Francisco Sartori – música para sentir

 

 

Francisco Sartori é um tecladista, produtor e arranjador carioca. Foi membro da banda de reggae Monte Zion, tocou no Boca Livre e com artistas como Carlos Dafé, Andrew Donalds, Duani Martins e Marisa Alfaya, entre outros. Atualmente faz parte do Folakemi Quinteto (da cantora inglesa Folakemi), toca com Gerson King Combo e não para de produzir em casa. Seu lançamento mais recente é o single O Beduíno, parceria com o percussionista Felipe Mercandelli, uma viagem instrumental disponível nas plataformas digitais de música.

Nesta edição da Coluna Coringa, Sartori fala como tem encarado a pandemia, e com o que conta para manter a produção e a inspiração em dia.

 

Coluna Coringa: Como você está enfrentando a pandemia? E como está sua produção artística?

Franscisco Sartori: Essa pandemia é muito desafiadora para todos, principalmente para músicos autônomos. Sou professor de música, dava aula em três escolas e tinha alguns alunos particulares. Uma das escolas fechou, mas alguns alunos se transformaram em alunos particulares, e isso me deixou com a renda próxima à que eu tinha antes. Atualmente trabalho em um disco novo, fazendo arranjos, mixando e gravando. Já fiz outros projetos também nessa pandemia e, graças a Deus, apareceram trabalhos…

 

CC: Ou seja, de certa forma o isolamento gerou algum efeito positivo…

FS: Realmente a pandemia mexeu com meu psicológico de uma forma positiva quanto à produção das minhas composições e à finalização de músicas já gravadas e que ainda precisavam de mixagem, por exemplo. Eu mesmo trabalhei na mixagem e na masterização destas composições. Meu lado criativo também aumentou: é como se fosse uma válvula de escape. Para não ficar mal com tudo isso, comecei a compor sem parar…

 

CC: Quais foram seus trabalhos mais recentes?

FS: Ano passado tive o imenso prazer de fazer meu primeiro álbum, disponível no Spotify e em todas as plataformas digitais de música, chamado Francisco Sartori. Estou trabalhando para finalizar a produção dos próximos dois álbuns. A princípio seria um só, mas como vieram muitas músicas novas, acabei separando em dois discos, e o primeiro deles será lançado ainda esse ano. O gênero do disco um é muito variado, mas basicamente uma música instrumental complexa e dançante ao mesmo tempo. O disco dois segue na mesma pegada: muito groove e muitos arranjos modernos. Já a música O Beduíno, com Felipe Mercandelli, é a primeira de uma série para um disco que faremos juntos. Já estamos iniciando o processo da segunda música, que vai ser chamar A Sereia.

 

CC: Você é filho de Maurício Maestro, artista que já era múltiplo, importante e presente na história da MPB antes mesmo de se tornar um dos fundadores do Boca Livre. Conte quais foram suas influências musicais em casa, e como você encara essa qualidade de transitar entre sonoridades e projetos?

FS: Meu pai foi um grande mestre para mim na música. Metade do que eu aprendi na minha vida sobre arranjo, harmonia e teoria musical, foi com meu pai. Tocar no Boca Livre, mesmo que por um período de um ano e pouco, foi muito importante para mim. Uma pena que eu era muito novo e talvez não tivesse ainda no nível deles…

 

CC: Maurício Maestro tem uma trajetória que merece ser citada para os leitores da coluna: integrou, com David Tygel, Zé Rodrix e Ricardo Villas, o grupo vocal Momento Quatro, com o qual acompanhou Edu Lobo na apresentação de Ponteio, que venceu o Festival da Record em 1967; fez o arranjo para Mustang Cor de Sangue, de Marcos e Paulo Sérgio Valle; acompanhou Joyce e, em 1978 fundou o Boca Livre com David Tygel, Zé Renato e Claudio Nucci, e ainda continua na ativa. Uma história e tanto…

FS: É verdade. Também aprendi muito de música com Ian Guest, meu primeiro de professor de música, que já compôs diversas trilhas sonoras para cinema, teatro e comerciais, como Guerra Conjugal (1975), de Joaquim Pedro de Andrade, Anti-Nelson Rodrigues (1974), de Nelson Rodrigues. As composições de Guest também foram gravadas por Vittor Santos, Nelson Faria, Golden Boys, Trio Ternura, Renato e seus Blue Caps, entre outros. Além disso, ele foi responsável pelos arranjos e pela direção musical de discos gravados por Marcos Valle, João Donato e Fagner, entre outros.

Sou grato por ter tido, de formas diferentes, contato com estas pessoas que influenciaram minha música!

 

CC: De que forma você acha que a realidade imposta pelo novo coronavírus afetou ou afetará o modo de pensar ou agir das pessoas?

FS: Acho que essa crise do coronavírus afeta de forma totalmente diferente as pessoas. No meu caso, me fez refletir muito sobre a vida e a morte, para otimizar o meu tempo e produzir meu trabalho. É bom às vezes lembrarmo-nos de que nada é para sempre. Então, minha obra é meu legado.

 

CC: Se a vida no geral já estava difícil, imagine para os artistas…

FS: Acredito que esteja tudo mais complicado para classe artística. Vejo pelos meus amigos: os que sentiram mais a crise são aqueles que tocavam com artistas grandes, porque tiveram uma queda enorme nos rendimentos. No meu caso, sigo produzindo, mas ainda não me adaptei muito a fazer vários vídeos outros artistas têm feito, por exemplo. Já fiz alguns, mas não com a qualidade e com a excelência com que várias pessoas estão fazendo. Na verdade, eu ainda sou mais fã das músicas gravadas para serem realmente ouvidas, e não dos vídeos que prendem você pelo audiovisual. Quem precisa de vídeo para ouvir uma música não está interessado realmente na música.

 

CC: Você acha que a música tem um papel importante para a saúde mental das pessoas neste momento?

FS: Mais do que nunca está ficando nítido na mentalidade do mundo que a arte não é uma coisa para ser apenas apreciada, mas sim sentida. E quando você sente a música, as séries, as artes plásticas, todo tipo de arte, você se transforma.

 

CC: Além da arte, quais outros recursos você utiliza para ter tranquilidade, paz de espírito e até inspiração?

Tenho um lado espiritual muito conectado. Sou muito ligado em energia, pensamento e evolução pessoal. Tenho também uma coleção de cristais e pedras que é transformadora para minha energia. As pedras têm uma energia milenar, ancestral, talvez tenham nascido nesse planeta na mesma época que os grandes espíritos não encarnados aqui habitavam, antes das populações. Antes do ser humano já existiam as pedras. E energia delas realmente faz a diferença para quem se abre ao sentir.

 

CC: Um recado final para os leitores da coluna?

FS: Meu recado é foquem no agora, pensem que o momento presente é o que nós temos, o passado e o futuro são apenas reflexos. E claro, para quem se interessar aprender aulas de piano popular, harmonia arranjos e teoria musical, será um grande prazer.

Celso Chagas

Celso Chagas é jornalista, compositor, fundador e vocalista do bloco carioca Desliga da Justiça, onde encarna, ha dez anos, o Coringa. Cria de Madureira, subúrbio carioca, influenciado pelo rock e pela black music, foi desaguar na folia de rua. Fã de poesia concreta e literatura marginal, é autor do EP Coração Vermelho, disponível nas plataformas digitais.

One thought on “Francisco Sartori – música para sentir

  • 28 de agosto de 2020 em 13:07
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    Parabéns pela coluna. O entrevistado Francisco Sartori é um excelente músico, faz um trabalho de alta qualidade é um exemplo de profissional a ser seguido. A matéria ficou show!

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