Coldplay lança novo álbum e vem pro Rock In Rio
Foi anunciado há pouco que a banda inglesa Coldplay retornará ao palco do Rock In Rio. A data já está marcada: 10 de setembro de 2022. O grupo liderado por Chris Martin encerrará a noite no Palco Mundo e deve repetir o show apoteótico de 2011, com o detalhe de que estará divulgando o novíssimo álbum “Music Of The Spheres”, que será lançado amanhã. Detesto admitir, mas a audição desta nova fornada de canções constata que ela não é das melhores. Os singles “Coloratura”, My Universe” (com participação da banda coreana BTS) e “Higher Power” mais confundiram do que explicaram. É interessante o momento pelo qual passamos.
Décadas de disputas midiáticas, culturais e sociais podem e devem afetar a forma como a arte é feita e percebida e, estejam certos, este não é um texto que se pretende cabeçudo sobre o tema. É mais um exercício de pensamento sobre a obra de uma banda de rock. Ou de música pop ou seja lá o tipo de música que o Coldplay faça hoje. Tampouco é um lamento pelos tempos iniciais da banda, em que parecia uma derivação mais acessível da tristeza existencial que artistas díspares, mas conectados, como Radiohead ou Jeff Buckley, haviam forjado ao longo dos anos 1990. Se começou soturno e reflexivo, o Coldplay foi, aos poucos, saindo das sombras rumo à luz e explodiu como supernova com “Viva La Vida” (2008), seu quarto disco de inéditas, no qual contou com a participação de Brian Eno na produção/concepção.
A partir daí, a banda mudou. Só que, ao invés de prosseguir com o modelo de “Viva La Vida”, abraçou um pop esquisito em “Mylo Xyloto”, que veio em 2011, no qual duetava com Rihanna em “Princess Of China”, uma canção que, como dizem os analistas esportivos, é boa no papel, mas não funcionou no campo. Daí pra frente, a banda iniciou um interessante jogo e morde e assopra. O álbum seguinte, “Ghost Stories” (2014), puxava o freio de mão no popismo do anterior e temperava a palheta sonora com alguns temas interiorizantes, como “Always In My Head” e “Midnight”. Mesmo os momentos mais pops, caso dos hits “Magic” e “A Sky Full Of Stars” tinham essa impressão, mesmo que explodissem em sonoridades próprias para estádios. Daí chega “A Head Full Of Dreams” no ano seguinte, novamente pisando fundo nas cores, nas bolotas flutuantes, sem falar nas participações (ou feats) com Beyonce (no hit “Hymn For The Weekend”) e Tove Lo, em “Fun”. Novamente as presenças de convidados se mostram pouco importantes no resultado final, provando que o Coldplay não se mistura facilmente.
Quando tudo parecia vinculado a este modelo popíssimo, no mesmo terreno de bandas gigantescas como Maroon 5 ou Muse, o Coldplay promove novo encolhimento no seu melhor trabalho dos últimos anos, “Everyday Life”, de 2019. Lançado na rabeira pré-pandemia, o disco foi pouco ouvido e traz algumas das faixas mais bacanas que Martin e sua turma soltaram desde “X&Y”, seu terceiro álbum. Não por acaso, é o disco mais “difícil” do Coldplay, uma mistura de U2 (influência permanente da banda) do século 21 com versões ultralight de Peter Gabriel solo e outros artistas mais sérios, que não costumavam ser visitados pelo grupo. É dele um belo hit, “Orphans”, que tem inequívoco sabor oitentista e corinho surrupiado de “Sympathy For The Devil”, dos Rolling Stones. Ainda que exista um certo clima de “United Colors Of Benneton” no álbum, que tem motivos orientais e até documentário com a banda tocando na … Jordânia, podemos considerar que “Everyday Life” esteja no grupo dos trabalhos mais introspectivos do Coldplay.
O que nos leva a este “Music Of The Spheres”. Como dissemos, os singles não ajudaram a definir a cara do álbum. “Coloratura”, o enorme e mais interessante dos três, parece uma releitura light de canções como “Us And Them”, do Pink Floyd e “Time”, do Alan Parsons Project, feita por gente que nunca nem tinha ouvido falar das bandas. Tudo bem, ninguém precisa saber. “My Universe”, com o coreano BTS, é dispensável, pra dizer o mínimo e ser gentil. É um rascunho de canção, totalmente genérica, sem identidade e que deve sumir – esperamos – da lembrança dos fãs em pouco tempo. E “Higher Power” é uma pop song do século 21, com chupação da levada de bateria de um hit velhusco de Don Henley, dos Eagles: “The Boys Of Summer”. É legal, funciona, tem um certo clima de música do A-Ha e um refrão que explode com teclados e corinhos de “ô ô”. Tudo bem.
Amanhã a gente vai publicar a resenha completa de “Music Of The Spheres” e tentaremos entender o passo que o grupo dá agora. Alguns veículos gringos disseram que o disco é “etéreo” e “galáctico”, ainda que não seja possível saber exatamente o que esses termos querem dizer quando aplicados a um … álbum do Coldplay.
A gente volta.
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.