Rock In Rio – Resumão 11 de Setembro

 

 

E eis que o Rock In Rio 2022 chega ao fim. O último dia é aquele que tem a missão de encerrar os trabalhos com fecho de ouro, mas uma olhada nas atrações escaladas para tal façanha sugere o contrário. Exceto pela popstar inglesa Dua Lipa, não há um único nome com força suficiente para deixa uma ótima impressão no público. Digo isso, mas já adianto que tal fato não significa, necessariamente, shows ruins. O que tivemos foi um número elevado de apresentações insossas, absolutamente esquecíveis e sem qualquer apelo maior. Até o Palco Sunset, responsável por uma cota bacana de bons momentos, esteve caído neste dia 11 de setembro.

 

Após começar com uma apresentação forte de Liniker, com participação de Luedji Luna, o Sunset recebeu um tributo a Elza Soares, bem-feito e com boas participações, mas que se insere neste tipo de evento programado para o Rock In Rio, que é legal no papel, mas nem tanto ao vivo. Esquecível, ainda que bonito. A consistência sonora do Palco viria com a presença de Macy Gray, cantora americana que tem um público fiel no Brasil. Até hoje não entendi o motivo exato dessa admiração, por Gray não tem boa voz – pelo contrário – e tem uma postura esquisita em cena, que destoa da beleza e da intensidade da música pop negra. De qualquer maneira, a banda que ela trouxe era afiada o bastante para oferecer um bom show, com espaço para boas apresentações de “The Disco Song”, “Sexual Revolution” e até covers de “Creep”, do Radiohead, e “Do Ya Think I’m Sexy”, de Rod Stewart. Na abertura, mais uma homenagem a Elza Soares, com “A Mulher No Fim Do Mundo”. Macy fez um show ok e só.

 

Passando para o Palco Mundo, novamente tivemos a presença de Ivete Sangalo na sua qualidade habitual de tapa-buracos dos grandes espaços. Com um show padrão de axé estilizado para brancos de classe média, a cantora, apresentadora e produtora correu, sorriu, brincou, enfileirou uma série de canções esquecíveis de diferentes momentos e ainda chamou seu filho Marcelo para tocar piano e a acompanhar. Houve quem chorasse com o momento, mas Ivete sabe como ganhar seu público e dar a ele exatamente o que se espera. Se você quer um show sem uma centelha de criatividade, previsível, irritante e interminável, vá a uma apresentação da cantora baiana.

 

Em seguida, a cantora kosovar-inglesa Rita Ora apresentou o seu pop aguado para o público. E só. Recebeu a cantora Pabblo Vittar para um dueto sem sentido ninguém lembra que ela estava ontem mesmo no Palco Mundo do Rock In Rio. Muito melhor teria sido se a carioca Lexa, escalada para o Espaço Favela, estivesse numa melhor posição. Com um show furioso e cheio de sucessos funk pop, ela incendiou o palco e levou os fãs onde eles quiseram, uma belezura.

 

 

Depois de Ora foi a vez de Ludmilla encerrar as atividades do Palco Sunset e ela levou a sério a posição de headliner do último dia em seu palco e colocou a imensa plateia para dançar. Fez de tudo, enfileirando um monte de sucessos, incluindo as sensacionais “Onda Diferente” e “Verdinha”, com direito a manifestação política oportuna e uma performance vigorosa. A moça da Ilha do Governador é uma realidade. Já merece o Palco Mundo.

 

 

Falando no maior espaço do Rock In Rio, um dos piores shows da história do evento teve lugar. Megan Thee Stalion tomou o palco com uma trupe formada por bailarinos genéricos, um DJ de notebook Intel Celeron com um pendrive espetado e fez um show que pode ser visto melhor em qualquer periferia urbana do mundo. Com raps curtíssimos, chamando uma galera para rebolar no palco e, em seguida, chamando mais uma galera, Megan protagonizou o prêmio de Cachê Mais Fácil da edição 2022 do Rock In Rio. Parabéns para quem deu a ideia de trazê-la para o festival.

 

 

Por fim, Dua Lipa. Com banca de megastar mundial, trazendo um ótimo álbum no currículo – o sensacional “Future Nostalgia” – a inglesa tomou o Palco Mundo com uma banda muito afiada e o protocolar turbilhão de bailarinos e bailarinas, porém com uma diferença. Dua sabe cantar, sua banda sabe tocar e a parte musical de sua apresentação não foi colocada em segundo ou terceiro plano. O tempo todo era possível notar um ótimo baixista tocando, arranjos tecnopop dos anos 1980, menções à disco music setentista, ou seja, era um show de música. E a moça tem uma bela presença de palco, ainda que precise escolher melhor seus figurinos. O público foi nas nuvens quando Dua tocou “Physical”, abrindo a apresentação e seguiu no mesmo clima com “New Rules” e foi adiante com vários sucessos, como “Good In Bed”, “Boys Will Be Boys”, a cover de Elton John (com participação dele, em telão, “Cold Heart”, até o bis, com “Future Nostalgia”, “Levitating” e “Don’t Start Now”. Com Dua Lipa temos megashow, mas também temos música, em níveis iguais de interesse e performance. Garantiu seu lugarzinho na lista de melhores do festival.

CEL

Carlos Eduardo Lima (CEL) é doutorando em História Social, jornalista especializado em cultura pop e editor-chefe da Célula Pop. Como crítico musical há mais de 20 anos, já trabalhou para o site Monkeybuzz e as revistas Rolling Stone Brasil e Rock Press. Acha que o mundo acabou no início dos anos 90, mas agora sabe que poucos e bons notaram. Ainda acredita que cacetadas da vida são essenciais para a produção da arte.

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