortalecimento do setor público.

O neoliberalismo matou o welfare state no início dos anos 1980.

O que Lula fez aqui foi uma variação do welfare state e todos sabem como foi bom para o país. Os governos trabalhistas de Vargas e Jango também tentaram. Porém, as pressões neoliberais fizeram o governo de Dilma ser sabotado e originaram o golpe, e o atual governo.

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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