O novo disco do Coldplay é ruim, gente.

 

 

 

Coldplay – Music Of The Spheres

Gênero: Pop

Duração: 41:50 min
Faixas: 12
Produção: Max Martin e Coldplay
Gravadora: Parlophone

2 out of 5 stars (2 / 5)

 

 

 

Vamos fazer o seguinte: apagar tudo o que ouvimos até hoje. Que tal? Vamos, não custa nada. Se fizéssemos isso, o nono disco do Coldplay, “Music Of The Spheres”, seria ok. Usando um termo de Aristóteles, filósofo grego que achava que os planetas e corpos celestes emitiam ondas sonoras, o quarteto inglês bolou um conceito para este novo grupo de canções. Chris Martin, o CEO da banda, pensou o seguinte: como a nossa música soaria no … universo? Sim, como ela seria interpretada, ouvida, enfim, entendida? Com esta humilde questão, ele e seus parças de banda – Guy Berryman, Jonny Buckland e Will Champion – bolaram uma moldura sonora para uma … viagem por um sistema solar imaginário em forma de música. No meu entender, se você precisa de uma mirabolância como esta, essa tal música vem em segundo, terceiro, quarto plano, certo? Até porque, segundo as regras do ultra-capito-marketing de 2021, é necessário revestir seu produto de um conjunto de ideias e intenções que o justifiquem e, acima disso, que imponham a necessidade absoluta do seu consumo. Sendo assim, o Coldplay, este think tank musical, produziu um disco que atende a este preceito.

 

Nem vamos entrar nos meandros que questionam se arte é ou não feita para ser consumida e vamos passar direto às questões musicais. “Music Of The Spheres” tem nove canções e três vinhetas. Dessas canções, duas têm títulos em forma de emojis. A faixa 6, tem um coraçãozinho e a faixa 11, o símbolo do infinito. Vamos nos referir a elas como “coraçãozinho” e “infinito”, respectivamente, certo? As vinhetas, igualmente batizadas com símbolos gráficos, são dispensáveis e genéricas, mas estão aqui para causar e unir algumas faixas, dando aquela impressão de que esta é uma obra interligada, planejada e tal. Não caia nessa, ou caia, você é quem sabe. Há participações no álbum, dentre as quais, o grupo coreano BTS é a mais badalada. Eu nunca ouvi nada deles, mas entrei no seu perfil no Spotify e vi que há uma canção, “Dynamite”, com mais de um bilhão de streamings. Logo, independente de qualquer outra aferição, a presença deles está justificada plenamente no balancete. Também estão presentes o duo We Are KING e o cantor e compositor Jacob Collier, ambos em “coraçãozinho”. E tem a estrela pop Selena Gomez, na balada “Let Somebody Go”.

 

Como tudo na vida tem um lado bom, vamos falar das duas boas canções presentes no álbum. “Higher Power”, um dos singles, tem uma pegada que oscila entre a programação de bateria de “The Boys Of Summer”, de Don Henley, e alguma faixa do Killers fase “Day & Age”. É pop oitentista na veia, bem feito e que deve fazer bonito ao vivo. E tem o single progressivinho “Coloratura”, que encerra o álbum e que lembra algumas coisas feitas pelo Pink Floyd e pelo Alan Parsons Project lá por meados dos anos 1970. Certamente é uma canção feita pela banda para confundir os ouvintes mais críticos, que vão se perguntar: “se esses caras sabem fazer isso, por que não fazem no disco todo?”. Pois é, esta é uma velha tática diversionista do grupo inglês. A gente sabe, tem quase certeza de que ele é capaz de oferecer uma música muito mais encorpada e relevante, porém, levando em conta os parâmetros do nosso tempo, entregam este portfólio pop que, em compensação, os coloca no topo das paradas, discussões e reuniões de marketing.

 

Vamos então, à parte ruim. “Humankind” é a menos pior deste grupo. Tem refrão infeccioso e bom andamento, mostrando até algum sangue nas veias, mas derrapa nos agudos de Chris Martin e no clima de comercial de SUV. “Let Somebody Go”, a faixa com Selena Gomez, não faria feio numa trilha sonora de animação Disney, é superficial, emocionante e climática, feita sob medida para quem não tem alto parâmetro em termos de música pop. “People Of The Pride” é uma canção que serviria bem num disco do Imagine Dragons, o que já diz tudo sobre ela. E depois dela, certamente vem a pior criação da história da banda, “Biutyful”. E por que ela é a pior? Porque Martin usa um efeito vocal que o torna com um timbre oscilando entre o Pikachu e um golfinho, promovendo um dueto entre este timbre e a sua voz normal. A melodia, para nosso desgosto, é bonitinha e a música tinha tudo para ser bacana, mas ela, do jeito que existe hoje, é irrecuperável. E, fechando a tampa, vem a colaboração com o BTS, “My Universe”, que é um erro conceitual, estrutural e de execução. Erro 404.

 

Terminando o percurso “intergalático” do Coldplay (creia, há gente na imprensa especializada se referindo seriamente ao álbum desta forma) a gente percebe que “Music Of The Spheres”, se tem um mérito, é o de ser totalmente fiel ao que vivemos em 2021. A conclusão do que isso significa é por conta de vocês.

 

Ouça primeiro: “Coloratura”, “Higher Power”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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