Deftones – Ohms
Gênero: Rock alternativo
Duração: 46 min.
Faixas: 10
Produção: Terry Date
Gravadora: Warner
Deftones está de volta com seu nono disco, “Ohms”. É bom ter algo em mente quando falamos da banda de Sacramento: eles não são um grupo que toca heavy metal, nunca foram, na verdade. Surgiram em meio ao boom de formações do nu metal, na onda de Korn e Limp Bizkit, mas sempre tiveram um acento que tornava desconfortável a inclusão no mesmo balaio dessa gente. Sempre houve uma inquietação, um desejo de fazer algo grande, de ser mais “complexo”, de oferecer uma música com mais detalhes, enfim, os caras da banda, especialmente o frontman Chino Moreno, sempre pensaram grande. Atingiram este píncaro artístico logo no terceiro álbum, “White Pony”, de 2000, no qual amplificaram o espectro sonoro do chamado “som pesado”, levando-o para passear em rincões que até então eram do new romantic oitentista, do rock alternativo, ou da versão noventista/new millenium do progressivo. E sempre fizeram discos interessantes, artisticamente instigantes. Deftones não é uma banda pesada como o Mastodon. É diferente, mais “difícil” de entender e este novo álbum é uma espécie de novo ápice na busca dos sujeitos por um trabalho lapidar em estúdio.
De fato, a presença do produtor Terry Date deve ter ajudado nesta busca por um foco bem nítido em estúdio. Ele assinou os quatro primeiros trabalhos do Deftones e ajudou a forjar esta sonoridade peculiar. É notável como ele coloca os sujeitos para tirarem o melhor de si e estabelecer aquela habilidade de tocar por telepatia. Mas Date é responsável, junto como Moreno, pela sonoridade absolutamente sensacional que o Deftones tira neste álbum. São paredes e paredes de guitarras – cortesia de Stef Carpenter – devidamente manipuladas, reprocessadas, sobrepostas, com riffs sendo colocados por todas as partes, em vários tons, preenchendo o espectro sonoro com naturalidade. Além disso, há peso no diálogo entre bateria e baixo e na presença de Frank Delgado, DJ e tecladista, que ocupa uma função de produtor de bolso, achando timbres e colocando detalhes aqui e ali. Uma audição com fones há de revelar boa parte deles e é muito legal ver como a construção das faixas se dá.
“Ohms” é um disco para ser ouvido em casa, com calma. Ele exige sua atenção, oferecendo em troca esta recompensa de achar todos os seus detalhes. As canções são encadeadas, sugerindo um trabalho conceitual, que seria sobre o mundo caótico de hoje e o uso da unidade de medida da resistência eletríca como metáfora de algo que acenasse para o binômio resiliência/tenacidade. Ou não. A mente de Chino Moreno é misteriosa como as canções e seu jeito de cantar segue instigante, alternando grandes momentos de ferocidade com doçura inesperada. E suas letras seguem ainda mais enigmáticas, dando várias pistas e não contando nenhuma verdade. Tal estilo serve para compor este tal clima de mistério e desnorteio que a banda explora tão bem.
Ainda que as canções surjam levemente encadeadas, “Ohms” não economiza em bons momentos e oferece um conjunto de porradas bem desferidas. Temos a abertura com “Genesis”, que tempera os riffs e a gritaria com teclados e climas que vêm e vão. Logo após vem a ótima “Ceremony, que insere os climas de sintetizadores no meio da massa sonora, com ótimos resultados. “Urantia” mostra como os riffs de Carpenter surgem sampleados e processados como se fossem uma britadeira, que introduz espaço para a voz de Chino surgir num salão de bailes bizarro, devidamente embalada por timbres sintetizados. E a dupla “Pompeji”/”The Link Is Dead” surge engatadas por sons de águas, gaivotas, máquinas e uma ferocidade guitarreira que é substituída por climas, timbres e os tais tiques e taques produzidos em estúdio, que dão o toque especial. Após tudo isso, ainda tem a obsessão emparedada de “Radiant City”, o caos controlado de “Headless” e a esquisitice sensacional da faixa-título, encerrando o percurso.
“Ohms” é um grande disco, feito para ser ouvido na paz e na tranquilidade do lar. Não é pra ser tocado ao vivo ou mesmo servir como trilha sonora para qualquer coisa da sua vida cotidiana. É música que clama sua atenção, que só pode ser devidamente entendida e apreciada com exclusividade. “Ohms” é um disco egoísta e isso é bom.
Ouça primeiro: “Pompeji”
Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.