O melhor segredo do Moons

 

 

 

 

Moons – Best Kept Secret
37′, 9 faixas
(Balaclava)

4.5 out of 5 stars (4,5 / 5)

 

 

 

 

O sexteto mineiro Moons chega ao seu quarto e melhor álbum: “Best Kept Secret”. Digo “melhor” porque, de fato, é o trabalho em que a sonoridade do grupo se define e se consolida como um misto de influências sensacionais que vão desde o folk rock alternativo inicial que eles praticavam, misturando a ele uma pitada de easy listening, jazz pop à la Sade ou algo semelhante e uma intangível mineiridade que escapa do modelo consolidado do “Clube da Esquina” que parece ser obrigatório para todo artista a surgir por lá. De alguma forma misteriosa, o som do Moons capta uma modernidade que ficou para trás, um som que parece adoravelmente fora de lugar e, de certa maneira, misterioso. Não é por acaso que o grupo vem investindo numa carreira internacional, com distribuição em lugares como o Japão, que parece ser um país mais capaz de reconhecer – e valorizar – essas sutilezas sonoras tão interessantes que permeiam as nove faixas de “Best Kept Secret”.

 

Formado por músicos que já têm outras carreiras e projetos, o Moons é André Travassos (violão, guitarra e voz), Bernardo Bauer (voe e baixo), Digo Leite (guitarra), Felipe D’Angelo (voz, piano, guitarra barítona e sintetizadores), Jennifer Souza (voz, guitarra e percussão) e Pedro Hamdan (bateria e percussão). Essa galera se reuniu num sítio nos arredores de Belo Horizonte, submergiu no tempo-espaço, e voltou de alguma dimensão paralela de gentileza e rebuscamento com essas nove canções. Cantadas em inglês, elas soam muito mais adequadas neste idioma, uma vez que é uma forma de musicalidade que exige um idioma, digamos, de maior alcance e tudo soa muito bem resolvido e arranjado. Há naipes de cordas, vibrafones, pianos, teclados, guitarras, metais à meia luz, tudo muito bem pensado e posicionado para despertar no ouvinte esta tal sensação de estar numa realidade alternativa e mais gentil.

 

Este é um álbum em que não há desperdício. Tudo é belo e necessário. Os momentos mais interessantes, porém, surgem quando o Moons faz movimentos sutis e em câmera lenta em direção a um pop elegantíssimo. O primeiro deles é “The Will To Change”, que parece uma canção dos tempos da Bossa Nova dos anos 1960, mas, de algum jeito, entra uma levada de violão que poderia estar em “Na Paz Do Seu Sorriso”, de Roberto Carlos. E os vocais em inglês acentuam a sensação de quebra-cabeças sonoro que a banda propõe. Fazer isso tudo e ainda soar deliciosamente pop, é mérito inegável e de poucos. “Low Key” é outro momento dourado suspenso no ar. Violões fluidos surgem em velocidade e os vocais dobrados apontam para uma levada que poderia ser de uma banda sueca alternativa lá da virada do século, tipo Perro Del Mar ou Kings Of Convenience, só que com mais bossa e mais ginga.

 

“Let’s Do It All Again” já tem um pedigree de soft rock de Los Angeles safra 1979. Parece um arranjo da banda que acompanhava James Taylor por aquele tempo, com pitadas sutilíssimas de jazz e um equilíbrio invejável, que se baseia nos vocais aveludados de Jennifer Souza, uma das maiores cantoras brasileiras que pouquíssimos conhecem. E “Childlike Vision” é uma canção de nítida têmpera folk, com violões dedilhados e a impressão de alguém que caminha pelo quintal, olha as montanhas e se entende como um diminuto ser. Na verdade, a canção foi feita sobre a sabedoria infantil, quase instintiva e pura, que vai sendo substituída por outras formas de saber e conhecimento. A canção é singela e com um arranjo muito belo, que privilegia as sutilezas, com ênfase no belo uso das cordas que, aliás, é uma das grandes características do álbum.

 

Gerado, composto, pensado e produzido num país abrutalhado e perplexo, o novo álbum do Moons é uma resposta de beleza, doçura e abraço em forma de música. É uma prova de que as sensibilidades são fortes e resistem, mesmo sob o peso de tanta coisa ruim. Ouça e se eleve.

 

Ouça primeiro: “The Will To Change”, “Let’s Do It All Again”, “The Will To Change”, “Childlike Vision”

 

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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